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Vanderlei Testa

Dia dos Pais

Creio que o Dia dos Pais deste ano me levou a parar e a buscar o cordão umbilical da vida do nosso pai

09 de Agosto de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ARTE: VT )

Na véspera do dia do aniversário de Sorocaba, 15 de agosto, será festejado neste ano o Dia dos Pais. Se o primeiro evento nos remete às lembranças paternas, o segundo nos leva a brindar a cidade onde moramos ou nascemos. O meu pai, Ernesto, deixou como herança na minha vida uma história de sabedoria. Ela permanece guiando os meus passos diariamente, como ensinamento de integridade e respeito humano. Já parei para pensar em vários momentos, no silêncio e na paz de estar meditando, sobre o que motivou o menino Ernesto a cumprir a sua jornada neste planeta. Papai nasceu em uma colônia rural de plantação de cana de açúcar. Foi em 1910. Esta semana estive em Piracicaba visitando a única tia ainda viva de uma descendência de mais de vinte tios. Ela tem 96 anos de idade. Nasceu e foi criada no mesmo lugar onde o meu pai foi gerado. Ela é irmã da minha amada mãe, que casou e viveu o seu matrimônio por 60 anos junto a papai. Na conversa com a minha tia Etelvina, eu quis saber como era aquela vila de trabalhadores de boias frias onde os meus pais estavam incluídos. Foi emocionante reviver alguns momentos distantes no tempo, mas atuais no sentimento de amor que trago por eles. Creio que o Dia dos Pais deste ano me levou a parar e a buscar o cordão umbilical da vida do nosso pai. Ao escrever esta crônica, vejo em minha frente à fotografia do meu pai, ainda jovem, no serviço militar, com o seu uniforme bonito e quepe na cabeça. Era solteiro e namorava a minha mãe. Ele prestando o serviço militar em um quartel do Estado do Mato Grosso e ela morando na colônia rural. Cartas escritas e enviadas pelo correio faziam a comunicação entre eles. A foto de recruta enviada por ele em uma das correspondências leva a sua assinatura e as palavras que emocionam os enamorados: “Carmela, com amor por você”.

Os meus pais se casaram em Piracicaba, na Capela de São Pedro, no bairro Monte Alegre, e vieram morar em Sorocaba. Escolheram o bairro do Além Ponte para a primeira residência, na rua José Martins. Convivi com o meu pai por mais de cinco décadas. Sou muito parecido com o seu jeitão italiano. Até no andar, dizem que arrasto os pés como ele. Neste Dia dos Pais e, todos os dias da minha vida, eu elevo uma prece por sua vida tão repleta de amor e generosidade. Hoje, ao lado da minha mãe e dos meus três irmãos no céu e, espiritualmente em nossos corações, agradeço a Deus por sua paternidade.

Dia 15 de agosto é o dia de Nossa Senhora da Ponte, padroeira de Sorocaba. Há uma história centenária que remonta aos 368 anos da fundação da “terra rasgada” pelos bandeirantes. O meu pai, Ernesto, nasceu no dia 6 de agosto de 1910. Sorocaba tinha 256 anos quando ele veio ao mundo. Já se passaram 112 anos daquela madrugada fria, no parto do seu nascimento na pequena vila de trabalhadores de Monte Alegre. Piracicaba, na época, comemorava em 1º de agosto de 1910, os seus 143 anos. Cada vez que retorno à chamada “noiva da colina”, pela exuberância do seu rio com quedas d’água, fico “viajando no tempo” para relembrar os 12 irmãos do meu pai. E também, das oito irmãs da mamãe que nasceram naquela fazenda de cana de açúcar. Não havia o Dia dos Pais e os aniversários de vida das crianças, como contava o meu pai, passavam “em branco”, sem bolo ou qualquer manifestação. As facilidades financeiras e os costumes dos “parabéns a você” com guloseimas eram para os filhos dos donos das usinas e fazendas.

Os 35 anos como ferroviário na Estrada de Ferro Sorocabana foram a base do meu pai no sustento da família. O estudo dos filhos era a sua prioridade. Um homem de fé e de orações. Chorava nas emoções e sorria nas alegrias de abraçar os filhos e netos. O beijo no rosto quando cumprimentava os filhos é como aquele beija-flor que vai até o néctar buscar o seu alimento.

Reverencio aqui, o meu avô Ferrucio, pai da minha mãe, e o avô Giuseppe, pai do meu pai, que também serão lembrados no Dia dos Pais de 2022, com orações por suas descendências. A eles e a todos os pais dos leitores e leitoras, estendo as preces por suas vidas.

Feliz Dia dos Pais!

Vanderlei Testa ([email protected]) Jornalista e Publicitário escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul