Buscar no Cruzeiro

Buscar

João Alvarenga

Gato por lebre

22 de Julho de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ILUSTRAÇÃO: LUITZZ TERRA)

Tem cor de leite. Parece leite, vem numa embalagem igualzinha a do leite longa vida, mas não é leite! É a tal da bebida láctea que a indústria de laticínio colocou, recentemente, no mercado para fazer frente à alta do produto original, cujo preço, por razões obscuras, ultrapassou a casa dos R$ 5,00. A inovação chamou a atenção dos órgãos de defesa do consumidor, depois que muitas pessoas compraram o produto como se fosse leite e notaram a gritante diferença. A queixa é que de foram enganados.

Mas, por quê? Simples: estão oferecendo soro de leite como fosse leite, numa embalagem de leite, algo que a legislação caracteriza como fraude, pois o soro de leite é um subproduto do leite, sem valor nutricional principalmente para crianças. Antes, essa sobra era descartada pelo setor; mas, agora, é ofertada como alternativa para quem não pode comprar leite de verdade.

No entanto, não é á primeira vez que compramos gato por lebre. Como falta fiscalização e as multas são pífias, os golpes persistem. Talvez, o leitor não se lembre, mas já houve denúncias de adulteração desse produto com substâncias nocivas à saúde. Na época, o leite azedou, mas o assunto caiu no esquecimento. A falta de memória abre brechas para que setores da indústria tirem proveito da situação.

Alguns exemplos: o rolo de papel higiênico já chegou a medir 40 metros. Nem os mais antigos se recordam de quando foi que suprimiram 10 m desse item de higiene. Detalhe: reduziram o tamanho sem diminuir o preço. Como, na época, ninguém reclamou, a afronta tornou-se padrão. Também virou rotina a redução dos produtos alimentícios nas embalagens com o mesmo preço. A indústria farmacêutica adota a mesma estratégia. Não é de hoje que postos vendem gasolina batizada. Mas, nada acontece!

Tomara que essa “novidade” do setor de laticínio (que gerou esta reflexão) não se torne uma triste opção para os mais pobres, como já acontece com quem só compra carne de segunda, ou aproveita a xepa da feira, porque as sobras, em tese, são mais acessíveis.

João Alvarenga é professor de Redação e cronista