Celso Ming
Mais inflação nos Estados Unidos
Esta é uma paisagem que, por si só, gera incertezas que tendem a se espraiar também para a política e para a geopolítica
A quarta-feira (13) foi um desses dias em que a economia dos Estados Unidos tossiu e o resto do mundo pegou resfriado.
No caso, saiu a inflação de junho, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês). Saltou acima do esperado, 1,3% em relação a maio -- o que puxou a inflação em 12 meses para 9,1%, a mais alta desde 1981.
Sinais amarelos e alguns vermelhos foram acionados no mercado financeiro. Inflação mais alta do que a esperada chama mais juros. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) está sendo empurrado agora para uma política monetária mais agressiva, destinada a combater a alta de preços.
Juros mais elevados, por sua vez, tendem a contratar certo grau de recessão, o que, por sua vez, deve reduzir o consumo (e os preços) das matérias-primas e da energia. E isso pode não ser tudo, porque, se os juros, que são o preço do dólar, aumentam, as outras moedas tendem a perder força. Já era o que vinha acontecendo com o euro, que depois de 20 anos passou a ser negociado praticamente na base de 1 por 1 em relação ao dólar.
Essa desvalorização do euro puxa por outras consequências: na medida em que encarece os importados, fica encomendada mais inflação na Europa.
Não dá para contar com reações lineares porque outros fatores estão na parada. Há uma guerra em curso entre um grande produtor de petróleo e gás, a Rússia, e outro grande produtor de alimentos, a Ucrânia, dos quais a Europa é fortemente dependente e mais dependente ficou porque os aliados alinhados com a Otan impuseram sérias sanções à Rússia. Por essas e outras, alguma recessão já estava no horizonte europeu. Ela só não foi acionada porque o Banco Central Europeu vem relutando em aumentar os juros, pois não quer brecar a economia.
O quadro geral é ainda mais complexo. Não se sabe até onde vai a guerra e seus desdobramentos. E há a China que adotou uma política de Covid zero, seguida de lockdowns, que também pode desacelerar a atividade econômica da segunda maior economia do mundo.
Esta é uma paisagem que, por si só, gera incertezas que tendem a se espraiar também para a política e para a geopolítica. Mesmo que o Fed acione sua musculatura monetária, fica a dúvida sobre até que ponto a redução do volume de moeda na economia americana será suficiente para segurar a alta de preços, que é preponderantemente fruto de dois choques de oferta, a do petróleo e a dos alimentos, que respondem relativamente pouco a uma terapia de juros.
Uma temporada de valorização do dólar nos mercados pode produzir pelo menos efeitos diretos no Brasil -- que são os tais resfriados a que pode estar sujeita a economia: certa redução de fluxos de investimentos para cá e alguma desaceleração no faturamento de exportações de commodities. A conferir.
Celso Ming é comentarista de economia