Vanderlei Testa
Paulo Flávio e Santa Rita de Cássia
A sua tranquilidade espiritual, no entanto, o torna uma pessoa amada por seus colaboradores e amigos

Cinco anos usando o mesmo sapato, com consertos de meia sola para economizar e manter a empresa gerando empregos e sobrevivendo às “loucuras” da economia brasileira. Essa é uma das muitas histórias de determinação de Paulo Flávio de Melo Carvalho, o empresário de Sorocaba que construiu com recursos próprios o maior santuário da América Latina dedicado a Santa Rita de Cássia, na cidade de Cássia, Minas Gerais. Com área total de 180 mil metros quadrados e 100 mil metros quadrados de construção, o santuário foi inaugurado no dia 22 de maio de 2022 com a presença de milhares de devotos. Assisti pela televisão à missa de Sagração do Santuário, celebrada pelo bispo dom José Lanza Neto.
O início da construção, em 2018, deste quarto maior santuário do mundo tem a sua origem na vida do Paulo Flávio. Filho do casal Nair e Zezinho Bento, Paulo trouxe na sua formação cristã a devoção a Santa Rita, pois nasceu em Cássia. Sua mãe era uma das devotas que amavam a vida da santa canonizada em 1900, cuja história relata a vocação desde jovem.
Rita foi prometida em casamento por seus pais e, mesmo contrariada, pois queria ser religiosa, assumiu o matrimônio e teve dois filhos. Os filmes de Santa Rita mostram a trajetória da vida conjugal e as mortes do marido violento -- depois convertido -- e dos filhos durante uma peste na Itália. Viúva, Rita procurou o convento e mesmo não aceita, continuou a sua busca para ser uma das irmãs da congregação. O milagre da transposição de Rita ao interior do convento fechado fez com que ela fosse aceita como freira. Rita teve que cumprir ordens rigorosas para manifestar a sua fé e vocação. A mais incrível aos olhos humanos foi a sua atitude de regar diariamente um galho seco e sem vida durante um ano. Um dia, porém, a superiora viu folhas brotando e se convenceu de que havia a presença do Divino na vocação de Rita. Ao lado daquele galho que se tornou uma videira de uvas com os seus frutos exuberantes até os dias atuais, Rita plantou uma roseira. A pequena cruz de madeira nas mãos e a rosa fazem parte da vida da santa. E para mostrar a sua intensa entrega a Deus, Rita pediu que fosse colocada nela a chaga provocada pelos espinhos da coroa de Cristo. Assim, ela receberia esse ferimento na própria testa, martírio que a acompanhou até a morte, em 22 de maio de 1457.
Paulo Flávio rabiscou o projeto arquitetônico do seu sonho de construir o santuário. Com a participação de um arquiteto, conseguiu tornar realidade cada detalhe da sua criativa imaginação da obra inspirada pelo Divino que habita a sua alma cristã. Paulo adquiriu a imensa área no alto de uma colina, em Cássia, e durante quatro anos foi mensalmente acompanhar as obras. Ao ver o resultado final do complexo do santuário na sua inauguração, com toda a infraestrutura para receber milhões de peregrinos, senti que essa construção não é apenas advinda de recursos financeiros, mas de completa ação do Espírito Santo. Paulo Flávio comemorou os seus 72 anos afirmando que queria deixar a sua passagem neste mundo com uma semente frutífera de amor ao dom da vida que recebeu. Ele deixou neste seu gesto o testemunho de que o apego material para si não é a sua meta, mas sim, a de também partilhar os bens recebidos. Anualmente Paulo promove em Cássia a distribuição de milhares de quilos de alimentos. Em Sorocaba, também ajuda aos mais necessitados.
Nas suas várias empresas localizadas no Brasil e no exterior, juntamente com os filhos Roberto e Pedro, o empresário é reconhecido por sua generosidade e solidariedade para com as pessoas necessitadas. A trajetória de Paulo Flávio desde o seu primeiro emprego, com 19 anos de idade, em uma agência bancária, estudos na faculdade, dificuldades em conquistar a sua sobrevivência em anos de crise financeira, tanto na vida pessoal como na empresarial, trouxeram à tona um livro da sua autoria. “A história de um empreendedor” é o título escolhido pelo autor, que ensina, através da sua experiência, como os novos empreendedores podem superar obstáculos como os que ele mesmo venceu.
No pulso direito, Paulo carrega dois sacramentais da sua fé. Um cordão que trouxe de Cássia, da Itália, e uma imagem do Coração de Jesus, em pulseira de couro. A fé, segundo afirma Paulo é “quando você não tem dúvida daquilo que pretende alcançar”. Uma das afirmações da experiência adquirida nestes seus 72 anos de vida é que “a felicidade traz o sucesso, mas não é o sucesso que traz a felicidade”.
Paulo Flávio nasceu às 23h45 do dia 4 de junho de 1949 na Fazenda Palmital, em meio à natureza da pequena cidade mineira de Cássia. Paulo cresceu com a família nesse ambiente rural e por isso se tornou um defensor da ecologia. A sua tranquilidade espiritual, no entanto, o torna uma pessoa amada por seus colaboradores e amigos. Casado com a Marilia Carvalho, na Capela São Pedro, em 1977, considera-se um homem feliz e realizado com o presente que Deus proporcionou ao casal, os dois filhos abençoados.
Paulo Flávio veio para Sorocaba em 1979 para começar uma fábrica de blocos. Depois de vender esse negócio e passar por outras atividades, foi agraciado, em 1992, com a inspiração de abrir uma empresa de embalagens de alumínio. Um início marcado pela determinação de sair para vender diretamente aos lojistas com o seu próprio carro. Hoje, a Wida é o sonho realizado. É a maior fábrica da América Latina e a quarta do mundo em produção de embalagens. Agradecido pela família e pelo trabalho, Paulo investiu milhões de seus bens na concretização do Santuário de Santa Rita, a santa das causas impossíveis.
Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul