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Celso Ming

Os riscos da segurança energética

No Brasil, o risco à segurança energética não é de falta de petróleo, mas de excessiva dependência de importações de derivados

15 de Junho de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

Até que ponto o mercado do petróleo e as condições da segurança energética global mudaram “para sempre” com a guerra na Ucrânia, como muitos analistas têm advertido?

Primeiramente, os fatos. Os preços do petróleo mergulharam com o início da pandemia. O Brent chegou a afundar para abaixo dos US$ 20 por barril de 159 litros em abril de 2020, porque as medidas de distanciamento social, o trabalho em casa, a interrupção das viagens e a recessão econômica derrubaram o consumo.

A retomada da atividade econômica do mundo, a partir de 2021, começou a virar o jogo. Em maio deste ano, o consumo de petróleo, que havia recuado para 88,5 milhões de barris diários em 2020, voltou aos 100,3 milhões de barris, nível equivalente ao de antes da pandemia. Mas já a partir de final de fevereiro deste ano, a guerra na Ucrânia acentuou a escassez porque a Rússia, antes exportadora de 7,8 milhões de barris por dia, passou a sofrer o boicote dos aliados do Ocidente.

Os demais produtores não conseguiram suprir a oferta porque há alguns anos os investimentos em petróleo, que exigem longo prazo de maturação, encolheram por outro fator: pela decisão tomada pelos governos de acelerar a substituição de energia gerada por fontes fósseis pela gerada por fontes renováveis. É provável que o consumo cresça ainda mais, porque a China voltou a operar com força quase total.

A primeira incógnita que vai determinar o futuro da oferta e dos preços é o desfecho da guerra. Ninguém sabe quando terminará e, como apontou o colunista do “New York Times”, Thomas Friedman, os aliados não sabem quais são seus objetivos no apoio à Ucrânia e, por isso, não sabem até que ponto tolerar o avanço russo. O presidente da França, Emmanuel Macron, avisou que não se pode aceitar uma derrota humilhante de Putin.

Mas a guerra já produziu efeito importante. Mostrou que a Rússia não é fornecedor confiável e que é preciso acelerar ainda mais os investimentos em energia limpa. Esse é, por si só, fator que deverá manter os investidores em petróleo com o breque de mão puxado. Enquanto não ficar claro o jogo do pós-guerra, os preços enfrentarão a ameaça de voltar a despencar para US$ 50 por barril e de queimar rentabilidade dos produtores.

No Brasil, o risco à segurança energética não é de falta de petróleo, mas de excessiva dependência de importações de derivados. Como adverte o presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Eberaldo de Almeida, o risco maior é o de falta de investimentos em capacidade de refino. “Ninguém vai despejar US$ 10 bilhões para processar 400 mil barris por dia enquanto essa atividade estiver sujeita à intervenção nos preços dos derivados, como acontece por aqui”, observa ele.

Celso Ming é comentarista de economia