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Cibele Saad Rodrigues

Cigarros eletrônicos: demônios ou anjos?

Não bastasse tantos malefícios potenciais para o organismo, que são tanto maiores quanto maior a exposição, podem determinar explosões com danos materiais e sérias lesões às vítimas

18 de Maio de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Profª. drª. Cibele Saad Rodrigues.
Profª. drª. Cibele Saad Rodrigues. (Crédito: Divulgação)

Profª. draª. Cibele Saad Rodrigues

Os cigarros eletrônicos se caracterizam por ter sabores e aromas agradáveis que propiciam sensação de prazer e bem-estar. No entanto, estão muito longe de ser uma alternativa segura para aqueles que desejam se livrar do hábito do tabagismo. O pior é que parecem inofensivos à saúde!

Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs), ou cigarros eletrônicos, nada mais são do que vaporizadores, também conhecidos como e-ciggy ou e-cigar. Encontraram seu nicho de vendas principalmente entre grupos vulneráveis de crianças e adolescentes, e reacenderam entre profissionais da saúde, o debate sobre os males do tabagismo.

A indústria apresenta essa opção com possíveis “vantagens”: serem práticos, exibirem uma aparência visual tecnológica e não exalam aquele odor típico que impregna nas pessoas que fumam. Esses fatores levaram os cigarros eletrônicos a serem socialmente aceitos, especialmente em ambientes fechados. Com essa mistura de pérfidas conveniências, seus usuários não se considerarem fumantes, e os utilizam até com maior intensidade do que o cigarro comum. No entanto, o lado sombrio desse processo é que provavelmente a maioria dos jovens consumidores não saiba o que está bem escondido na inalação desse vapor com aroma agradável de menta ou de chiclete.

Pesquisas desenvolvidas até o presente momento revelaram que os dispositivos eletrônicos não são seguros e, uma vez inalados, expõem o usuário a substâncias classificadas como citotóxicas (causam toxicidade nas células); carcinogênicas (podem dar origem à cânceres); irritantes das mucosas e da pele; causadoras de doenças pulmonares crônicas como bronquite e enfisema pulmonar; e desencadeiam ou pioram doenças cardiovasculares. Não bastasse tantos malefícios potenciais para o organismo, que são tanto maiores quanto maior a exposição, podem determinar explosões com danos materiais e sérias lesões às vítimas.

Outro modismo entre jovens é o uso de narguilé, que tem como base o tabaco e, além da nicotina, contém monóxido de carbono e alcatrão, substâncias igualmente encontradas no cigarro tradicional. Se pensarmos que uma sessão de consumo de narguilé dura pelo menos uma hora, haverá situações em que o indivíduo consumirá o equivalente a 100 cigarros!

Outras formas alternativas ao cigarro tradicional, além do eletrônico e do narguilé, incluem cigarros aquecidos ou heets, vaporizadores com ervas secas e tabaco picados e, finalmente, produtos híbridos que reúnem esses dois últimos tipos.

Fumar nunca é bom, independente da escolha do método, e é um desafio difícil a ser suplantado, especialmente quando não se procura ajuda. Por isso, procure um médico que possa auxiliá-lo, caso esteja determinado a abandonar esse mal. É importante que saiba que se livrar do vício de fumar, que causa dependência, é algo de bom em qualquer idade, pois aumenta a qualidade e a quantidade de vida. Porém, quanto antes se toma essa decisão, melhor é.

É importante que o leitor saiba que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) está na fase final de elaboração do relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR) dos DEFs. E, embora proibidos no território nacional desde a publicação da RDC 46/2009, quando ainda não se conheciam seus malefícios, existe um grande lobby por parte da indústria interessada em sua flexibilização, sob as alegações de redução de danos quando comparados aos cigarros tradicionais e uma alternativa para quem quer se livrar do tabagismo.

Mas, precisamos nos perguntar: por que instituições sérias como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Instituto do Câncer (Inca), a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) e sociedades de especialidades médicas, entre outros, estão preocupadas e conduzindo abaixo-assinados para tentar evitar a liberação de consumo dos DEFs?

E, deixo aqui uma pergunta final ao leitor: quem é o único interessado em que esse mal, vestido de anjo, seja libertado?

A decisão sobre quão frouxa ou quão restrita será a regulamentação brasileira dos DEFs, que está na reta final, embora tenha interesse de gigantes, também é de cada um de nós e um dever com as gerações futuras.

Profª. drª. Cibele Saad Rodrigues, professora titular do Departamento de Clínica e da pós-graduação da FCMS/PUC-SP, coordenadora acadêmica do Hospital Santa Lucinda, mestre e doutora pela Unifesp