Júlio César Cardoso
Por que o Congresso não cassa mandato de político relapso?
O País carece de moralidade pública, principalmente no comportamento de nossos políticos. Apelar para quem?
A condescendência do Congresso com o comportamento não exemplar de muitos parlamentares demonstra cabalmente a sua negligência na tomada de posição em defesa da instituição.
O desgaste da imagem do Congresso diante da sociedade é fato insofismável. Mas isso pouco importa para os congressistas. Porém, deveria haver respeito dos parlamentares para com os contribuintes, pagadores de seus salários e mordomias.
Está na mídia “O deputado e pagodeiro Igor Kannário (PHS-BA) faz parte do grupo de parlamentares ‘invisíveis’, que pouco contribui para as discussões ou que se ausenta das decisões importantes. Com elevado índice de faltas, mesmo com a adoção do sistema remoto, Kannário não quis falar sobre sua atuação parlamentar”.
O País carece de moralidade pública, principalmente no comportamento de nossos políticos. Apelar para quem? É óbvio que o eleitor é exclusivamente o culpado por eleger pelo voto obrigatório qualquer mequetrefe.
Se no País o voto fosse facultativo, certamente, muitos desses políticos sacripantas não seriam eleitos. E por que os políticos são contra o voto facultativo? Eles não querem perder a oportunidade do cabide de emprego público que o voto obrigatório, imoral e antidemocrático, proporciona.
Na iniciativa privada, trabalhadores faltosos, relapsos, inassíduos -- como o referido deputado-- seriam demitidos. Por que, então, não se moraliza o Congresso? Renova-se o Congresso, mas a pouca-vergonha continua a mesma.
Por que os mandatos dos Igo Kannário e cia., que desrespeitam a seriedade do cargo, não são cassados? Não são cassados porque existem grupos de parlamentares que se identificam com políticos indecorosos, lamentavelmente, e não demonstram interesse republicano pela moralização da Casa.
Senador biônico, uma vergonha!
Temos hoje nove suplentes exercendo mandato de senador sem ter recebido um voto sequer. Outra vergonha! São eles: Alexandre Silveira (PSD-MG), Carlos Portinho (PL-RJ), Eliane Nogueira (PP-PI), Fábio Garcia (União-MT), Giordano (MDB-SP), Jean Paul Prates (PT-RN), Luiz do Carmo (PSC-GO), Mailza Gomes (PP-AC) e Nilda Gondim (MDB-PB). Essa indecência também não muda jamais e nem os senadores se preocupam em corrigir a nossa claudicante Constituição Federal.
Como o povo pode acreditar na seriedade do Parlamento diante de representantes que nem voto receberam? Qualquer cidadão que tenha domínio da razão infere logicamente que um representante legítimo do Parlamento tem que ter na retaguarda o correspondente voto eleitoral. Sem isso, é o império da imoralidade constitucional vigente a desrespeitar os princípios comezinhos da representação parlamentar.
Diante de tanta coisa importante que precisa ser revista para moralizar e gerar confiança da sociedade, o Senado e Câmara Federal perdem tempo e dinheiro público com picuinhas políticas, disputas de poder, interesses solertes etc.
Júlio César Cardoso é bacharel em Direito e servidor federal aposentado