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Fernando Carvalho Oliveira

Solução de economia circular

Tendo em vista a dependência externa dos minerais e a conjuntura que tem dificultado as compras internacionais e o câmbio, há espaço crescente para os insumos orgânicos

13 de Abril de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Fernando Carvalho Oliveira.
Fernando Carvalho Oliveira. (Crédito: Divulgação)

 

O fornecimento global de fertilizantes minerais, que já vinha enfrentando, devido à pandemia, dificuldades logísticas e de transporte, agravou-se em decorrência da invasão da Rússia à Ucrânia e das sanções econômicas do Ocidente a Moscou e à Bielorrússia. Para o Brasil, que chega a importar 85% do volume desse insumo utilizado por nossa agricultura, a situação é muito preocupante, incluindo a pressão sobre os preços dos alimentos e, portanto, a inflação. Nesse cenário, os fertilizantes orgânicos, que potencializam e aumentam a eficiência no aproveitamento dos nutrientes contidos nos fertilizantes minerais, ganham importância ímpar.

Em 2020, o mercado já apresentava sintomas do impacto da potencial redução da oferta dos fertilizantes minerais. Segundo a Associação Brasileira de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), o segmento de fertilizantes especiais cresceu cerca 24%, na comparação com o anterior. Neste ano, as vendas dos fertilizantes orgânicos, com grande parte obtida pela compostagem de resíduos, já haviam se expandido em 44,5% na comparação com 2019, passando de R$ 231 milhões para R$ 334 milhões. Considerando a elevada produção da agricultura brasileira, não só de alimentos, mas de importantes commodities, a demanda por fertilizantes em geral deverá continuar alta. Tendo em vista a dependência externa dos minerais e a conjuntura que tem dificultado as compras internacionais e o câmbio, há espaço crescente para os insumos orgânicos. Estes não substituem, mas potencializam os efeitos dos minerais, possibilitando a redução de sua taxa de aplicação com ganhos de produtividade.

Pesquisa recente da Abisolo aponta que o segmento fabricante de fertilizantes orgânicos e condicionadores de solo no Brasil tem como matérias-primas predominantes os resíduos da atividade agropecuária, representando mais de 56%. Isso demonstra um imenso potencial de crescimento na produção de fertilizantes orgânicos a partir do emprego de matérias-primas residuárias das atividades industriais e dos resíduos sólidos urbanos. Trata-se de um notório exemplo de economia circular, promovendo o tratamento de resíduos orgânicos diversos e reciclando nutrientes de planta e matéria orgânica, além de gerar empregos e impostos e evitar o aterramento de materiais com potencial de reaproveitamento na agricultura.

Os fertilizantes orgânicos compostos suprem parte significativa da demanda de nutrientes das culturas nas quais são empregados. Também contribuem muito para a melhoria das características químicas, físicas e biológicas dos solos, aumentando a eficiência e aproveitamento dos minerais, podendo complementar estes em até 50%. Tal proporção, porém, somente é atingida em situações no qual sua utilização é repetida minimamente durante três anos
subsequentes.

Em prazo mais curto, para atender a uma possível redução da oferta do insumo em decorrência da invasão da Rússia à Ucrânia, considerando a aplicação de cinco toneladas de fertilizantes orgânicos por hectare, na primeira aplicação deste já seria possível reduzir em até 30% a dose recomendada de minerais. Em mais longo prazo, considerando também o Plano Nacional de Fertilizantes 2050 anunciado pelo governo, é possível pensar numa substituição mais ampla dos minerais pelos fertilizantes orgânicos. Porém, a aplicação combinada sempre oferecerá maiores ganhos ao produtor.

De imediato, ante os problemas logísticos causados pela pandemia e, agora, os riscos de fornecimento decorrentes do conflito no Leste da Europa, os fertilizantes orgânicos podem contribuir bastante para a manutenção da dinâmica do agronegócio. É muito triste e lamentável, considerando os horrores da guerra, a causa atual do aumento de sua demanda. Porém, temos a oportunidade de consolidar seu uso contínuo, para evitar que futuros problemas, no complexo contexto geopolítico global, acarretem novas ameaças à agricultura brasileira, decisiva para nossa economia, exportações, segurança alimentar, criação de empregos e geração de renda.

Fernando Carvalho Oliveira é engenheiro agrônomo