Vanderlei Testa
O pantanal do Otávio Teixeira
Sua maior alegria era agregar amigos (...) Foi um advogado brilhante (...) Conquistou seu espaço pela competência na administração bancária em Sorocaba
O Otávio Teixeira amava o Pantanal e como um pássaro feliz voou à eternidade no dia 2 de abril de 2022. Os seus 83 anos de vida foram intensos na história de Sorocaba. Recebeu o título de Cidadão Sorocabano em 1998. Em 2004, a Ordem dos Advogados instituiu o troféu “Otávio Teixeira” para a competição realizada entre os membros da entidade que disputavam a modalidade de futebol de campo. Sua maior alegria era agregar amigos e, em especial, nas suas mensagens como as que eu recebia dele. O dom de manifestar sentimentos nas páginas da vida é uma das dádivas do Otávio Teixeira. Escolheu nos estudos a carreira jurídica. Foi um advogado brilhante e como diretor da Ordem dos Advogados do Brasil, Subseção de Sorocaba teve intensa presença na entidade.
Conquistou seu espaço pela competência na administração bancária em Sorocaba. Foi gerente do Banco São Paulo numa época em que as instituições financeiras valorizam o ser humano no contato pessoal com os seus clientes. Hoje tudo é virtual. Escritor, nato publicou seus artigos em jornais e livros. Foi editor da revista “Uma linda história de um Banco de São Paulo”. Curiosa a busca incessante do Otávio para encontrar uma cédula de 10 mil réis. Ele saiu à caça dessa nota antiga e quase desanimou pela ausência até entre os colecionadores. Inclusive pesquisou com pessoas na França. Quem salvou o Otávio Teixeira foi o engenheiro brasileiro João Marcos Quattrer. Por sorte -- ou coincidência --, o João soube do interesse do Otávio pela nota dos 10 mil réis. Disse que o seu pai tinha trabalhado 13 anos no mesmo Banco de São Paulo e o presenteara com uma cédula. Fico imaginando, ao descrever esse fato na vida do Otávio Teixeira, como ele reagiu ao receber o telefonema do engenheiro João Marcos oferecendo a cédula histórica. Vale destacar que o Banco de São Paulo emitia excepcionalmente papéis moeda por conta própria. Segundo Otávio Teixeira dizia, era um prolongamento da Casa da Moeda do Brasil.
Pescador e defensor da natureza, Otávio foi apaixonado pelas pescarias no Pantanal do Mato Grosso. Casado com a Fátima Teixeira, sua eterna incentivadora, com as filhas Márcia, Maristela e Mariluci, viu durante décadas brilharem as luzes que iluminaram o seu caminho de paz interior. Um dia, o Otávio Teixeira cruzou o meu caminho em um supermercado. Nós e os carrinhos de compras. Na conversa do corredor, alguns breves comentários do livro “Escritos”, de sua autoria. A inspiração para produzir e editar o livro nasceu das suas colaborações como assinante e leitor do jornal Cruzeiro do Sul. Ele reuniu dezenas de suas crônicas e teve a ideia de juntá-las numa obra para a posteridade. No dia 12 de abril de 1977 concedeu entrevista ao jornal e contou vários temas polêmicos, como a descriminalização de drogas e redução da maioridade penal que enviava ao debate público. As suas histórias tinham um pouco da natureza das viagens que fazia ao Estado do Mato Grosso para pescar. Falou dos jacarés e das aves que encontrou às margens do rio no Pantanal. Ele dizia da necessidade de haver equilíbrio da flora e fauna na região. Sobre os principais rios formadores, Otávio Teixeira citava o rio Cuiabá, São Lourenço, Piquiri, Taquari, Miranda, além do rio Paraguai, o de maior porte da localidade. O meu exemplar do livro de 84 páginas e 40 reflexões está guardado como relíquia. A delicadeza de sempre abre a obra. Sua gratidão ao saudoso Hélio Rosa Baldy, professor da Faculdade de Direito. Também no prefácio, o tributo ao mestre advogado e amigo Darcy Arruda Miranda. Segundo Otávio relatou no livro, o dr. Darcy foi um dos maiores civilistas que conheceu. José Elias Themer, juiz de Direito, citou na abertura do livro “a história de Sorocaba fica enriquecida com a publicação”.
O advogado Joel de Araújo foi presidente da OAB na gestão de 1998 a 2000. Ele destaca o saudoso amigo Otávio Teixeira, que foi tesoureiro em sua diretoria. “Um ser iluminado pela generosidade e amizade com todos”. Márcio Leme, advogado e atual presidente da 24ª Subseção da OAB/SP manifestou a tristeza da advocacia sorocabana pelo falecimento do amigo e companheiro da entidade em suas atividades. O advogado Etevaldo Queiroz Faria me relatou que nos idos de 1968 conheceu o Otávio Teixeira no Banco de São Paulo. Tempos depois teve a alegria de trabalhar com o Otávio em comissões da Ordem dos Advogados. No conceito do Etevaldo, o amigo Teixeira foi uma pessoa e profissional na advocacia, sempre agindo com polidez, respeito e ética.
Decidi homenagear um pouco de quem foi Otávio Teixeira e colocar no “anzol” a isca do capítulo “Histórias de uma vida qualquer”. Está na página 69 a relação triste e emocionante de sua adoção. Tudo começou no dia 12 de março de 1939. Na pequena Tabapuã, a mãe guerreira Valéria Braz dava à luz ao seu quinto filho, o menino Otávio Teixeira. Pelas circunstâncias da época, o Otávio foi criado por parentes a partir dos sete anos de idade. Passou momentos difíceis, citados no capítulo, mas que agora me fazem ainda mais reconhecer no Otávio o valor humano que admiro como exemplo que ele deixou aos amigos. Recentemente, doou 300 cestas básicas à Polícia Militar para serem distribuídas às famílias carentes da cidade. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, ele diz nos seus escritos que sonhava e pedia diariamente nas orações que gostaria de ter uma boa profissão e um nome de respeito. Conquistou as duas e mais outras. Chegou a gerente geral de banco em Sorocaba, foi um dos renomados advogados da cidade e conquistou uma linda família. As orações, certamente estão levando à sua alma a paz e a intercessão que ele mesmo fazia diariamente à sua mãe do céu para a saudosa mãe na Terra, Valéria Braz, e a todos da família.
Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul