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Vanderlei Testa

Oraci Morelli fez história na América do Sul

Oraci João de Vechi Morelli é um empreendedor que definiu a sua vida em uma frase no livro: "Ser simples é mais eficiente"

15 de Março de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ÁLBUM DE FAMÍLIA E ARQUIVO JCS / ARTE: VT)

Gosto de conhecer histórias de gente que são exemplos de vida. A providência humana e divina proporcionam os meios para que conheça novos episódios dos desbravadores de Sorocaba. Neste começo de ano ganhei um livro com uma história de sucesso dos 40 anos da família Morelli e, em especial do Oraci Morelli. Quem me presenteou foi a amiga Rosemeire Aparecida Guimarães Moraes, que trabalhou comigo na Siderúrgica Nossa Senhora Aparecida em um período que editava o jornal da empresa. Ela acompanha os meus artigos no jornal Cruzeiro do Sul e relatou: “Está ai uma boa história para as suas crônicas”. Fui ler o livro e fiquei impressionado com os detalhes contados pelo jornalista André Rosa de Oliveira. Oraci João de Vechi Morelli é um empreendedor que definiu a sua vida em uma frase no livro: “Ser simples é mais eficiente”.

A cada página da leitura fui revivendo também a minha história e descobri muitas coincidências com o Oraci e o início dessa empresa, considerada a primeira indústria do segmento dental de braquetes em toda a América do Sul. Nunca conversei pessoalmente com o Oraci, mas senti-me como se o conhecesse nestes 40 anos. Quando fui comprar a minha casa no Jardim Saira, em 1977, o vendedor da imobiliária me levou para ver várias áreas e casas nas alamedas Jundiaí e Bauru. Havia um grande terreno que ficava na esquina com a alameda Casa Branca e era atraente e isolado no alto do bairro. A decisão sobre segurança naquela época fez com que escolhesse uma casa pronta na rua Bauru, de propriedade do saudoso Felipo Malzone. Como esse terreno da alameda Jundiaí ficava no trajeto até o meu trabalho, na siderúrgica, o vi anos depois, em 1984, com obras, sem saber o que surgiria daquelas edificações. Mais uma coincidência que anotei do livro, é que o proprietário, Oraci Morelli, estava fundando ali a sua nova empresa de produção de braquetes, marcando o começo da indústria ortodôntica brasileira. Posso afirmar que acompanhei parte desse crescimento da empresa durante estes 40 anos, pois morei de 1977 a 2010 nessa casa e, posteriormente, até hoje, reside a minha filha e sua família. Ao passar pelas unidades da Morelli, que abrangem várias construções industriais, elevo meus pensamentos de gratidão a este bairro e pelos muitos empregos que a Morelli proporciona à cidade.

A família Morelli é de Tietê, cidade de descendência italiana. O patriarca, José Morelli, e sua esposa, Zenaide, um dia decidiram aportar em Sorocaba, numa casa alugada na Vila Santana, do bairro Além Linha. A Estrada de Ferro Sorocabana em seu apogeu na cidade, escolas e oportunidades brilhavam os olhos do seu José, que foi trabalhar em empresas de bebidas, entre as quais a Momesso, como prático em química na preparação da linha de produtos. A Zenaide cuidava da casa e dos filhos, entre eles o Oraci, com os seus doze anos. Uma marcenaria artesanal acolheu o menino como aprendiz. Aos 13 anos já estava em uma loja de consertos de relógios, praticando com delicadeza a arte das máquinas das horas. Um dia tudo isso iria se somar na fabricação das peças odontológicas que impulsionou a sua história.

O bairro Além Ponte, onde nasci, era formado por ruas homenageando a Espanha. Entre elas, a rua Sevilha, pertinho da fábrica de bebidas, facilitava a vida do José Morelli, que ia a pé até o barracão para trabalhar. Essa foi à segunda moradia da família Morelli. O Oraci vivia com os pais e queria se desenvolver em mecânica. Ele foi estudar no Senai de Votorantim. Pegava o bondinho no ponto da Parada do Alto e com foco no aprendizado, acumulava conhecimentos em aulas práticas nos tornos e fresas. Coincidentemente, também nessa idade participei do mesmo curso na Escola Gaspar Ricardo Junior, da EFS e fizemos concurso para professor do Senai.

O inicio da montagem da peça odontológica braquete, que abriu as portas ao êxito destas quatro décadas da Morelli sob a liderança do Oraci, se deveu às suas invenções de equipamentos adaptados que se encontram em um museu dentro da empresa e disponível aos visitantes. Entra aqui mais uma coincidência. O aço trefilado que iria dar forma ao projeto do Oraci não havia no mercado brasileiro para comprar em pequena quantidade. Uma empresa de Diadema é mais uma dessas coincidências da minha história que relato. A empresa fazia parte como unidade da Metalúrgica Nª. Sª. Aparecida. Eu frequentava nessa época, como funcionário, essa unidade de trefilaria que tinha na superintendência o engenheiro Jorge Dabori. Dos clientes de Sorocaba, havia um empreendedor que estava em busca de um aço fino especial para usá-lo em testes em um produto que poderia ser uma inovação no mercado odontológico. Lendo o livro, vejo que foram apenas 50 quilos adquiridos para esse fim. Foi uma exceção essa quantidade, pois a empresa só fornecia toneladas de aço. Nunca imaginaria que seria o Oraci Morelli, na sua incessante conquista da produção do braquete. Ele estava investindo o seu projeto no quintal da sua casa, na rua Sevilha. A experiência da juventude em serviços como relojoeiro facilitou a sua inspiração na minúscula peça de aço que conheci e fotografei esta semana no consultório do meu sobrinho dentista.

O antigo provedor da internet da Fundação Ubaldino do Amaral, Cruzeiro Net, foi o primeiro a hospedar o site da dental Morelli. Atualmente, as portas abertas aos profissionais, entidades e estudantes de odontologia de Sorocaba e de outras cidades do Brasil fazem parte da comunicação interativa com as novas gerações de profissionais. Mais de 15 mil estudantes já circularam na empresa. Ao pensar em escrever este artigo tive como objetivo homenagear o ser humano Oraci Morelli, abençoado com o dom da sabedoria e fortaleza. Uma vida motivadora a ser seguida pelo exemplo com a sua família, os pais, José e Zenaide, Odair, Angela, Sonia, Luzia e Antonio (foto).

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul