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Prof. José Ricardo Bandeira

A polícia que nós queremos

Isso se faz com melhores condições de trabalho (...) investimento em treinamento especializado, aquisição de equipamentos e tecnologias modernas, salários dignos

16 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Prof. José Ricardo Bandeira.
Prof. José Ricardo Bandeira. (Crédito: Divulgação)

Prof. José Ricardo Bandeira

Um tema que certamente divide opiniões e acirra os ânimos é a respeito da polícia. Qual nós queremos? Ou melhor, o que desejamos que o policial faça e como desejamos que ele se comporte?

Os mais radicais pregam a continuidade de uma polícia inclinada para o confronto, ou seja: uma polícia mais letal e com amplos poderes para a utilização de força letal. Diga-se de passagem que esse é o modelo utilizado nas grandes cidades do Brasil há décadas. É ele que nos fez chegar aos alarmantes números de criminalidade que vivemos hoje em dia. Não por culpa dos policiais, que cumprem o seu dever, mas por total despreparo dos governantes, que não elaboram políticas públicas de segurança eficazes e com embasamento cientifico para o combate à violência e à criminalidade.

Quando se fala em segurança pública, temos a polícia como a principal ferramenta utilizada pelos Estados brasileiros, em detrimento de outras ferramentas que poderiam ser implementadas. Além disso, por ser tão mal utilizada, essa ferramenta se desgasta e causa prejuízos a sociedade e ao policial que tenta cumprir o seu papel.

Ao pensarmos em políticas públicas de segurança, se faz necessário, antes de qualquer outra medida, pensar em melhorar a polícia que temos hoje. E isso se faz, primeiramente, com melhores condições de trabalho para o policial, com acomodações e alojamentos dignos, investimento em treinamento especializado, incentivo para o estudo continuado, aquisição de equipamentos e tecnologias modernas, salários dignos e compatíveis com o exercício da atividade policial, plano habitacional que permita ao policial não residir próximo a áreas de risco e, logicamente, uma legislação adequada.

Sem essas medidas e sem a elaboração de uma política pública que pode resultar na elaboração de um planejamento da segurança -- que seria, nada mais nada menos, do que implementar medidas efetivas de combate à violência e à criminalidade --, continuaremos enxugando gelo, em detrimento da morte de centenas de policiais por ano em todo o Brasil.

Essa política pública de gestão da segurança deve passar também por amplas e maciças campanhas de conscientização da importância do trabalho policial, aproximando a polícia da sociedade, fazendo com que a população admire este profissional (assim como ocorre em outros países) que coloca a sua vida em risco para garantir a segurança do cidadão. Cidadão este que, sequer, ele conhece. No Brasil não temos. ao menos, a dignidade de dar um simples bom dia ao policial. Geralmente, agimos como se aquele homem fosse invisível... ou, pior, um mal necessário.

Portanto, para que tenhamos a polícia que nós queremos, precisamos também ter a sociedade que nós queremos. Assim, nos livraremos da hipocrisia social de mandarmos o policial para o combate com “licença para matar”. Os policiais são apenas um reflexo da sociedade que ora os idolatra, ora os crucifica.

O professor José Ricardo Bandeira é perito em Criminalística e Psicanálise Forense, comentarista e especialista em segurança pública. Presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina, presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais, membro da International Police Association e presidente da Comissão de Segurança Pública da Associação Nacional de Imprensa.