Mário Eugênio Saturno
Sobre termelétricas, ônibus e caminhões
Muito se pode melhorar, por exemplo, substituindo gás, óleo e carvão por biogás de esgoto e lixo, biodiesel, e pellet de resíduos de madeira e cana

Os países do primeiro mundo banirão veículos a gasolina e a diesel em alguns anos. No Brasil, há algumas iniciativas para reduzir o consumo de combustíveis fósseis, mais por causa da poluição. Por exemplo, o município de São Paulo tem uma lei (16.802/2018) estabelecendo que os veículos que atendem o transporte público devem reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) em 50% no prazo de 10 anos e 100%, em 20 anos.
E ainda há uma instituição financeira do Governo do Estado de São Paulo, o Desenvolve SP, que financia projetos de inovação e sustentabilidade com juros competitivos e longos prazos para pagar, além de Fundos Garantidores. Também há financiamentos federais.
Como se vê, até os vereadores podem atuar nesta área. Mas creio que deveríamos ser mais ousados: ônibus e caminhões novos deveriam ser todos híbridos até 2027. Essa medida traria uma economia de cerca de 30% no consumo de diesel ao País, 95% a menos de material particulado na atmosfera e 30% a menos de gás carbônico.
E os custos não são proibitivos, como mostra o estudo “Avaliação Internacional de Políticas Públicas para Eletromobilidade em Frotas Urbanas”, de 2018. O estudo informa que para cumprir a legislação é preciso que os mais de 14 mil ônibus da capital paulista sejam substituídos para usar o diesel P7. Estimou-se que o custo dessa substituição, incluindo infraestrutura e operação, é de R$ 18,2 bilhões. Mas, se substituir os ônibus por híbridos, o custo cai para R$ 17,6 bilhões.
A Pacific Gas & Electric, instalada no Norte da Califórnia, mostrou um ganho adicional. Investiu 33% do orçamento anual da frota (100 milhões de dólares em cinco anos) em veículos leves e caminhões elétricos. Constataram que a eletrificação reduziu os custos operacionais e aumentou a vida útil do veículo, além de reduzir as emissões de poluentes.
Outro grande problema relacionado a combustíveis fósseis são as usinas termelétricas. Foram importantes para que o País não colapsasse, mas é preciso extrair mais dessas fontes ultrapassadas, poluentes e caras de energia. Em uma consulta aos sites governamentais, observa-se que as principais termelétricas nem geram tanta energia assim. Por exemplo, a Termelétrica Cuiabá I (MT) gera uma potência de 470 MW, a Norte Fluminense (Macaé, RJ), 740 MW, a Uruguaiana (RS), 480 MW e a Araucária (PR), 410 MW.
Todas essas termelétricas com infraestrutura para levar energia elétrica aos consumidores são um grande desperdício de dinheiro quando não são usadas. Deveriam associar a elas outras fontes de energia como a solar ou eólica ou, até mesmo, pequenas hidrelétricas que utilizariam toda a infraestrutura e as termelétricas somente complementariam a demanda que a infraestrutura suporta.
O Brasil tem hoje instalado em termelétricas a gás 15,3 GW e está prevendo para 2026 19,9 GW. Em termelétricas a óleo, projeta ampliação de 4,3 GW para 4,7 GW. Já no âmbito das termelétricas a carvão, prevê manter os atuais 3 GW.
Muito se pode melhorar, por exemplo, substituindo gás, óleo e carvão por biogás de esgoto e lixo, biodiesel, e pellet de resíduos de madeira e cana. Grandes oportunidades ao alcance dos senadores, deputados e vereadores.
Mário Eugênio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano