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Vanderlei Testa

Everaldo, 92 anos, é o mais antigo barbeiro de Sorocaba

O mesmo barbeiro estava lá sendo fotografado por mim, depois de 64 anos, cortando o cabelo do Paulo, neste mês de fevereiro de 2022

15 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: VANDERLEI TESTA / ARQUIVOS VT)

Vanderlei Testa

O último artigo da série de barbeiros levou-me ao Everaldo Lázaro, de 92 anos de idade, o mais antigo em atividades em Sorocaba. Fui ao seu salão montado na garagem da sua casa, na rua Capitão Grandino 342. Um senhor tão forte quanto à sua proposta de vida e que passa sete décadas ao lado da sua cadeira de barbeiro.

Ele nasceu no Estado de Sergipe. Quando partiu do Nordeste, aos19 anos, para buscar trabalho em São Paulo, Everaldo que, nunca tinha ouvido falar de Sorocaba, acabou por vir morar nesta cidade. Curioso e atento, o jovem Everaldo teve a sua primeira oportunidade de estar aperfeiçoando o ofício de barbeiro no salão do Manoel, em 1951, na rua Santa Clara. Depois, trabalhou no salão do Telles, na rua da Penha. O salão Odeon foi a chance, em 1953, que agarrou e nunca mais o deixou nestes 71 anos ininterruptos de profissão.

Entre os seus clientes, os saudosos dom Aguirre, monsenhor Francisco Antônio Cangro, “padre Chiquinho”, Otto Wey Neto, professor Milton Marinho Martins, João Peres e Juvenal de Campos. As primeiras pessoas que me contaram do Everaldo foi o Paulo Mendes e o Mário Ayres. Mário relatou que seu pai, Roberto Luiz Ayres, é cliente e amigo do Everaldo há mais de seis décadas. Roberto era ainda estudante de direito quando fez o primeiro corte de cabelo no salão da rua Dr. Braguinha, onde o Everaldo trabalhava. Aposentado, Roberto continua frequentando o salão do amigo e barbeiro da juventude.

Essa fidelidade ao Everaldo também foi compartilhada pelo Paulo Francisco Mendes. Segundo me relatou -- enquanto cortava o cabelo com Everaldo no dia em que fui entrevistá-lo --, em 1958, aos 10 anos de idade, o seu pai o levou no salão Odeon. O mesmo barbeiro estava lá sendo fotografado por mim, depois de 64 anos, cortando o cabelo do Paulo, neste mês de fevereiro de 2022.

Everaldo é viúvo da sorocabana e descendente de espanhóis, Josefa Parra. O casal teve seis filhos. Com o jornal Cruzeiro do Sul nas mãos, estava lendo o artigo sobre os barbeiros antes do corte do Paulo.

O menino Marcos Rogick morava no centro da cidade e seu pai o levava no salão Odeon. Eles iam a pé atravessando a praça Cel. Fernando Prestes e desciam até a rua Braguinha. Marcos conta uma curiosidade: “Eu era pequeno, tinha que colocar uma tábua na cadeira para ficar na altura para o Everaldo cortar o meu cabelo”. Na rua Cel. José Tavares, ao lado do Theatro Alhambra, havia o barbeiro Dito, conhecido como “O fino da tesoura”. O Oscar Thomé Junior relatou que o Dito cortou o cabelo do seu pai, avô e o dele, na sua infância. Era o famoso corte bodinho que a maquininha puxava o cabelo e doía muito. O Erivaldo Gomes citou na pesquisa: Eu cortava na barbearia do seu José Polido, na rua Quinzinho de Barros.

José Francisco Romero ia ao barbeiro Cafisso, na rua. Nogueira Padilha. Sônia Maria Gonçalves frequentava o salão da Diná, na rua Brigadeiro Tobias, e da Antonieta, na rua São Bento. O Antônio Carlos Sartorelli contou que frequentava o salão do Lotério, na Pracinha da Vila Jardini. O Sidney Haro Firmo ia ao salão Carreteiro, na rua Cervantes. O José Carlos Gil destacou os barbeiros Mário e o filho Edson Gambacorta. O José Eduardo Prestes cortava no Benedito (Ditinho) e seu filho Osvaldo, na esquina da rua Catalunha. O Edinei Pereira Amaral disse: “O meu barbeiro era o Elezier, na rua Nogueira Padilha”.

Milton Gori trabalhava na fábrica de tecidos Santa Maria e se lembra do salão do Donaldo, na rua Santa Maria e do Emiliano, na rua Tereza Lopes. Saudades da infância e juventude levou o Edson Rubens Santos a escrever: “O seu Sílvio já era um senhor de idade, cortava o cabelo fumando em um salão minúsculo, raspava com a navalha sempre atrás da orelha e passava uma pedra na pele para parar de arder. Na periferia era praticamente o único que fazia isso”. “Pensando nele, deu uma grande saudade e gostaria de saber se ele está vivo”, disse. O Oswaldo Junior cortou cabelo no Zé Roque, do Largo do Divino. O saudoso fotógrafo Lima Duarte era barbeiro em Itapetininga e cortava o cabelo do menino Antonio Labrunetti. O Ailton Lanzar citou: “Quando criança, eu morava na rua Profesor Toledo e cortava com o barbeiro Berto, na avenida Afonso Vergueiro, em frente ao peladão do Scarpa.

O Horácio Cenci Antunes citou o Osvaldo Caos, do Salão na rua da Penha. Moacir Vigari se lembra do Paschoal, da rua Tereza Lopes. O Beda, pai da Marisa Oliveira, tinha fila para cortar cabelo com ele. Enquanto aparava a barba e cabelo, o Beda ouvia os canários no salão e sempre assobiava com eles para os clientes sentirem-se felizes. Maria Aparecida Zambianco, a “Cidinha do salão Estilo Z” atua há 18 anos como cabeleireira na Vila Progresso. Ela ainda atende vários clientes desde que começou modestamente, na sua casa, em 2004, após curso de cabeleireira no Serviço Nacional do Comércio (Senac). Ela se orgulha da profissão e de estar em seu salão próprio, que montou em um confortável espaço na rua Artur Bernardes.

Na Vila Santana, depois de ter o seu salão na Vila Hortência, o barbeiro Vavá, com 65 anos de profissão, ainda corta cabelo no salão do Irineu, na Vila Santana. Vavá tem 80 anos de idade e, depois do Everaldo, é o segundo mais antigo da cidade em atividade.

E encerrando esta série dos barbeiros, cito o barbeiro Xisto (Darci Paula Santos), da rua XV de Novembro, vizinho da loja Del’Osso. Ele cortava o cabelo do saudoso comerciante Elias Antônio José, contou Paulo Roberto Jorge Alves. O Xisto deixou saudades tendo cortado o cabelo de centenas de sorocabanos durante mais de 50 anos. Era uma pessoa alegre e torcedor do Corinthians.

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul