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Mário Eugênio Saturno

Telescópio espacial James Webb

Os militares querem que o Inpe construa um radar igual ao dos argentinos, mas não conseguem verba

01 de Fevereiro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Mário Eugênio Saturno
Mário Eugênio Saturno (Crédito: Divulgação)

Mário Eugênio Saturno

 

Galileu construiu um telescópio baseado nas instruções de um ex-aluno, apontou para os corpos celestes e revolucionou o mundo. Já escrevi sobre o Telescópio Espacial Hubble e o grande progresso que ele nos trouxe. Agora, estamos em um novo nível de evolução, o Telescópio Espacial James Webb foi lançado em 25 de dezembro de 2021, no Centro Espacial de Kourou, na vizinha Guiana Francesa (pois é, a França é nossa vizinha e também tem sua floresta amazônica).

A primeira grande novidade deste telescópio é que ele não ficará em órbita da Terra, mas além da Lua, na sombra da Terra, distando 1,5 milhão de quilômetros, em um local de órbita estável conhecido como Ponto de Lagrange L2 (a Lua orbita a Terra a uma distância de aproximadamente 385 mil quilômetros). O James Webb levará cerca de três meses para atingir a sua órbita final.

Em 1765, o matemático Leonhard Euler estudou as equações gravitacionais e descobriu os três primeiros pontos, L1, L2 e L3, que formam uma linha reta, a mesma entre a Terra e o Sol. L1 fica entre a Terra e o Sol, a cerca de 1,5 milhão de quilômetros da Terra. L2, conforme explicado antes. E L3 é o ponto único, do outro lado do sol, não na mesma distância do sol, porque a gravidade da Terra sutilmente puxa o sol.

Em 1772, outro matemático, o Joseph-Louis Lagrange, percebeu que existiam dois pontos adicionais, chamados L4 e L5. Eles estão localizados na órbita da Terra (ou de qualquer outro corpo celeste), com L4 um pouco à frente e L5 um pouco atrás. L4 e L5 são mais estáveis, podem puxar gás, poeira e objetos ainda maiores. Os astrônomos descobriram pelo menos dois asteroides no L4 e L5 da Terra. Outros pares sol-planeta também capturaram objetos nesses pontos. Os pontos L4 e L5 de Júpiter abrigam grupos inteiros de asteroides, conhecidos como troianos (homenagem à guerra de Troia de Homero), que a sonda Lucy da Nasa visitará.

O James Webb é diferente do Hubble. Em primeiro lugar, ele é maior do que o Hubble, consegue captar bem mais luz e enxergar mais longe. O seu espelho primário tem 6,5 metros de diâmetro, quase três vezes maior do que o do Hubble, mas a área do espelho é quase 60 vezes maior. Depois, o James Webb só enxerga no infravermelho. Esse tipo de radiação quase não é visível para o Hubble, que só enxerga uma faixa limitada dele, a luz visível e a radiação ultravioleta. Em outras palavras, são complementares.

A vantagem é que as galáxias, quanto mais distantes elas estão, por causa da expansão do universo, mais vermelhas ficam. Isso fará com que o James Webb olhe mais para trás no tempo, as primeiras galáxias que se formaram no início do universo, há cerca de 13,8 bilhões de anos luz.

O James Webb custou cerca de US$ 10 bilhões e é um exemplo do investimento espacial em ciência e tecnologia. A Argentina já construiu quatro satélites de cerca de US$ 200 milhões. Os militares querem que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) construa um radar igual ao dos argentinos, mas não conseguem verba. A mesma luta de cientistas do Inpe que sonham em um satélite no L1 para estudar o sol, também desse valor. Por enquanto, 4 x 0 para a Argentina. Precisamos alertar nossos deputados e senadores.

Mário Eugênio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano.