Marcelo Augusto Paiva Pereira
Vetores do crescimento e transporte urbano
A estratificação é motivada pela renovação imobiliária, enquanto a modificação é motivada por migrações internas
Marcelo Augusto Paiva Pereira
Desde o surgimento dos primeiros povoados, paróquias e vilas, as cidades delas decorrentes e outras mais recentes têm surgido, com ou sem projeto urbanístico.
Em relação às mais antigas, como é exemplo Sorocaba, surgiram e cresceram em razão das entradas abertas pelos bandeirantes (Baltazar Fernandes, por exemplo), as quais definiram as rotas de desbravamento do País (séculos XVII e XVIII) e também serviram de vetores do crescimento urbano.
Cada vetor é uma rota e deu causa ao crescimento personalizado e o conjunto deles compôs as diferentes tipologias urbanas e arquitetônicas (edificações). À luz da arquitetura, necessário ler a cidade em suas elementares (edifícios históricos, atuais, localização, influência etc.). À luz do urbanismo, causam a estratificação do espaço e modificação da tipologia urbana.
A estratificação é motivada pela renovação imobiliária, enquanto a modificação é motivada por migrações internas, depósitos de entulhos convertidos em parques, galpões industriais destinados a outros usos, rodovias convertidas em avenidas e avenidas de uso e de passagem.
Quanto a estas, formam o paisagismo de utilização e de passagem, pelo qual no primeiro há menor velocidade de trânsito e há vagas de estacionamento nas ruas, enquanto no segundo há maior velocidade de trânsito, sem haver vagas de estacionamento nas ruas.
Do conjunto de vetores resultam os usos e fluxos, melhor localização, conflitos e gestão. Os usos se reportam à habitação, lazer, cultura, turismo, comércio, serviços e indústria; os fluxos indicam a intensidade dos usos urbanos e se distribuem em internet, telefone celular, comunicação, transporte e sistema viário. A melhor localização trata dos trechos urbanos e da tipologia imobiliária (função dos edifícios).
Os conflitos abordam a sujeira, mau cheiro, saneamento básico, falta de manutenção, comércio informal, morador de rua e segurança. A gestão contém a segurança pública e os serviços urbanos, dos quais o transporte público faz parte.
Todo esse arcabouço, resultante dos vetores do crescimento urbano, definiu as rotas de maior e de menor intensidade de uso e da tipologia dominante (habitação, comércio, indústria etc.), ainda que atualmente haja legislação pertinente ao zoneamento das cidades.
O projeto e implantação de rotas de transporte público por toda a urbe dependem do exame dos vetores para se conhecer a necessidade de transporte em cada vetor (ou rota) e indicar as conexões mais adequadas.
Causarão nova estratificação do espaço e nova modificação da tipologia urbana, ao introduzirem espaços arquitetônicos destinados às conexões e aos abrigos para os usuários, e urbanísticos destinados às faixas exclusivas e às áreas de paradas de ônibus.
Em suma, o projeto e implantação de rotas de transporte público dependem do exame dos vetores do crescimento urbano para atribuir a cada rota a prestação de serviços mais adequada às necessidades da população e deverão ser condizentes com o espaço a intervir, na medida dos fluxos e na razão dos usos, melhor localização, conflitos e gestão. Nada a mais.
Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista