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Contemplando o presépio: os anjos

Artigo escrito por Dom Julio Endi Akamine

26 de Dezembro de 2021 às 00:01
Dom Julio Endi Akamine
Dom Julio Endi Akamine (Crédito: Manuel Garcia (11/7/2019))

 

É comum colocar um anjo no topo da árvore de Natal ou acima do presépio. Às vezes, esse anjo é substituído por uma estrela que é uma clara alusão à estrela de Belém surgida no Oriente para guiar os reis magos até o menino Jesus. Também essa estrela, no entanto, é um símbolo do anjo. Segundo a interpretação dos santos padres Ambrósio e Agostinho, os anjos foram criados no primeiro dia, quando Deus disse: “Haja luz” (cf. Gn 1,1.3-4). Para eles, essa “luz” é o reino dos espíritos puros. De fato, não se deve esquecer que a luz física -- os luzeiros no firmamento do céu -- só é criada depois, no quarto dia (Gn 1,14-19).

Os anjos estão presentes no presépio porque o Natal é descrito pelos Evangelhos como uma explosão da atividade angélica na terra. Conforme Lc 2,8-12, um anjo do Senhor apareceu a alguns pastores que estavam nos arredores e lhes anunciou a boa nova do nascimento de Jesus na cidade de Davi. E, de repente, se juntou uma multidão do exército celeste, que louvava Deus e dizia: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados”. No céu, a multidão dos anjos adora a Deus em louvor eterno e espiritual. O que os anjos já faziam no céu desde toda a eternidade, por causa do nascimento de Jesus em Belém, eles o realizam também na terra. Com o nascimento de Jesus, aquilo que os profetas do Antigo Testamento tinham visto acontecer nos céus agora acontece aqui na terra. Aquilo que os anjos realizavam (adorar Deus) no Santo dos Santos, no interior do templo, agora o fazem no vilarejo de Belém.

O presépio revela de maneira visual a grande transformação da relação entre os seres humanos e os anjos. Antes da encarnação do Verbo, quando os anjos apareciam na terra, a reação do ser humano era a de se prostrar por terra. Assim fizeram Lot (Gn 19,1), Balaão (Nm 22,31), Manué e sua esposa (cf. Jz 13,20), Daniel (Dn 8,17; 10,9). Com efeito, ao longo de todo o Antigo Testamento, a conduta normal e esperada da pessoa humana diante da aparição de um anjo era o do terror religioso, do temor e do assombro.

Com a encarnação do Verbo a relação muda: quando Gabriel aparece a Maria, ela fica claramente perturbada, mas o Anjo se dirige a ela de maneira reverente, como um cavaleiro se dirigindo à sua rainha; José também não parece assustado diante das aparições em sonho; há quase uma familiaridade entre eles.

É o nascimento de Cristo em Belém que faz toda a diferença. Contemplando o presépio, podemos ver que agora os anjos se prostram diante do menino Deus e o adoram deitado na manjedoura assim como nós. Os anjos se prostram diante daquele que é ao mesmo tempo inferior e superior a eles; não se negam a adorar o homem que não deixou de ser verdadeiro Deus. O Verbo realmente veio ao mundo, e todos os anjos de Deus o adoram reclinado na manjedoura!

Para a Sagrada Família, os anjos exercem o importante papel de ser guias e protetores: estão envolvidos na escolha do nome do bebê (Lc 2,21); avisam José sobre o plano de Herodes para matar Jesus (Mt 2,13); conduzem na fuga para o Egito (Mt 2,13-14) e revelam sobre quando é seguro voltar do exílio (Mt 2,19-21).

O presépio nos auxilia a experimentar essa proximidade dos anjos em nossa vida. Se até Jesus, Maria e José precisaram da ajuda sobrenatural, quanto mais nós, que tropeçamos constantemente por causa de nossas limitações e pecados. A boa notícia do presépio é que nós temos ao nosso alcance todo o exército da corte celestial em nosso favor.

A principal atividade do anjo é adorar Deus. Em todas as suas atividades de mensageiro, guia e protetor, ele sempre está em adoração a Deus. Diante do presépio tomemos consciência de que onde estiver Deus, lá os anjos estão presentes em adoração, de que onde dois ou mais estiverem reunidos em nome de Cristo, aí os anjos estão presentes adorando o Homem Deus.

Os anjos do presépio são um sinal de que Deus está presente entre o seu povo por meio de Jesus Cristo (Mt 1,23). Em nenhum presépio pode faltar o anjo, porque não se pode narrar fielmente a história do Natal sem a presença dos anjos. A presença da imagem de um ou mais anjos no presépio é uma forma plástica de nos revelar que os anjos estão próximos de nós. Nós podemos interagir com os anjos, porque eles estão presentes para nos ajudar, guiar e proteger.

A palavra “anjo” significa mensageiro. Na Sagrada Família, ele age ajudando na comunicação. Diante do presépio, peçamos que os anjos nos ajudem a nos comunicar em família com respeito, com gentileza e com amor.

Dom Julio Endi Akamine é arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba.