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A arte de envelhecer

Artigo escrito por Edgard Steffen

25 de Dezembro de 2021 às 00:01
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Envelhecer é um processo extraordinário em que você se
torna a pessoa que sempre deveria ter sido. (David Bowie)

</TEXT-BK>Desconforto de envelhecer é ver os amigos partirem e você nada pode fazer. Nestes anos de Covid-19, perdi vários colegas sem que pudesse levar o conforto de um abraço às respectivas famílias. Acabo de saber que Manoel Gomes Troya (Piracicaba) já não está entre nós. Dos 51 que ingressaram, e dos 39 que se formaram, na primeira turma da Faculdade de Medicina de Sorocaba restam Antônio Jordão de Barros (Redenção, Pará), Daise Fávero (Itu) e Diana Tannos (Sorocaba). Não sei do Ernst Emmanuel Khan; parou de responder aos meus e-mails.

Zapeando no You Tube encontrei grupo de idosos sendo treinados para enfrentar o envelhecimento. Orienta-os a doutora Ana Cláudia Quintana Arantes. Sincera e franca, quase contundente, a jovem senhora compara a velhice ao Saara, onde sol e calor são inclementes durante o dia, e o vento gela peles e ossos na escuridão da noite. Sobrevive quem está preparado. Pincei alguns conceitos emitidos pela geriatra. Vamos a eles.

“O único jeito de você não envelhecer é morrer cedo” (sic). “Procure ser um cara legal, agradável; receba e ofereça afeto” (sic). Se você continuar vivo, um dia perderá a autonomia (capacidade de tomar decisões) e a independência (capacidade em colocar decisões em prática). Se o envelhecimento transformar você num mala, que seja “de rodinha”. Seja fácil de ser conduzido. Prepare-se para não ser mala sem alça.

Consuma alimentos saudáveis e faça exercícios compatíveis com sua capacidade física. Aprenda e execute atividades novas; não vale fazer sempre as mesmas coisas. Parêntesis: apreender é gostoso. Prazerosamente, estudo italiano pela internet.

Segundo a geriatra da USP, música faz bem à saúde, porque entra para nosso cérebro por uma região imune ao Alzheimer. No cardápio internético você encontra todos os gêneros de música. Não precisará ficar preso ao lixo que encanta as novas gerações (e que pra você não tem significado).

Cantar também é bom. Fortalece as cordas vocais e os músculos da garganta. Você vai precisar deles para a deglutição e para falar com clareza. Novo parêntesis. Tony Bennett nem parece estar com o “alemãozinho caduco”. Enquanto os cantores de sua geração aposentaram ou morreram, ele continua ativo. Artista plástico, assina seus quadros como Antonio Benedetto. Atualizou seu repertório e participa de parcerias com modernos cantantes. Em 2011 gravou “Body and Soul”, com Amy Winehouse -- última gravação da talentosa cantora. Em 2016 estrelou “Cheek to cheek” dividindo o palco com Lady Gaga. Sucesso de audiência e de crítica. Em 2021, aos 95 anos, repetiu a parceria e lotou o Radio City Music Hall (NY, USA). O show resultou num disco campeão de vendas. Vestido a caráter, microfone na mão, o nonagenário solta a voz, lê as partituras e, com alguma dificuldade, consegue até nomear os músicos da orquestra.

Tony Bennett é o tipo do cara legal. Encanta quem o rodeia. Aos 94 anos, quando lhe informaram estar com Alzheimer, pontificou: “Life is a gift, even with Alzheimer”. Isolado em seu apartamento com vista ao Central Park, perdeu muitas capacidades. Mas, quando o vestem com roupas de show e o colocam frente a um microfone, canta sem desafinar ou esquecer a letra.

Precioso conselho encerra a palestra da dra. Ana Cláudia: O idoso deve reservar um tempo para meditação. Olhar para seu interior e conhecer-se melhor. Meditar torna o velho mais sereno emocionalmente. Sabendo de sua finitude, consegue rever seu relacionamento com Deus.

Acrescento. Orar pode ser um grande remédio. Use-o!

Edgard Steffen ([email protected]) é médico, escritor e membro da Academia Sorocabana de Letras (ASL)