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Festa agendada no interior

Artigo escrito por Celso Ming

15 de Dezembro de 2021 às 00:01
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

 

Em meio a tanta notícia ruim da economia, destaca-se um setor que, apesar das dificuldades, tem muito a comemorar. Trata-se do agronegócio.

Enquanto o Brasil vai afundando na recessão e na inflação, a produção agrícola vai batendo recorde atrás de recorde.

Na semana passada os dois organismos que se encarregam dos levantamentos das safras apontaram para grande aumento da produção na safra 2021/22. A Conab prevê mais 15,1% sobre a temporada passada, para 291,1 milhões de toneladas; e o IBGE, avanço de 10,0%.

O momento é de finalização da semeadura no Sul e Centro-Oeste. Desta vez, o clima está colaborando com chuvas bem proporcionadas.

Quem acompanhou as Contas Nacionais (PIB) do terceiro trimestre verificou que a agropecuária mostrou forte queda em relação ao trimestre anterior, de nada menos que 8,0%. Foi consequência da episódica estiagem que atingiu as culturas de meio de ano, principalmente o milho safrinha. Mas não chegou a prostrar o setor.

Apesar do excelente desempenho -- crescimento de 55% na produção de grãos em dez anos --, a agropecuária pesa pouco no PIB brasileiro, apenas 6,8% em 2020, ante 20,4% da indústria total e 72,8% do setor de serviços. Por isso, as boas perspectivas não conseguem compensar a paradeira no resto do PIB.

Mas sua contribuição para a economia é mais ampla. Trata-se de forte disseminador de tecnologia avançada que só não é maior pelo relativo atraso das conexões de internet no interior do Brasil. Embora não seja uma área de emprego intensivo de mão de obra, seus avanços são vitais para reter o trabalhador no interior, onde crescem os serviços de apoio.

Como tem afirmado o ex-presidente Fernando Henrique, o progresso do agronegócio vem contribuindo para desestimular o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, que é alimentado menos pela procura de terra e mais pela procura de emprego.

Se for confirmado o bom desempenho desta temporada, haverá pelo menos mais dois efeitos positivos: a relativa estabilização dos preços dos alimentos que, de quebra, contam com certa estabilidade de cotações no mercado global; e a continuidade de bons resultados da balança comercial, graças às exportações.

Duas ameaças pairam sobre o setor. A primeira é o aumento do protecionismo europeu, especialmente da França e da Alemanha, que se aproveita da desastrosa condução da política ambiental do governo Bolsonaro para aumentar as restrições ao agropecuário brasileiro.

A segunda ameaça é a relativa escassez global de fertilizantes que pode comprometer o aumento da produtividade.

Celso Ming é comentarista de economia.