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Uma cartinha ao Papai Noel no para-brisa do carro

Artigo escrito por Vanderlei Testa

14 de Dezembro de 2021 às 00:01
(Crédito: ARTE: VT)

 

Os dias do mês de dezembro estão indo tão rápidos que hoje é dia 14, a dez dias da noite de Natal. Essa celebração é considerada a mais linda do calendário cristão, com o nascimento do Menino Jesus. É tradicional o ato de presentear amigos e familiares. Há uma movimentação nas lojas e nas plataformas de comércio eletrônico que superam qualquer expectativa normal de vendas. É também um período de confraternizações, reunindo colegas de trabalho e grupos de familiares e amigos em locais decorados com temas natalinos. Onde moro, um grupo de moradores se movimentou para arrecadar presentes às crianças necessitadas e, aos pais, cestas de alimentação para a ceia de Natal. Nas redes sociais, encontro muitas iniciativas semelhantes com a liderança das campanhas orientadas por beneméritos cidadãos. O clima de festas e benemerência parece atingir o coração da comunidade que consegue separar os dias do ano em um único mês de amor ao próximo.

As agências dos Correios recebem milhares de cartinhas dirigidas ao Papai Noel. Mesmo com um suposto endereço na Lapônia e, em lugarejos do Polo Norte, em meio à neve, essas correspondências deixadas por crianças e pais, não segue para esse Papai Noel de roupa vermelha, barba branca e com um trenó na porta. O sonho, porém, das crianças remetentes é para que alguma pessoa tenha um momento de solidariedade e vá retirar ou escolher uma cartinha aqui mesmo nos Correios em Sorocaba. O Papai Noel pode morar em qualquer vila do centro ou dos bairros, ser magro ou gordo, com barba branca ou colorida, o que vale é o gesto sensível de atender ao pedido de meninos e meninas carentes. Centenas de crianças também saem às ruas para deixar as suas cartinhas em carros, árvores de Natal em lojas e shoppings, aguardando que alguns olhos dos clientes a vejam e levem para casa. Escrevo isso porque já aconteceu comigo e com amigos em anos anteriores.

No começo do mês de dezembro encontrei uma cartinha com envelope escrito e dirigido ao Papai Noel. Estava no para-brisa do meu carro estacionado em uma rua do centro da cidade. Não vi quem colocou. Quando entrei no carro para sair, percebi que havia o envelope bem na minha frente. Sai do veículo e fui pegar sem imaginar de quem seria a mensagem. Com o envelope nas mãos, pude sentir que havia no seu interior uma carta de esperança escrita em alguma casa de sonhos de criança. Sim, das mãos que deixou a cartinha presa no vidro do carro, havia um desejo radiante de uma criança que deve ter pensado: -- Não jogue fora a minha mensagem ao Papai Noel.

O texto da cartinha dizia, pelas letras escritas pela mãe e possivelmente faladas pela filha: “Papai Noel, meu nome é Lorena Vitória. Tenho seis anos e moro em Votorantim. Querido Papai Noel, neste Natal eu gostaria muito de ganhar uma roupinha, tamanho 10 e, um sapato, tamanho 33, para eu passar bonitinha o Natal com a minha família . E se você, Papai Noel, puder trazer uma caixa de leite, ficarei muito feliz com você, pois moramos de aluguel e minha mãe está desempregada. Que Deus abençoe o seu gesto de caridade”.

Posso garantir que o Papai Noel já atendeu esse pedido da Lorena Vitória. O Papai Noel esteve na sua casa antes do Natal. Conversei com a Lorena e mamãe para saber da sua cartinha e com a alegria da criança que está feliz, ali mesmo no chão da entrada da sua casa, ela abriu ansiosa os pacotes. Nem todas as pessoas que receberam um envelope no para-brisa do carro ou que tiveram acesso a apelos para retirar a cartinha nos Correios, foram adiante nesse esse chamado infantil. O espírito de Natal que invade o mundo com fraternidade em mensagens, músicas, filmes, celebrações religiosas e união de famílias é amor no sentido pleno da palavra. O desemprego de milhões de mães e pais em 2021 certamente deixará o Natal sem nada na mesa e sem presentes aos filhos. As perdas de vidas de pais e mães pela pandemia, com milhares de órfãos em todo o mundo sensibiliza a solidariedade humana em amenizar essa triste situação. A criança, Lorena Vitória, de apenas seis anos tendo que conviver com a experiência do desemprego da mãe e de sair às ruas para deixar cartinhas pedindo uma roupa, sapato e leite para a sua alimentação diária e dos irmãos é motivo para se pensar nas milhões de outras crianças carentes sem ajuda. A Lorena tem a palavra Vitória no seu nome. Nasceu vitoriosa em fé e determinação em seguir os seus sonhos. Quem tem filhos, netos e pode proporcionar os bens necessários aos seus familiares deve entender e imaginar os seus filhos distribuindo cartinhas em carros e árvores de Natal em shoppings ou mesmo nos semáforos, vendendo balas para o Natal da sua família.

Quando escrevi este artigo sobre a cartinha de Natal, recebi uma mensagem inusitada de uma leitora para divulgar no meu artigo do jornal. Coincidência ou providência divina esse pedido dedico às abnegadas voluntárias desse inovador projeto Maria Bonita no Natal. Olhe como há pessoas generosas e criativas em pensar no outro ser humano. Dizia o texto: “Você leitora tem uma bolsa usada que não quer mais? Sim? Então coloque dentro dela: sabonetes, creme dental, absorvente, escova de dente, batom, perfume, pente etc. O que você puder doar e, quando encontrar uma mulher em situação de rua ou recolhendo recicláveis na sua casa, dê a bolsa para ela de presente. Esta é a campanha Maria Bonita no Natal. Compartilhe para chegar a muitas pessoas. Elas vão amar! Fale com as suas vizinhas, filhas, comadres, cunhadas, amigas, enfim, com as mulheres com as quais convive ou se relaciona. Façamos com que este gesto concreto possa fazer a diferença na vida de muitas Marias Bonitas”.

Vanderlei Testa ([email protected]) é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul.