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Faltou contundência ao Banco Central

Artigo escrito por Celso Ming, comentarista de economia

03 de Novembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
A questão de fundo é a de que, entre liderar as expectativas e botar panos quentes, o Banco Central preferiu os panos quentes
A questão de fundo é a de que, entre liderar as expectativas e botar panos quentes, o Banco Central preferiu os panos quentes (Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Celso Ming

Também desta vez, o Banco Central não foi suficientemente convincente na definição dos juros básicos (Selic) e se manteve a reboque das expectativas.

Isso não aconteceu porque o aumento de 1,5 ponto porcentual (p.p.) nos juros, para 7,75% ao ano, tenha sido insuficiente, mas porque pareceu excessivamente tolerante em relação a dois pontos: ao rombo das contas públicas e seu impacto sobre a economia do País; e ao comportamento futuro da inflação.

Houve quem entendesse que a puxada nos juros básicos de 1,5 p.p. fosse insuficiente para conter a disparada dos preços. Entre estes estão os analistas que apostaram em que na reunião do Copom da última quarta-feira viria alta entre 2 e 3 p.p. ao ano. Mas foi uma minoria.

A questão de fundo é a de que, entre liderar as expectativas e botar panos quentes, o Banco Central preferiu os panos quentes. Admitiu repetir nova dose em dezembro, mas nesse ritmo terá dificuldades para empurrar a inflação de 2022 para dentro da meta, que é de 3,5%, mais 1,5% de tolerância. O câmbio, por sua vez, que já está acima dos R$ 5,62 por dólar, tende a continuar a ovular inflação.

Na quinta-feira (28), o mercado financeiro mostrou que não põe fé na caçapa cantada pela autoridade monetária, que é o reforço de apenas 1,5 p.p. em dezembro. O mercado futuro dos juros operou na quinta-feira prevendo nova alta de 1,75 p.p.. E essa aposta não aconteceu porque na última reunião o Banco Central já não conseguira manter a palavra anterior, mas porque o comportamento da inflação e do resto da economia pede mais para reduzir as pressões.

Não é de hoje que o Banco Central erra no diagnóstico. Achava que a inflação seria passageira porque centrada na alta das commodities e da energia, deflagrada por um choque de oferta global e não por excesso de procura interna. Logo viu que os demais preços dispararam -- o que o obrigou a correr para não ficar muito para trás.

Na questão fiscal, parece tolerante demais. O comunicado divulgado após a reunião do Copom chega a mencionar a deterioração das contas públicas, mas não com a ênfase exigida. O furo do teto das despesas tende a se alargar com as próximas decisões de gastança e pode conduzir o Banco Central para a zona da dominância fiscal, em que a política de juros perde capacidade de controlar a inflação. É ameaça grande demais para ser manso demais com ela. E o Banco Central parece dizer que o rombo fiscal não passa de um cancerzinho, como se não quisesse alarmar o paciente.

Enfim, o quadro geral é de recessão que poderá se intensificar se o Congresso afundar ainda mais as contas públicas.

Celso Ming é comentarista de economia