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Tempo e tecnologia

O modelo comunitário de previsão de tempo

Artigo escrito por Mário Eugênio Saturno, tecnologista sênior do Inpe e congregado mariano

02 de Novembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Mário Eugênio Saturno
Mário Eugênio Saturno (Crédito: Divulgação / Arquivo pessoal)

Mário Eugênio Saturno

No início de outubro, o pesquisador Saulo Freitas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apresentou o novo modelo de previsão do tempo dentro da emergência das mudanças climáticas, com eventos extremos e com o desafio de fazer as previsões com antecedência e precisão.

Como exemplo, citou o que aconteceu em 18 de setembro de 2020, registrado em uma foto de satélite, com eventos interessantes e simultâneos: fumaça de queimadas produzidas na Califórnia, queimadas na América do Sul, na Amazônia e no Brasil Central e, ao mesmo tempo, a ocorrência de três furacões no Pacífico e Atlântico.

Esses desastres causam prejuízos. Nos Estados Unidos, em 2019, a Agência de Monitoramento da Atmosfera e Oceanos (Noaa), do Departamento de Comércio, listou 14 eventos climáticos cujos desastres causaram perdas que totalizaram 45 milhões de dólares.

Na década de 2010 a 2019, eles contabilizaram 119 desastres, totalizando um prejuízo de 800 bilhões de dólares. Somando todo o prejuízo desde 1.980, quando começaram a contabilizar os custos de mitigação e prejuízos, a cifra é maior que 1,75 trilhão de dólares.

Os cientistas do Inpe propõem um novo paradigma de previsão de tempo, clima e ambiente para o Brasil, ou seja, todos trabalham em um único sistema de modelagem no único código computacional, o Inpe e todas as instituições que trabalham com isso no País.

E envolvendo todo o sistema terrestre, como os componentes da atmosfera, biosfera, solos continentais, criosfera, oceanos e espaço superior, com alguns componentes de complexidade variável, como reatividade química e aerossóis, que seja apropriado para usar ou para fazer simulações na escala de 100 m a 1.000 km, em escalas temporais de horas, dias, mês ou estações do ano e mudanças climáticas de 10 a 100 anos.

O modelo usa o que de mais atual existe em métodos numéricos de solução de sistema de equações diferenciais em supercomputadores, assimilação de dados de satélites e medidas locais (dados convencionais). Ainda aproveita de técnicas de inteligência artificial para aperfeiçoar os resultados do modelo. Isso se o governo não cortar a verba do supercomputador.

E a novidade é o modelo comunitário, com um código aberto gratuito, gerido por um grupo de especialistas em computação de alto desempenho, com um workshop e treinamentos para a comunidade.

E outro ponto adicional importante é a governança multi-institucional. Para isso, foi instituído o comitê científico em 8 de abril deste ano, com 16 cientistas do Inpe e 19 instituições nomearam cientistas, como o Instituto de Meteorologia, Laboratório Nacional de Computação Científica, e ainda incluindo diversos institutos da USP, Aeronáutica, Marinha, Exército, universidades federais e do Governo Federal.

O Inpe ainda negocia a colaboração de instituições internacionais como o Centro de Pesquisa Atmosférica (NCAR), o já citado Noaa, o Centro Godard da Nasa, todos dos Estados Unidos e o Centro Europeu do Tempo, ECMWF.

O Inpe faz sua parte. Que os deputados e senadores lembrem-se disso sempre que discutirem a Lei do Orçamento Anual.

Mário Eugênio Saturno (cientecfan.blogspot.com) é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano