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O automóvel entra em cena...

Artigo escrito por Marcelo Augusto Paiva Pereira

22 de Outubro de 2021 às 00:01
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Marcelo Augusto Paiva Pereira.
Marcelo Augusto Paiva Pereira. (Crédito: Arquivo Pessoal )

O primeiro automóvel movido a combustão interna surgiu em 1884 na Alemanha, desenvolvido por Gottlieb Daimler e, em 1885, por Karl Benz. Nos Estados Unidos da América, Henry Ford lançou em 1908 o Ford T que, produzido em série, modificou o panorama e a mobilidade urbana.

O início do século XX trouxe novidades tecnológicas que encantaram aquelas sociedades. O telefone (1875), o cinematógrafo (1895) e o avião (criado por Alberto Santos Dumont em 1906) são exemplos. O automóvel ingressou nesse novo ambiente ditado pela ciência, máquina motriz da perspectiva de inovador futuro.

Várias indústrias surgiram na Europa e nos Estados Unidos da América para produzi-lo, promissor do conforto esperado pelos consumidores, ávidos pela novidade tecnológica que despontava. Representou o avanço da ciência e também serviu de “status” pessoal e social, oferecia inédita mobilidade, superior à dos cavalos, charretes e carroças então existentes.

O referido também seduziu as pessoas em razão da velocidade, mobilidade própria, conforto, proteção contra o clima, estilo e opções de modelos. Era a perspectiva de solução ao transporte individual e coletivo nas grandes cidades e entre elas. As viagens seriam mais seguras e mais confortáveis.

As cidades, entretanto, ainda eram planejadas para as pessoas -- e aos veículos de tração animal --, e os espaços urbanos dificultavam sua introdução. Era preciso redesenhar as vias públicas. Surgiram, então, as cidades para os automóveis.

Vários arquitetos e engenheiros se renderam ao sucesso comercial, industrial e tecnológico desse veículo (Le Corbusier foi um deles). A eles os projetos arquitetônicos e urbanísticos deveriam acolhê-lo, tanto em garagens próprias quanto em vias públicas, desenhadas para tanto. Veículo promissor do progresso e futuro da humanidade, entrou no cenário urbano.

Ao tempo dos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna (Ciam) de 1928, 1929 e 1930, Ludwig Karl Hilberseimer desenhou e apresentou um projeto de adensamento urbano, em que vários edifícios formados por blocos horizontais e verticais seriam construídos e integrados uns aos outros por passarelas no nível entre esses blocos, pelas quais caminhariam as pessoas, enquanto os automóveis trafegariam por vias públicas ao nível do solo (entre esses edifícios) e, no subsolo, linhas de trens e de metrô.

Aos arquitetos e urbanistas alemães o zoneamento, a regulamentação de trânsito e a legislação eram os instrumentos para dar funcionalidade à cidade. A Carta de Atenas (1937) acolheu a habitação, recreação, trabalho e cultura como aspectos funcionais da cidade. Outros aspectos foram o social, higiênico, político e tecnológico.

O século XX foi, sem dúvida, o século do automóvel e das promessas de uma nova sociedade, pensadas no início do aludido século. Hoje vivemos em ambientes urbanos caóticos, congestionados, poluídos e carregados de veículos, resultantes da mobilidade tão aspirada por tantos e por tanto tempo. Precisamos redesenhar nossas cidades; mas, desta vez, para as pessoas entrarem em cena. Nada a mais.

Marcelo Augusto Paiva Pereira é arquiteto e urbanista.