Buscar no Cruzeiro

Buscar

Filmes da Netflix: "Elize Matsunaga" (parte 1 de 7)

Artigo escrito por Nildo Benedetti

15 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Elize Matsunaga ao lado do marido, Marcos Matsunaga.
Elize Matsunaga ao lado do marido, Marcos Matsunaga. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Esta minissérie focaliza o assassinato de Marcos Matsunaga, herdeiro da empresa Yoki, por sua esposa, Elize Matsunaga, em 2012. É um documentário dirigido pela brasileira Eliza Capai em quatro episódios de 50 minutos cada um.

Elize nasceu numa pequena cidade do Paraná e se mudou para São Paulo ainda jovem. Tornou-se garota de programa e foi assim que conheceu seu cliente Marcos, um jovem rico, que viria a ser seu futuro marido. O casal teve uma filha. O casamento começou a deteriorar quando ela descobriu que Marcos a traía com outra garota de programa. Elize matou o marido e esquartejou o corpo, abandonando as partes em Cotia, em São Paulo.

O documentário levanta várias questões sobre a ação homicida, a reação do público, o papel da imprensa, a ação da Justiça. De imprensa me ocuparei na análise do filme “Homicídio na Costa do Sol” e nestes sete artigos sobre “Elize Matsunaga” tentarei responder simultaneamente a três perguntas: por que a reação do público ao homicídio é tão diversificada? O que levou Elize a cometer o homicídio? Quão justa é a penalidade que lhe foi aplicada pelo crime?

Como sempre acontece nos casos de crimes hediondos como o narrado na minissérie, a opinião pública se divide. Alguns procuram justificá-lo, argumentando que Elize matou em legítima defesa, outros alegam que o crime foi ato impensado, realizado em um momento de desequilíbrio emocional por uma mulher que se achava sob o impacto do adultério do marido, outros se referem ao fato traumático de ela ter sido molestada sexualmente pelo padrasto, etc. Mas a maioria a condena de forma assertiva, boa parte influenciada pela imprensa e pelas declarações públicas midiáticas do promotor do caso. De fato, se trata de um crime chocante, se levarmos em conta os atos de mutilar o corpo, colocar as partes em sacos de plástico de lixo, jogá-los em pontos diferentes da mata e, em seguida, encenar preocupação com o desaparecimento do marido, mandando mensagens à família dele, ao reverendo, etc. E para piorar, argumentam essas pessoas, tudo isto executado por uma antiga prostituta que foi acolhida em uma “vida de princesa” pelo marido.

O juízo público frente a um episódio trágico como esse decorre de várias razões psicológicas. Mas, dentre essas inumeráveis razões, não deve ser subestimado o fato de alguém querer mostrar publicamente que tem valores morais inflexíveis e, portanto, que o feito da assassina causa-lhe a revolta que seria esperada de um cidadão de bem como ele.

A diversidade de opiniões pessoais do público sobre o homicídio abre a possibilidade de retomar, por meio da minissérie, a milenar questão do livre-arbítrio. Escrevi anteriormente sobre o assunto, mas vou repetir algumas ideias para discorrer sobre as motivações que levaram Elize a cometer o assassinato.

*

A Patrística filosofia cristã dos primeiros séculos, que se ocupou de enunciar as verdades da fé precisou explicar como o mal pode existir no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. A conciliação da bondade e onipotência de Deus com a existência do mal, que a princípio parece impossível, foi o desafio enfrentado por muitos filósofos da Idade Média.

Continua na próxima semana

Está série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

[email protected]