Buscar no Cruzeiro

Buscar

Aos mestres, com carinho!

Artigo escrito por Roque Dias Prestes

15 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Roque Dias Prestes.
Roque Dias Prestes. (Crédito: Divulgação)

Já se passaram mais de sete décadas do início do meu curso primário, na Escola Rural da “Fazenda Janeiro”, no município de Pardinho, interior deste Estado. Ainda não me esqueci da primeira professora, dona Carolina. Era uma senhora muito atenciosa. Tinha, mesmo, uma paciência de Jó, pois, sempre que necessário, não titubeava em pegar uma das mãos dos seus alunos para auxiliá-los na forma correta de escrever determinadas letras do nosso alfabeto.

Naquela época, o relacionamento entre discípulos e mestres era muito respeitoso, bem diferente de algumas décadas para cá. Quase todos os dias, no interior da sala de aula, era corriqueiro a professora mandar algum aluno ficar alguns minutos em pé, bem próximo e olhando para a parede, como forma de castigo. Isto, quando ela não partia para uma atitude mais severa, ou seja, munir-se da “palmatória” e mandar o aluno indisciplinado estender uma das mãos para o castigo.

A “palmatória” era um instrumento de madeira e tinha somente essa finalidade; por isso, o seu nome: palmatória.

Com a evolução da sociedade, tornou-se impensável qualquer reprimenda, por parte de quem esteja dando uma aula, aos seus alunos; quando muito, conduz à diretoria, aquele que estiver sendo inconveniente.

Já foi o tempo em que ser regente de uma aula representava poder e autoridade máxima, dentro da sala. Ninguém podia ali adentrar ou sair sem a sua permissão.

Sem dúvida, as gerações formadas nessa época tinham um diferencial marcante, que acabou fazendo falta àquelas que vieram depois. Contribuiu para isso o próprio Ministério da Educação, com as reformas que aboliram disciplinas importantes, como Educação Moral e Cívica e muitas outras, até chegar aos nossos dias onde Filosofia e Sociologia, no ensino médio, são matérias optativas.

A educação escolar sempre foi entendida como uma complementação à educação que a criança ou o jovem recebia dos seus pais.

Entretanto, faz muito tempo que isto não acontece, pois há uma disparidade muito grande. Ou seja, a grade escolar enveredou para uma senda utópica, bem diferente da realidade da vida e, no final das contas, vai servir somente para o aluno tirar uma boa nota no Enem... e olhe lá!

Da mesma forma, uma pessoa que já chegou ao inverno da existência fica desolada com a falta de civismo e de amor à Pátria que se observa em muitos sujeitos mais jovens. Por exemplo, o culto aos símbolos nacionais passa batido, para muita gente, pois rara é a pessoa que sabe cantar o Hino Nacional.

Outra excrescência dos novos tempos é o desrespeito para com a Bandeira Nacional. Antigamente, ninguém se atrevia envolvê-la ao redor do seu corpo em quaisquer manifestações públicas.

Todavia, se produto de uma boa educação, nenhum cidadão brasileiro faria mal uso desse símbolo nacional, devendo, portanto, a responsabilidade principal ser creditada aos nossos governantes.

Contudo, ao que parece, por mais que os bravos integrantes do magistério, em todos os seus níveis, procurem se esforçar para uma boa formação da clientela escolar, sem uma eficaz e profunda reforma educacional em nosso País, condizente com a atual realidade, aqueles que viverem continuarão lastimando novas gerações improdutivas, distanciadas do mundo real e muito semelhantes a uma turba de zumbis.

Mas, quem tem a missão de ensinar jamais se dá por vencido; afinal, nos referimos a um ser muito especial, porque, antes de tudo, tem ciência que exerce um verdadeiro sacerdócio.

É uma pena, pois de uma maneira diferente, recebe encômios merecidos, somente em um dia em cada ano: 15 de outubro, o “Dia do Professor”.

Para fazer jus à grandeza e importância do seu trabalho, devemos saudá-los todos os dias: aos mestres, com carinho!

Roque Dias Prestes é advogado, escritor, jornalista, professor aposentado e presidente da Academia Votorantinense de Letras, Artes e História.