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Faltam matérias-primas, chips, embalagens etc.

Artigo escrito por Celso Ming

06 de Outubro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

O desarranjo em diversas cadeias da produção causado pela pandemia, combinado com a alta das commodities e com a desvalorização do real ante o dólar, ainda provoca impacto em setores e tem gerado aumento de preços e instabilidade na oferta de insumos, o que aumenta custos de produção e puxa a inflação.

Até o início da pandemia, a atividade produtiva estava operando no sistema just in time, aquele em que a chegada de produtos intermediários, peças e insumos vinha sendo rigorosamente ajustada de modo a coincidir com o fluxo das linhas de montagem. É o sistema que dispensa ou reduz substancialmente a formação de estoques, pessoal, capital de giro, instalações e tanta coisa mais.

A pandemia furou os agendamentos porque muitas unidades foram obrigadas a suspender atividades, navios ficaram retidos nos portos, caminhões deixaram de ter o que carregar. Quando a pandemia recuou, a atividade econômica foi sendo retomada, mas passou a faltar de tudo. A produção de veículos teve de parar ou quase isso, por falta de autopeças e de chips, o carro usado ficou valendo mais e, por toda a parte, surgiram distorções. Faltam contêineres para transporte naval, porque seu fluxo entre uma ponta e outra ficou mais lento.

Países que lideram a recuperação da economia mundial, como os Estados Unidos e a China, também são grandes exportadores de matérias-primas e de produtos intermediários. Com o reaquecimento de suas economias, parte da produção passou a ser destinada a seus mercados internos -- seja para uso na cadeia de transformação seja para nova formação de estoques agora estimulada pela ameaça de desabastecimento.

O último relatório sobre matérias-primas da Fiesp revela que quase 60% das empresas paulistas ainda têm dificuldades de encontrar insumos, entre eles resinas termoplásticas (polipropileno, polietileno e PVC), alumínio e papelão.

Em meio a esse descompasso, um dos setores mais prejudicados pela escalada dos preços e dificuldades na oferta de matérias-primas é o de embalagens.

Como aponta o presidente da Associação Brasileira de Embalagem, Marcos Antonio de Barros, o setor passa por uma disparada dos preços. A produção física de embalagens cresceu 6,8% no segundo trimestre de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020, mas as projeções de crescimento no ano foram revisadas para baixo não só pela inflação alta, mas, também, pela crise hídrica.

“Agora trabalhamos com crescimento entre 1% e 2,5% em 2021, porque não sabemos o que vai acontecer nos próximos meses. Consideramos já nesta conta possíveis cortes de energia, que poderão prejudicar a produção, entre outubro e novembro”, diz Barros.

No período de 12 meses até julho deste ano, os preços das matérias-primas da indústria petroquímica subiram 96,5%; os do papel para embalagem, 67,9%; e os da celulose, 55,4%.

Outro segmento castigado pela elevação dos preços dos insumos é o de embalagens plásticas flexíveis, destinadas a produtos perecíveis, como alimentos e bebidas. O setor cresceu 5,4% em 2020, mas enfrentou queda de 1% na produção física no segundo trimestre de 2021.

Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis, Rogério Mani, embora essa desaceleração tenha diminuído as pressões em algumas cadeias -- como a do papelão -- e mitigado o risco de desabastecimento, a dificuldade para encontrar insumos seguirá pelo menos até o fim deste ano.

Neste cenário, a preocupação maior está na cadeia das resinas plásticas. São altamente sensíveis às variações cambiais e a eventos naturais que possam paralisar a produção e a importação. Além disso, este é um mercado protegido e com poucos fornecedores no Brasil.

Mais um fator de preocupação é a paralisação da fábrica da Indorama Ventures, em Pernambuco, responsável por cerca de 60% do mercado local de PET, por conta de um incêndio. Produtores temem desabastecimento do insumo em pleno verão, já que é amplamente utilizado em embalagens de bebidas e produtos de higiene e limpeza.

“Estamos inseguros. Não sabemos se haverá quebra na oferta”, reclama o presidente Abiplast, José Ricardo Roriz. A volta à atividade da fábrica paralisada está prevista para a segunda quinzena de outubro. (Com Pablo Santana)

Celso Ming é comentarista de economia.