Idoso, um jovem que deu certo
Artigo escrito por Roque Dias Prestes
Não há outra definição mais adequada para alguém que conseguiu ultrapassar o cabo da boa esperança da vida e chegou à velhice. Isto porque, infelizmente, muitas pessoas acabam falecendo de forma prematura, algumas delas ainda na chamada flor da juventude.
O idoso, nada obstante as limitações impostas pela natureza, sem dúvida é uma criatura privilegiada por um sem número de razões. Enumeramos uma delas: quando alguém atinge a idade considerada o inverno da existência, não precisa ostentar o rótulo de uma ou mais graduações, doutorado ou o que valha, para ser considerado um sábio; com certeza, sua vivência creditou-lhe conhecimentos valiosos que o tornaram merecedor desse adjetivo.
Bem a propósito, quando eu lecionava Sociologia no “Estadão”, no “Antônio Padilha” e em outras escolas de Sorocaba, sempre falava para meus alunos, que a melhor escola que podemos frequentar é a escola da vida. Conquanto nas salas de aulas o discípulo assimila conhecimentos por algumas horas, a escola da vida é um manancial de disciplinas variadas, na qual o aluno só interrompe seu aprendizado quando repousa a cabeça ao travesseiro, para o sono diário reparador das suas energias. Todo o processo de aprendizado recomeça no dia seguinte e, assim sucessivamente, até o derradeiro dos seus dias neste planeta.
Os povos antigos tinham o costume de recorrer ao conselho dos anciãos sempre que precisavam resolver algum problema individual ou coletivo. Os indivíduos idosos recebiam tratamento diferenciado e eram muito respeitados em qualquer tribo.
Infelizmente, com a evolução da raça humana, em muitos países, o sujeito que já cumpriu seus deveres e obrigações para com sua família e a sociedade é praticamente considerado sem mais nenhum préstimo e, da mesma forma que se joga fora a casca de uma fruta, é internado nos asilos ou residências coletivas, ficando ali, muitas vezes, sem receber visitas de seus familiares, até chegar o dia da sua morte.
Por outro lado, essa cultura insensível, aos poucos, vai sendo modificada, pois muitos empresários perceberam que não se deve desperdiçar uma mão de obra especializa. Depois da aposentação de um colaborador antigo, contratam-no novamente, até como instrutor dos novos empregados.
Na verdade, essa consciência de valoração do conhecimento adquirido ao longo dos anos não ocorre apenas no setor privado, haja vista que até no serviço público, não faz muitos anos, a aposentadoria compulsória, que antes era aos 70 anos de idade, passou para 75 anos.
No meu caso, por exemplo, se essa “esticada” no setor público tivesse ocorrido meia década antes, eu teria trabalhado mais cinco anos nas salas de aulas. Como tal não aconteceu, como diria o saudoso ex-presidente Jânio Quadros, tive que “pendurar as chuteiras”, esses anos antes.
Todavia, tranquilamente, posso dizer que até hoje, não senti a aposentação, completamente. Isto, porque continuei laborando na advocacia, agora apenas no Direito Criminal e Tribunal do Júri. Além disso, dois anos de deixar o magistério estadual comecei escrever livros. Até hoje foram cinco; o primeiro, “A História da minha vida” e, sucessivamente, “Contribuição à história de Votorantim”, “Cartilha do candidato a vereador”, “O novo papel do advogado” e “O testemunho da minha fé”. Estou finalizando mais dois livros: “Aposentadoria, um prêmio ou castigo?” e “Amor, afeição e ódio - a trilogia do ser humano”. Se Deus me permitir, outros livros a estes se seguirão.
Chegar à velhice é um estado de espírito que ninguém pode experimentar com antecedência. É exatamente por isto que um dia hei de publicar um livro de pensamentos e dele constará este: “Só não envelhecem os que morrem jovens”.
Hoje é o Dia do Idoso. Não apenas neste dia, mas em todos os demais da sua vida, procure reconhecer o mérito e o valor daqueles que atingiram o inverno da existência.
Afinal, Idoso é um jovem que deu certo.
Roque Dias Prestes e advogado, escritor, jornalista, professor aposentado e presidente da Academia Votorantinense de Letras, Artes e História.