Desapego inteligente
Artigo escrito por Vanderlei Testa
Dia 30 de setembro é o Dia da Secretária. Data instituída em homenagem a Lilian Sholes, filha do inventor da máquina de escrever Cristopher Sholes, em 1874. Ela foi a primeira mulher a usar uma máquina datilográfica em público. Hoje a economia, trabalho e desenvolvimento impulsionam a população ao consumo de novas tecnologias digitais. E ao apego às suas aquisições. As velhas e novas gerações gostam de acumular ou colecionar suas coisas. Basta ver programas de televisão que mostram como há pessoas acumuladoras no sentido mórbido ou psicológico. O desapego inteligente é uma virtude humana de sabedoria. Quem sabe que desta vida humana não leva nada na morte, vence o apego material. Eu, e você leitor, conhecemos gente que guarda tudo o que pode e não se desapega. Desde sapatos, vidros, embalagens, roupas de entes falecidos e o que mais queiramos acrescentar. Não reconhecem que são acumuladores. Quando morrem, vai tudo para a caçamba. Já presenciei muito essa atitude da família.
Escrevi este artigo com o tema desapego inteligente após ouvir depoimentos de pessoas. O desprendimento das coisas materiais é muito difícil para milhões de acumuladores. Quem já assistiu na televisão “Caçadores de Relíquias” vê como os americanos armazenam tranqueiras em seus depósitos e casas. E muitos estão tão apegados às suas coisas que não se desapegam nem recebendo ofertas altas de valores, como uma placa de refrigerante detonada pelo tempo, por mil dólares. Outro programa, no canal Marie Kondo, do YouTube, ensina a alegria de colocar ordem em casa. Vale assistir e aprender a desapegar com as lições da Kondo.
A jornalista Evenize Batista, professora universitária e organizadora de ambientes, é adepta ao desapego inteligente. Tem o seu ponto de vista determinado no objetivo de desapegar. Ela é mãe de trigêmeos. Mora em Sorocaba e nasceu na terra dos vinhos, São Roque. A Evenize traz na sua herança genética dos pais, Leonilda e Ranulfo, o DNA da sabedoria e o aprendizado no desapego de suas coisas.
Para começar a praticar o desapego inteligente, basta fazer o que a Luciana Corrêa -- com 13 anos de idade -- já faz e me relatou: “Doar é um ato nobre. Faz a diferença na vida de quem recebe e engrandece a vida de quem doa”. Ou apenas, participar nas inúmeras propostas que existem em Sorocaba, como os bazares beneficentes. Há também os brechós que movimentam aqueles que se desapegam por dinheiro, vendendo os seus produtos. E os que são compradores obsessivos natos e aumentam os seus armários com calçados, blusas, vestidos, calças, bijuterias e nunca desapegam de nada.
Sou a favor do desapego, doando as peças aos bazares promovidos por entidades. Como exemplo, à Associação Beneficente Oncológica de Sorocaba (Abos). Fica na rua Souza Pereira, 376. Nos meus cabides, havia mais de 100 camisetas de corridas pedestres que participei. Era motivo de lembranças das provas e locais. Agindo no desapego do artigo, todas foram para um lar de idosos. Há os casos de desapego de livros. Quantas prateleiras em casas e escritórios com exemplares ocupando espaço por anos depois das leituras. E quantas bibliotecas públicas e comunitárias nos bairros à espera de doações de livros. Quem já exerceu essa prática filantrópica cultural sabe como faz bem se libertar dos apegos puramente sentimentais e egoístas. Uma criança ou jovem lendo os livros doados atingem maior felicidade do que as poeiras que acumulam nas capas encadernadas.
A paróquia de Santa Rita de Cássia e o Santuário de Santa Filomena, em Sorocaba, são outros modelos de locais que aceitam os desapegos inteligentes. Fui visitar o bazar da Santa Rita, do pároco Manoel Junior, e o bazar da Santa Filomena, do padre Wagner Ruivo. Nessa última, os coordenadores, casal Edna e Toninho Castelhano, organizam centenas de itens doados todas as semanas para atender às pessoas. Toda a renda se destina às obras de construção do santuário. No Bazar Beneficente do Centro em Excelência em Autismo encontram-se opções de móveis, roupas e brinquedos. Um centro de distribuição do amor ao próximo que recebe materiais armazenados nos depósitos das casas, transformando-os em recursos destinados aos autistas. Vale destacar a mesma intenção do Bazar do Amor, do Gpaci. A renda é destinada ao custeio do hospital de câncer infantil. Esse bazar fica na rua Dona Maria Josepha de Souza Manente, 57, Jardim Faculdade. Denise Lamberti afirma que sempre está doando e motiva outras pessoas a fazerem o mesmo. Antonio Carlos Sartorelli manifestou que gosta de doar para instituições, citando a Casa André Luiz.
Fiz uma pesquisa sobre o desapego dos amigos da rede social. Perguntei: O que é para você o desapego inteligente? As respostas foram sinceras e servem de exemplos aos leitores. Lúcia Costa disse o que aprendeu com o padre João Carlos Alampe. “Se algo está no seu armário há mais de seis meses, sem uso, não lhe pertence mais. Doe”. A Juliana Cristina Landi Pinto, afirma: “Devemos doar para pessoas que estão precisando. Elas usam tudo”. Rosângela Ferreira foi além na sua resposta: “Sempre pensei, comigo: não doe o que sobra, doe o que falta. Doe, mesmo que vá fazer falta a você mesmo. Isso para mim é a verdadeira doação”, diz Rosangela. Celisa Zambianco considera que devemos doar o que não usamos e nunca devemos vender. Maria Salete Monteiro diz que não é de acumular. Entra uma peça de roupa nova e sai uma antiga. Como integrante dos vicentinos, Rosa Bizan considera importante dividir o que tem com quem precisa. Bia Barros Negrão Duarte e seu marido, Fernando Negrão, complementam a pesquisa: “Todas as pessoas devem doar sempre”. Bia e Fernando praticam o desapego inteligente. Para eles, segue na mesma linha do desprendimento material, o altruísmo, com visão para o amor ao próximo. Pensamos que tudo o que for cobiça e egoísmo, ganância e inveja, leva à busca do apego material e do poder vazio de valores humanos.
Vanderlei Testa é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. Contato: [email protected]