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Filmes da Netflix: ‘Vosso reino’ (parte 3 de 3)

Artigo escrito por Nildo Benedetti

24 de Setembro de 2021 às 00:01
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Elena (Mercedes Morán) é a verdadeira comandante da Igreja do Sol.
Elena (Mercedes Morán) é a verdadeira comandante da Igreja do Sol. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Elena é a verdadeira líder da Igreja do Sol. É uma espécie de Lady Macbeth, que, como a personagem da obra de Shakespeare, manobra o marido para realizar suas próprias ambições. Foi ela quem o treinou na arte do discurso religioso e agora prepara o filho para a mesma função. Elena é contra a candidatura do marido à presidência da República, porque vê melhores oportunidades de ganhos econômicos e políticos por meio da própria Igreja. Além disso, ela sabe que, ao embarcar em cargo público tão elevado, o marido colocará a família na mira dos opositores, da polícia e da imprensa.

A Igreja do Sol guarda enorme quantia de dinheiro. Não fica claro qual a sua origem, mas o fato de permanecer cuidadosamente escondida atesta a ilegalidade ou, pelo menos, a imoralidade com que foi obtida. Supomos que ela advenha de fontes diversas, como dízimos e venda de bênçãos milagrosas que, como um placebo, gera a crença da cura por efeitos psicológicos. No Brasil, a riqueza de líderes religiosos politicamente influentes é incrementada por generosa anulação das dívidas tributárias das igrejas, dívidas estas decorrentes de fiscalizações e multas aplicadas pela Receita Federal.

De todos esses fatos envolvendo dinheiro, bens, influências, emerge uma questão jurídica em que entram em debate: de um lado, a liberdade religiosa prevista em lei; de outro, a proteção do patrimônio particular do fiel (supostamente violado pelo estelionato religioso) e a proteção da saúde pública (violada pelo charlatanismo religioso). Exemplos desses crimes não faltam e podemos citar alguns casos: o charlatanismo do “apóstolo” Valdemiro, da Igreja Mundial do Poder de Deus, que prometeu a cura do câncer a um fiel aposentado mediante uma doação de valor equivalente a sete meses de sua pensão; prometeu também a cura da Covid 19 por meio de sementes vendidas a mil reais, mas que não evitaram a morte pela doença de seu irmão, o pastor Vanderley; ou o estelionato da bispa Sônia Fernandes, que incitou seus seguidores a pedirem dinheiro emprestado para doá-lo à Igreja Renascer; ou ainda a Igreja Catedral Global do Espírito Santo, autoproclamada “Casa dos Milagres”, acusada de charlatanismo e curandeirismo, porque prometeu imunização contra a Covid 19 por meio de um “óleo consagrado”.

Em seus templos, esses pastores assumem o papel de um Deus vingador que berra ameaças a inimigos e pecadores, opera curas milagrosas e faz exorcismos teatralizados. Esses e muitos outros atos levam uma parcela do público a generalizar a ideia de que líderes evangélicos não passam de impostores que incitam pessoas desesperadas e desesperançadas a acreditar que, doando dinheiro ou bens à Igreja, estarão fazendo o bem e servindo a Deus, podendo assim alcançar algum benefício terreno por meio de um milagre ou garantindo um lugar no céu depois da morte.

Contudo, a generalização da imagem de que todos os líderes evangélicos são trapaceiros e farsantes é totalmente injusta com aqueles que se empenham seriamente, com base nos ensinamentos de Cristo, em propagar o amor ao próximo, a compaixão, o perdão e oferecem o conforto espiritual tão necessário ao ser humano diante das adversidades da vida.

Na próxima semana escreverei sobre “Suvenir” (The souvenir. em inglês)

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

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