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Ciclo de ódio provocado por haters

Artigo escrito por Andréa Ladislau

11 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Andréa Ladislau.
Andréa Ladislau. (Crédito: Divulgação)

No último fim de semana, uma matéria na TV aberta, expôs a cultura do ódio e perseguição provocada por haters (odiadores), tendo como alvo, tanto pessoas famosas quanto anônimas. Um avanço do extremismo do julgamento nas redes sociais que pode provocar sérios danos à saúde mental das vítimas, inclusive motivando episódios suicidas. E o que leva uma pessoa a destilar o ódio na internet? Quais as consequências na vida de quem está na mira destes ataques virtuais?

Para melhor entender essas questões, antes de falar da cultura do ódio devemos analisar a cultura do narcisismo que pode ser a mola impulsionadora deste movimento nocivo ao ser humano, afinal desejamos que o mundo veja uma realidade diferente daquela que muitas vezes vivemos e as redes sociais nos permitem isso.

Uma verdadeira explosão de espelhos irreais que nem sempre refletem nossa vida real. Além disso, a falsa ideia de invisibilidade ou de “estar protegido” por uma tela, alimenta a permissividade, a segurança e a onipotência validando as agressões preconceituosas, as palavras de humilhação e de julgamento que culminam no ódio generalizado.

Ataques que, muitas vezes, fogem do controle e provocam danos irreversíveis naqueles que estão sendo atacados, causando sérios desequilíbrios à saúde mental de suas vítimas, inclusive motivando o desejo de eliminar a dor e a vergonha tirando a própria vida.

Apesar de termos hoje a ajuda das delegacias especializadas em ataques virtuais, equipadas com instrumentos de rastreio tecnológico cada vez mais avançados, capazes de localizar e identificar um hater expondo sua verdadeira identidade de forma rápida e assertiva, a internet ainda traz a falsa atmosfera de impunidade e condescendência, na qual o indivíduo impiedoso acredita que possa estar protegido por uma tela e que, desta forma, é possível agir como bem entender: julgando, gerando ódio, apontando dedos, caluniando, humilhando, ridicularizando, expondo, e usando de racismo e preconceitos para provocar o caos na vida de alguém.

Mas por que a necessidade gratuita de atacar alguém que muitas vezes, não se tem qualquer intimidade ou relação? Quem é esse indivíduo e o que ele ganha com esses ataques? Sem dúvida, é uma pessoa de autoestima baixa, complexos enraizados, carência afetiva latente e infeliz no que diz respeito à realidade em que vive.

A grande verdade é que, naturalmente, dentro de nós existe todo tipo de sentimento, bons e ruins, positivos ou negativos, como: alegria, esperança, serenidade, paz, humildade, empatia, bondade, verdade, generosidade, perdão, fé, compaixão, harmonia, e tantos outros pensamentos e emoções positivas. Mas também abrigamos sentimentos negativos, como: inveja, raiva, ódio, medo, ciúme, tristeza, cobiça, arrogância, pena de si mesmo, culpa, ressentimento, inferioridade, orgulho, superioridade, ego e tantas outras emoções negativas. No entanto, quais sentimentos irão prevalecer é uma escolha e decisão nossa ao longo de nossa trajetória.

O fortalecimento de um ou outro sentimento dentro de nós vai depender do quanto consumimos e alimentamos cada um deles internamente. E, a consequência de tudo isso, será refletida em nosso comportamento e na forma como gerenciamos nossas relações, sejam elas virtuais ou não.

O ataque perverso gera prazer e estimula hormônios como a adrenalina e a oxitocina, além de provocar uma sensação de empoderamento ao hater, fazendo com que ele sinta uma espécie de prazer impulsivo através dos ataques que provoca na internet. Enfim, psicanaliticamente falando, o hater que dissemina discursos de ódios nas redes, na maioria das vezes, apresenta desvio de comportamento e caráter, caracterizado por sinais de sociopatia, ou seja, ausência de empatia em relação ao outro. Ou até mesmo, uma psicopatia motivada pela perversidade, na qual sente um prazer nefasto em saborear o sofrimento e a dor do próximo sem qualquer remorso ou culpa. Mas, independente, de qualquer rótulo diagnóstico eles devem ser identificados e punidos pelos crimes que estão praticando.

E, o mais indicado, é que suas vítimas não devem responder aos ataques ofensivos e criminosos recebidos, por mais doloroso que seja. Pois, responder e contra-atacar alimenta o hater e fortalece seu discurso de ódio, já que ele passa a sentir que os holofotes estão voltados para si, potencializando ainda mais sua veia narcísica. Além disso, deve-se buscar ajuda de um profissional de saúde mental. Afinal, o mundo virtual deve ser usado com moderação de forma a entreter e trazer informação, aproximando e não afastando ou adoecendo mentalmente os indivíduos.

Andréa Ladislau é doutora em psicanálise, psicopedagoga, palestrante, administradora e membro da Academia Fluminense de Letras.