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Desafios das smarts cities

Artigo escrito por Luiz Alberto Rodrigues

03 de Setembro de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

As smarts cities brasileiras estão bem longe de serem inteligentes de fato. Pode parecer uma provocação, mas ao analisar quantos, e principalmente, como são ofertados à população os serviços públicos mais essenciais, temos um cenário de precariedade e desinformação.

Quando o assunto é cidade inteligente no Brasil, o que vem à cabeça é mobilidade, rede de wi-fi, semáforos e iluminação pública, mas ser smart não é só isso. Desde a popularização do termo cidade inteligente, no início dos anos 1990, a interpretação sobre seu conceito e significado mudou bastante. Infraestrutura urbana, políticas de planejamento, logística e mobilidade são algumas das premissas presentes para se classificar uma cidade como inteligente. Mas, independente da vertente do momento, a tecnologia sempre foi o ponto central e orientador. Até agora.

Novas ideias e conceitos estão moldando as cidades inteligentes do futuro e princípios como engajamento social, participação cidadã e interação das pessoas com o Poder Público em ambientes físicos e virtuais estão colocando o cidadão no centro do debate e garantindo o acesso a serviços públicos. Os governos brasileiros, no entanto, não estão preparados para esse novo capítulo da evolução das cidades.

Nenhuma administração hoje no País conta com disponibilização de serviços de forma organizada e acessível. Quem mais consome serviços públicos são as classes C, D e E e, paradoxalmente, são as que menos tem acesso a eles. As interfaces nos portais municipais não são amigáveis, há muita propaganda da gestão e tudo fica escondido, dividido por secretarias. Quem sabe onde pedir uma poda de árvore? Na secretaria de Obras? No Meio Ambiente? Ou em Urbanismo? Isso só para citar um, entre centenas de serviços que uma prefeitura oferece.

Segundo o estudo Cities in Motion Index, do Iese Business School, na Espanha, estima-se que a busca pelo ideal de cidade inteligente movimenta um mercado global de soluções tecnológicas em torno de US$ 408 bilhões. E apesar das cidades inteligentes serem diferentes entre si -- afinal, cada lugar tem necessidades e especificidades únicas --, há algumas características similares. As experiências mais atuais apontam para uma infraestrutura integrada, mas também, e especialmente, serviços conectados e mais eficientes, melhorando o cotidiano e transformando a relação do cidadão e empresas com o governo.

O avanço tecnológico continua tendo um papel fundamental no desenvolvimento das cidades, mas à medida que novas soluções são criadas, é preciso acompanhar essa evolução. Dentro dessa nova realidade, surge um novo conceito baseado no desenvolvimento de tecnologias que maximizam o uso e o acesso aos serviços públicos como parte da uma estratégia de modernização digital, gerando benefícios para a sociedade por meio da produção e acesso a dados, serviços e conteúdos e interagindo com o governo, empresas e a sociedade civil.

Nesse contexto, a tecnologia atua a serviço do ser humano e do meio ambiente, melhorando a qualidade de vida, disponibilizando serviços de forma digital, facilitando o acesso, melhorando a gestão e prestação de serviços de áreas essenciais (saúde, educação, benefícios, zeladoria e tributos) e criando um meio propício para o desenvolvimento de novos negócios e participação da sociedade.

O cidadão não está só cada vez mais conectado, como avança rumo a uma interconexão sem precedentes. Hoje, não basta só o indivíduo estar presente na internet, ele precisa estar online o tempo todo, em múltiplas plataformas. Com isso, sua experiência como consumidor de serviços foi ampliada e com ela o desejo de se ter tudo à mão, em qualquer lugar, em qualquer horário. Essa necessidade é real e as cidades inteligentes têm que estar preparadas para esse novo cidadão.

As administrações precisam avançar para oferecer o melhor atendimento, com eficiência, impessoalidade e inclusão, garantindo que qualquer pessoa, independentemente de sua condição social ou grau de instrução, possa interagir com a prefeitura de forma simples e intuitiva. Os serviços públicos devem passar por um processo de constante avaliação, como em aplicativos de transporte ou de delivery, onde o usuário avalia assim que usa o serviço.

A realidade observada na grande maioria das administrações públicas brasileiras é de ausência de ferramentas para que a população tenha acesso aos serviços públicos e da falta de interação da gestão com os cidadãos. Além disso, nas poucas que possuem portais organizados, estes são voltados à propaganda e as informações são insuficientes e de difícil acesso. Hoje, mais de 80% das pessoas usam smartphones como porta de acesso à internet. Os portais de serviços públicos municipais existentes não são feitos para esse ambiente. Tudo fica escondido. A população, principalmente os menos instruídos e os mais velhos, não conseguem acessar os serviços.

Uma nova geração de administradores municipais, contudo, já entende que as cidades inteligentes do futuro precisam cada vez mais buscar a interação com o cidadão e, principalmente, oferecer cada vez mais serviços e com qualidade, garantindo o aperfeiçoamento contínuo da prestação de serviços e a melhoria na qualidade de vida da população. Para eles, crescimento econômico por si só não basta e planejam um futuro em que a cidade se desenvolva de modo sustentável e inteligente, colocando as pessoas como prioridade.

O aspecto humano e sustentável tem que ser levado em conta quando o assunto é cidade inteligente -- e não apenas as tecnologias envolvidas no processo. Na prática, ser uma smart city significa levar aos seus habitantes uma nova perspectiva de cidadania por meio da modernização da gestão pública, oferta de novos serviços e facilidades para as pessoas.

Luiz Alberto Rodrigues é administrador de empresas com mais de 35 anos de atuação no setor público e CEO de empresa de gestão.