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Filmes da Netflix: ‘Three identical strangers’

Artigo escrito por Nildo Benedetti

03 de Setembro de 2021 às 00:01
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As gêmeas Paula Bernstein  e Elyse Schein, também adotadas na mesma agência Louise Wise, só se conheceram quando já eram adultas.
As gêmeas Paula Bernstein e Elyse Schein, também adotadas na mesma agência Louise Wise, só se conheceram quando já eram adultas. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Este documentário (“Três estranhos idênticos” em português) dirigido pelo britânico Tim Wardle, refere-se aos acontecimentos envolvendo os trigêmeos Robert, David e Eddy que haviam sido adotados por pais diferentes na conceituada agência Louise Wise, especializada em adoção de crianças de mães judias. Aos 19 anos de idade, os três irmãos tomaram conhecimento da existência uns dos outros: Robert começou a frequentar uma faculdade em que não conhecia ninguém e, no primeiro dia de aulas, todos no campus o chamavam de Eddy. Um colega leva Robert para uma viagem à casa do tal Eddy. No encontro, os dois irmão descobrem que são gêmeos idênticos, nascidos no mesmo dia, separados no nascimento. A imprensa faz a cobertura do fato e então surge um terceiro irmão, David, que também mora distante dos outros dois. A agência de adoção não havia dado às famílias receptoras qualquer informação da existência dos demais irmãos.

O caso causou de enorme curiosidade popular e grande cobertura pela imprensa. O documentário contém imagens de arquivo de jornais e programas de televisão. Apesar de suas diferenças de educação, os três tinham vários hábitos semelhantes, como o mesmo gosto com respeito a mulheres, fumavam a mesma marca de cigarro etc. É claro que algumas semelhanças poderiam ser reais, mas certamente muitas seriam parte de um circo midiático para aumentar o interesse do público, como sempre acontece nesses casos.

Os irmãos compraram um apartamento, passaram a morar juntos e abriram um restaurante que lhes rendeu muito dinheiro. Mas, com o convívio, eles que de início eram tão unidos, passaram a ter atritos de diversos tipos.

O documentário dura pouco mais de uma hora e meia. Inicialmente, tudo parece curioso ao espectador, mas depois o filme começa a dar sinais de monotonia. É então que a história muda totalmente de rumo: Lawrence Wright, um repórter investigativo da revista The New Yorker, apresenta sua pesquisa sobre os irmãos. Ficamos atônitos com os fatos narrados pelo repórter, que mais parecem reproduções das páginas de experimentos nazistas. E aí descobrimos que os estados econômicos e sociais das três famílias que adotaram os irmãos não eram diferentes por acaso.

Já informei mais do que devia, mas pretendi apenas motivar o leitor a assistir ao documentário. A publicidade da Netflix parece a de um filme de adolescentes do tipo da novela “Malhação”, mas não é nada disso.

*

Um dos principais debates das ciências humanas em geral é o de identificar o quanto do funcionamento da atividade mental humana trazemos de nascença e o quanto aprendemos do meio em que vivemos. No artigo intitulado “O que se traz para a vida e o que a vida nos traz”, Monah Winograd e outros afirmam que esse debate diz respeito tanto à condição saudável quanto às patologias dos indivíduos. Levanta questões como: os diferentes transtornos de ansiedade são ou não consequência de uma predisposição genética? São as neuroses consequências da constituição do indivíduo ou produto de certas experiências traumáticas? São hereditárias ou adquiridas? E assim por diante.

O documentário leva o espectador à discussão dessas interessantes questões.

Na próxima semana escreverei sobre a série “O reino”.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

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