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Santa Casa da Vila de NS dos Prazeres de Itapetininga

Artigo escrito por Vanderlei Testa

31 de Agosto de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ARTE: MONTAGEM VT)

Dia 29 de abril de 1888. Apenas 14 dias antes da Abolição da Escravidão no Brasil, pela Princesa Isabel, em 13 de maio. Nascia nessa data a Irmandade da Santa Casa da Vila de Nossa Senhora dos Prazeres de Itapetininga, interior de São Paulo. Na história dos tropeiros consta que em 1724 teriam surgido as primeiras tropas na região da vila de Itapetininga (pedra enxuta), distante a 12 léguas da Vila de Sorocaba. Em 1766 colonos portugueses sob a liderança de Domingos José Vieira avançaram para uma área mais alta de Itapetininga e com a vantagem de possuir dois ribeirões com água límpida. Os pioneiros desbravadores mantendo as suas tradições católicas marcaram essa localidade com uma capela. Nossa Senhora dos Prazeres foi à patrona do que viria a ser hoje a Catedral da cidade. Nessa época ainda sob a jurisdição da Vila de Sorocaba, houve a negociação pelo português Manuel José Braga para a primeira capela do povoamento com o nome de NS dos Prazeres de Itapetininga devido o desmembramento do antigo termo de Sorocaba, o povoamento ganhou seu administrador, capitão-mor Simão Barbosa Franco.

Em 05 de novembro de 1770 um símbolo da autoridade da Coroa de Portugal, chamado de pelourinho, teve o seu levantamento em uma celebração de missa pelo padre Inácio de Araújo Ferreira. Considerava-se assim como a fundação oficial da Vila de NS dos Prazeres de Itapetininga e sua padroeira com a entronização da imagem na capela a ela construída. Um período marcado entre o século 18 e início do século 19 foi de crescimento da vila com o comércio tropeiro. Já havia no povoamento de Itapetininga um casarão sede para registro de passagem de animais e cobrança de impostos das tropas vindas das capitanias do Sul do país. O chamado “Casarão do Registro Velho” erigido para obter dinheiro para a Coroa seguiu funcionando até 1822.

O aumento da população de Itapetininga advinda do comércio regional das tropas e proximidade com Sorocaba exigiu novas iniciativas dos administradores portugueses e do clero católico. Entre elas, a criação da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia. A saúde ainda cuidada empiricamente por falta de recursos ganhava assim em abril de 1888 a sua casa hospitalar cristã. A ata de fundação encontra-se no Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Itapetininga, contou o professor José Luiz Nogueira, historiador na cidade.

A instituição das Santas Casas no Brasil foi o primeiro modelo em hospital. Braz Cubas, fidalgo português na Vila de São Vicente e Vila de Santos iniciou em 1542 a construção da Santa Casa de Misericórdia de Santos. Um marco histórico. Esse é o mais antigo hospital brasileiro inaugurado em 1543, com a autorização de funcionamento de Dom João III.

A Santa Casa de Campinas e o terceiro hospital de Santos construído em 1836 serviram de modelo à Santa Casa da Vila de NS dos Prazeres de Itapetininga. As histórias das Irmandades da Misericórdia vem de Lisboa, Portugal. A dona Leonor de Lencastre, que regia o trono de seu irmão para Dom Manuel, inaugurou em 15 de agosto de 1498 a primeira Irmandade da Santa Casa no mundo, tendo como provedor o Frei espanhol Miguel de Contreras. Em 1525 havia cerca de 60 Irmandades abertas nos países onde a Coroa portuguesa tinha o poder de administrar.

A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Campinas surgiu em 1871, com a iniciativa do padre Joaquim José Vieira. Seu objetivo era atender a população carente da cidade e região. Importante: O padre Joaquim era um jovem sacerdote natural de Itapetininga e foi nomeado como pároco em Campinas. Com os seus 24 anos de idade assumiu a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição em agosto de 1860. De estatura franzina o filho de português, padre Joaquim Vieira, no entanto, se tornou um gigante em misericórdia aos mais necessitados. Com certeza o padre Vieira, primeiro provedor da Santa Casa de Campinas, foi um dos pioneiros em levar de Campinas 17 anos depois (1888), o entusiasmo na construção da Santa Casa de Itapetininga, a sua cidade natal. Relembrando a fundação de Itapetininga, Domingos José Vieira era da família do padre Joaquim José Vieira. Foi um dos lideres na criação da Vila de NS dos Prazeres de Itapetininga. A proximidade das três cidades, Campinas, Sorocaba e Itapetininga e as ligações afetivas do pároco e primeiro provedor Joaquim Vieira certamente complementavam as experiências nas referidas Santas Casas.

Em 2021 a Santa Casa de Itapetininga completou 132 anos de atividades. O professor Luiz Carlos relata que em 2004 passou a se chamar Hospital Regional. Em 2017 recebeu o nome do médico Léo Orsi Bernardes. Desde 28 de julho de 2019 é orientada pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Sorocaba, que é referência nacional entre as Santas Casas. O padre Flávio Jorge Miguel Junior da Arquidiocese de Sorocaba é o atual presidente da Irmandade da Santa Casa de Sorocaba e da Unidade da Santa Casa de Itapetininga. Como diretor da entidade em Itapetininga foi nomeado o padre Valdori Alexandre Rosa. Há uma nova realidade de gestão e atendimento à população seguindo os objetivos cristãos das Santas Casas.

Localizada a 70 km de Sorocaba, a cidade de Itapetininga tem uma população de 165 mil habitantes. Na área da Saúde é atendida por UBS, UPAs, hospitais, AME e a Unidade da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia.

Como gestora da Santa Casa de Itapetininga, a Irmandade da Santa Casa de Sorocaba foi inaugurada no dia 29 julho de 1803. Completou 218 anos de história com muitos desafios, conquistas e mudanças de rumo, mas sem ter perdida a unção original do Espírito Santo que a conduz sob a égide de Nossa Senhora da Ponte, padroeira de Sorocaba.

Hoje, Dia de Santo Inácio de Loyola, encerro o artigo com suas palavras: “Em Tudo Amar e Servir”.

Penso que esse é o carisma das Santas Casas.

Vanderlei Testa jornalista e publicitário escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. Contato: [email protected]