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Crônicas Sorocabanas

Deserto sorocabano

Artigo escrito por João Alvarenga

27 de Agosto de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ILUSTRAÇÃO: LUITZ TERRA)

Talvez, quando você estiver lendo esta crônica, Sorocaba esteja debaixo de chuva. Oxalá, isso se confirme, porque as previsões na TV passam longe, quando o assunto é precipitação pluviométrica. Uma coisa é certa: faz tempo que não chove. Quando digo chuva, não me refiro àquele aguaceiro terrível que, em cinco minutos, deixa a cidade em pânico; mas uma água boa, tranquila e intermitente que seja capaz de afugentar o fantasma do racionamento.

Aliás, sem ser alarmista, esse risco existe, porque a famosa Represa de Itupararanga opera, no momento, com 28% de sua capacidade, algo que deixa muita gente alarmada, porque as torneiras poderão ficar secas. Até pouco tempo, ninguém imaginava que nossa região enfrentaria situação inusitada, já que a palavra “aridez” sempre esteve associada à região nordeste. Para quebrar esse paradigma, os mananciais da região estão no limite. Com a estiagem prolongada, o ar seco lembra o clima de deserto, pois se torna irrespirável em determinados momentos do dia.

Diante desse cenário, muitos questionam o porquê de tamanho desajuste climático. Os cientistas creditam esse descompasso ao aquecimento global, fruto da nossa má relação com o meio ambiente, desencadeada pelo consumismo exacerbado, principalmente nas últimas décadas. Embora muitos ignorem tal fato, isso não é novidade a ninguém, pois a natureza tem dado sinais de desequilíbrio.

Assim, até os céticos estão cientes de que tem chovido menos daquilo que se espera e, com isso, os reservatórios das hidroelétricas também estão comprometidos. Tanto que, para evitar o risco de apagões, o governo acionou as termoelétricas. O problema é que esse paliativo eleva o custo da conta de energia elétrica para os consumidores.

Para finalizar, essa situação lembra o livro “Não verás país nenhum”, de Ignácio Loyola Brandão, no qual o fim da Amazônia, descrito num futuro distópico, gerou um colapso no sistema híbrido, com o fim das chuvas. Embora seja uma ficção, escrita há mais 50 anos, a obra alerta: a água pode acabar!

(*) João Alvarenga é professor de Redação e cronista.