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O pedido de cigarros à moça do caixa no supermercado

Artigo escrito por Vanderlei Testa

24 de Agosto de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ARTE: VT)

Quantos leitores que neste momento leem este artigo já fumaram ou irão fumar um cigarro nesta terça-feira? Um pedacinho de vida e pulmonar evaporou com a fumaça. No Brasil os estudos afirma que 10,2% da população fumam diariamente. A faixa etária de 18 a 24 anos é a mais impactada entre a nova geração. O tema escolhido para esta semana é dedicado ao Dia Nacional de Combate ao Fumo, dia 29 de agosto.

Fui a um supermercado no Alto da Boa Vista, em Sorocaba, para observar como os consumidores compram cigarros. Havia um armário com vidros em frente aos caixas. Estava cheio de pacotes, com embalagens coloridas e atraentes mostrando as marcas famosas. Muitas dessas marcas de cigarros que conheci através dos anos 80 em anúncios de televisão e revistas. Filmes com cavalos, carros luxuosos, mulheres elegantes, casas magníficas, eventos sociais com gente famosa e sempre fumando invadiam o desejo de milhões de possíveis viciados em nicotina. Logo surgiu uma senhora de uns 40 anos passando as suas compras na esteira. Um pedido à moça do caixa: “Quero um pacote de cigarros e disse o nome do produto”. A atendente teve que sair do seu espaço de trabalho e se dirigir até um local para pegar a chave do armário com os pacotes.

Eu estava ao lado do armário, enquanto observava a situação. Nada melhor do que escrever assistindo o fato que desejamos expor. Depois de abrir a porta do armário, com dezenas de pacotes esperando para serem vendidos, lá se foi uma dessas embalagens com a ilustração famosa do ícone cavalo. Vale destacar, emprestado da imaginação dos cowboys das terras americanas. E na conta das compras de alimentos daquela senhora, o que seria para ser um item de energia para a vida, como várias frutas e alimentos nas suas sacolas para alimentar a família, seguiam 20 maços de cigarros.

Pela média diária estudada pelos especialistas e pesquisadores, em cinco dias uma pessoa fuma os vinte maços e gasta mais de R$ 200,00. A empresária Luz Marina Meniconi afirmou: “Fumei durante 23 anos. Arrependo-me tanto de ter jogado dinheiro no lixo”.

Olhando os dizeres da publicidade no armário, fiquei horrorizado com as imagens de cânceres. A frase cigarro mata e ilustrações de pulmões, rostos envelhecidos, corpos deteriorados pela nicotina impressionam quem deseja fumar e acabar com a vida. Nunca fumei. Mas, acredito que esses dez por cento da população que fumam sabem disso.

A moda é o uso pelos jovens do narguilé. Vi nos sites o apelo de levar as pessoas a comprarem algo “saboroso”, seduzindo com frases, “mantenha a cabeça nas nuvens”. Incrível como a moda sabe enganar fácil e preencher o vazio da insegurança pessoal. Os médicos especialistas em coração e pulmão confirmam que a Organização Mundial da Saúde alerta que fumantes têm 40 a 50 por cento a mais de chance de morrer por Covid ou desenvolver uma enfermidade grave. A amiga Ivone Savioli fumou por décadas. Só parou no dia em que enfartou. Ainda está pagando a conta pelos anos de cigarros, me contou Ivone.

Em 2020 a Fundação Oswaldo Cruz pesquisou sobre o consumo de cigarros no Brasil. Infelizmente foi constatado que 34,3 % dos fumantes aumentaram o consumo de cigarros, por ansiedade ou isolamento social. Mais de 5% das pessoas fumantes chegou até a consumir mais de 20 unidades devido à pandemia. A ilusão de que os sintomas da ansiedade irão ser reduzidos com o cigarro é enganadora.

Margarete Jbele durante fumou 30 anos. Um dia chegou decidida na sua casa, depois de ter passado um longo período conversando com os maços “não te fumo mais”. Sou mais forte que você, afirmava. Resultado é que depois de três décadas desse vício, hoje celebra a libertação dos maços de cigarros. Pedro Dal Pian fumou 52 anos. Uma preferência pela vida o afastou do cigarro e das doenças. Salvador Ribeiro segurou os cigarros nos dedos e na boca por 50 anos. Venceu e comemora na mensagem que recebi dele. Luiz Delpy Neto fumou 30 anos e sempre da mesma marca do cavalo. Parou e se orgulha dessa batalha contra o fumo. Para muitas pessoas, uma chupeta nos lábios dos adultos. Norberto Paula me contou que fumou por 29 anos. Uma graça alcançada no Santuário de Nª Sª de Lourdes o fez parar de fumar. Em 10 dias o Guto resolveu usar o Nicorete e nunca mais teve vontade de fumar depois de muitos anos.

Magali Mazzetto Moysés é realista. Dia 16 de agosto de 2016 jogou o maço de cigarros no lixo e falou para si: “Chega, eu mando em mim”. Nunca mais fumou! Uma vitoriosa. Antonio Eduardo Prado relatou: quando nasceu a primeira neta, parou com a sua rotina insana de fumar por 36 anos. Douglas Gomes desistiu porque quis, sem influências externas. Disse que resolveu deixar de ser “um burro fumante”. Fernando Ferreira da Silva fumou desde a sua adolescência. Quando chegou aos 58 cigarros por dia sentiu que tinha que decidir pela sua vida e família. Começou fumando escondido e adulto livre celebra o fim da “escravidão destruidora”.

O médico oncologista Gilson Delgado conversou comigo a respeito do tabagismo. Sua experiência profissional de décadas e dirigente de clinica especializada em tratamento oncológico confirma a gama de prejuízos causados pelo tabagismo. Contou que o tabagismo mata dez mil pessoas ao dia. É uma doença que causa dependência física, psicológica e comportamental semelhante ao que ocorre com o uso de outras drogas, como álcool, cocaína e heroína. Essa dependência existe pela presença da nicotina, que libera uma substância no cérebro, a dopamina, responsável pelo “prazer” que o fumo provoca na pessoa.

O João Carlos Damião me escreveu dizendo que quando conseguir parar de fumar vai avisar. Tomara que depois de ler este artigo o Damião e outros fumantes sejam vitoriosos em abandonar o cigarro e vivam muitos anos.

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. Contato: [email protected]