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Semana do Folclore e dos Historiadores

Artigo escrito por Vanderlei Testa

17 de Agosto de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ARTE: VT)

Dia 19 de agosto será celebrado o Dia do Historiador e no dia 22 de agosto, o Dia do Folclore. Parece que foi ontem. Já se passaram, desde 1978, mais de 40 anos. Nesse ano eu estava como presidente do Grêmio Esportivo Cultural Aparecida (Geca). Essa entidade congregava três mil funcionários da Siderúrgica Nª Sª Aparecida. Funcionava no piso superior do prédio do refeitório da empresa. Uma área de uns 1.800 metros quadrados que abrigava, entre outras atividades, um Centro de Folclore com peças cedidas pelo historiador Sérgio Coelho de Oliveira. Eram muitos vasos e artesanatos de argila da região de Apiaí, no Vale do Ribeira.

Imagino com os “meus botões” que todas as pessoas são historiadoras. Cada ser humano ao ser indagado sobre a história de sua família, do seu trabalho ou da sua infância, por exemplo, poderá ficar horas contando detalhes que nenhum outro historiador conseguiria fazer. Sorocaba possui vários famosos e conhecidos historiadores e folcloristas. Alguns deles, Adolfo Frioli, Sérgio Coelho de Oliveira, saudoso monsenhor Luiz Castanho de Almeida -- Aluísio de Almeida --, Vera Job, José Rubens Incao, Adilson Cezar, Waldemar Iglesias Fernandes, Carlos Carvalho Cavalheiro, Antônio Francisco Gaspar, Sonia Cano, Benedito Cleto e tantos nomes que, na sua sabedoria, cultivaram a história de Sorocaba em seus detalhes desde a sua fundação.

É evidente que ninguém está vivo para relatar com precisão os fatos do início dos 367 anos de Sorocaba comemorados dia 15 de agosto. Mas cada um dos historiadores de Sorocaba possui um rico material bibliográfico que norteia as suas posições. Seja de Sorocaba, da região ou do Brasil. Um dos mais relevantes temas atuais aos pesquisadores está na pesquisa sobre os Tropeiros. Sorocaba é uma cidade que serviu de dormitório aos tropeiros do Sul, bem como dos seus próprios tropeiros que saiam rumo ao Estado do Rio Grande do Sul. Meu pai já fazia em 1940, com o dom de artesão, a charrete com cavalo. A charretinha decora o escritório de seu sobrinho Ivo Gâmbaro que brincava na infância com ela.

Há muita história da indústria têxtil da cidade a ser contada, dos empreendedores Scarpa, Matarazzo, Gasparian, Barbero, Metidieri, Ermírio de Moraes, Pereira da Silva. A ausência de um museu da indústria de Sorocaba é um fato constatado há décadas e, infelizmente, nunca houve a iniciativa para tal concretização histórica. A área de metalurgia é uma delas. Felizmente, o jornalista e historiador Sérgio Coelho implantou a Casa do Tropeiro, Centro de Estudos Históricos Caminho das Tropas. Fica na rua Tobias Barreto, 64.

A Arquidiocese de Sorocaba comemorará em 2024 o centésimo aniversário da sua criação inicial como Diocese, através da posse do primeiro bispo dom José Carlos de Aguirre. Uma comissão formada pelo arcebispo, dom Julio Endi Akamine, sacerdotes e leigos, preparam uma série de solenidades ao importante centenário. Um dos projetos prevê a elaboração de um livro dos 100 anos da arquidiocese. Uma trajetória iniciada por dom Aguirre e que hoje, com a passagem atual de dom Julio e dos bispos vivos e falecidos, há fatos inesquecíveis da história para serem contados.

O Dia do Folclore comemorado no País é um alerta à cultura do Brasil. O objetivo de sua criação foi chamar a atenção para as manifestações denominadas folclore, que é um conceito de conhecimentos de um povo. Fazem parte do folclore: as crenças, costumes, mitos, lendas, advinhas, músicas, danças, festas populares e o que mais o leitor pode interpretar dentro da sua visão folclórica. Pessoalmente, gosto de observar os costumes de raças e povos com suas vestimentas, alimentação, danças, idiomas, relacionamentos e manifestações culturais. Em Sorocaba, a Mary Dantas Agostinelli divulga o folclore do Norte e Nordeste. Tive a oportunidade de conviver com cerca de cinco mil pessoas de 70 países em um Encontro Internacional em Lourdes, na França, e outro em Fátima, Portugal. Além de um evento em Brasília com milhares de participantes estrangeiros. A alegria contagiante dos casais angolanos, por exemplo, começava pelas vestes coloridas, sorriso aberto de felicidade e entusiasmo nas danças folclóricas.

As infinitas opções a serem consideradas como manifestações dos povos indígenas são visíveis às suas tradições de tribos. Pintura no corpo, caça aos animais, brincos nas orelhas feitos de madeira, com alargamento também nos lábios, danças e preparo para a caça, chamam a atenção dos estudiosos e folcloristas. Em Sorocaba a colônia japonesa têm suas raízes concentradas no clube Ucens, com a manutenção de seus costumes. Sempre que possível a entidade realiza a sua festa com a presença da população. Nas vezes que participei, a gastronomia e danças conquistavam a simpatia dos sorocabanos. Outra destacada ação folclórica é a dança flamenca espanhola pelas ruas do bairro do Além Ponte. O livro “Os Espanhóis” e a Casa da España são exemplos do esforço da colônia com tradição cultural em Sorocaba. Também os italianos são mantenedores das tradições com suas festas da diretoria da Societá Culturale Di Sorocaba, através das iniciativas de Valdir Paezani.

No dia 16 de agosto de 2019 escrevi o meu primeiro artigo neste espaço do jornal Cruzeiro do Sul. Em dois anos, que completei ontem, foram 96 artigos e aproximadamente 96 mil palavras impressas. O meu artigo inicial referiu-se a um bolo de araruta da minha saudosa mãe. Considero essa iguaria que ela manteve em vida e trazida de sua descendência italiana, como parte das homenagens do Dia do Folclore e do Dia do Historiador. Folclore porque, na sua juventude, na usina de açúcar onde trabalhava em corte de canas, aos domingos os colonos se reuniam para dançar tarantela e conversar saboreando os bolos de araruta. História a ser contada aqui pelo seu filho, que adora buscar como todos os historiadores, os fatos que nunca se apagam da memória e do coração. Os jornalistas do jornal Cruzeiro do Sul, em seus 118 anos de existência, também são historiadores de Sorocaba. A cada dia, perpetuam as notícias para as próximas gerações de pesquisadores.

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. Contato: [email protected]