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Crônicas sorocabanas

Ladrões de bicicleta

Artigo escrito por João Alvarenga

13 de Agosto de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ILUSTRAÇÃO: LUITZ TERRA)

O sonho de muitos sorocabanos de circular livremente pelas ciclovias, para escapar de um trânsito caótico, infelizmente, está ameaçado. Notícias dão conta de que esses espaços, idealizados como uma alternativa segura de mobilidade urbana, tornaram-se locais muito perigosos. Em alguns trechos menos movimentados, ciclistas são surpreendidos por ladrões que, mediante abordagem agressiva, levam as bikes.

Mas, afinal, por que esse crime cresceu na cidade? A resposta é simples: depois que a popular magrela perdeu o rótulo de mero meio de transporte popular e ganhou status de bike, tornou-se objeto da cobiça alheia. Pois, os modelos ganharam sofisticação, com custos que ultrapassam os R$ 5 mil. Ou seja, a simples bicicletinha foi promovida e isso chamou a atenção da bandidagem, que viu nisso uma nova forma de ganhar um dinheirinho fácil.

Afinal, quem circula com tal preciosidade, por estar distraído, nem sempre imagina tal ataque. Relatos das vítimas mostram que os gatunos de plantão atacam geralmente mulheres, pois não impõem resistência. Outro agravante: há pontos, ao longo da ciclovia, que favorecem os criminosos, pois passam por corredores de árvores, verdadeiros esconderijos.

Além disso, há trechos, no traçado, que se distanciam da marginal. Ausência de câmeras também ajuda os bandidos. Se por um lado, a paisagem torna o passeio agradável, por outro, os pedalistas estão expostos a riscos. Para que a onda seja contida, o ideal é que os amantes desse esporte sempre pedalem em grupo e, de preferência, em horários menos visados.

Tal situação inusitada pela qual os ciclistas locais passam remete os leitores mais antigos a um clássico do realismo italiano, o inesquecível “Ladrões de Bicicletas”, do consagrado diretor Vittório de Sicca. A trama mostra, no pós-guerra, a dura realidade de um operário que, não só perde o emprego, mas também sua única relíquia. No filme, o produto do roubo foi trocado por comida. E, nos dias de hoje, qual o destino das magrelas? Com a palavra, as autoridades.

(*) João Alvarenga: professor de redação e cronista.