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Quem é pai vive o Dia dos Pais todos os dias

Artigo escrito por Vanderlei Testa

03 de Agosto de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ARTE: VT)

Dia 8 de agosto é o Dia dos Pais. Uma data que faz tocar os corações dos filhos e pais. Nem sempre há sintonia entre pais e filhos. Quando fico sabendo de algum caso de rejeição e ouço o desabafo de filhos e pais, confesso que não entendo. Isso, porque, encontro nas lágrimas de pais, ao relatarem o afastamento dos filhos, que quase sempre o motivo é financeiro. Heranças e disputas familiares por bens materiais. E se o pai é viúvo ou separado e casou de novo, além dos ciúmes para com a nova companheira do pai, entra o egoísmo da conquista da futura partilha.

Escrever e refletir sobre esse tema também tem o lado positivo de amor fraterno de filhos aos pais. Recentemente, no mês de julho, os filhos Paulo, Márcio e Eduardo Nascimento perderam o pai, o médico Antônio Benedito Nascimento. Em poucas palavras resumiram o que todo pai gostaria de ouvir todos os dias: “O melhor de todos. Pai, mestre, professor. Amamos você”. Os três filhos expressaram o sentimento da perda do pai. “Pai, a mãe e o céu estão em festa”. Partindo dessa profunda introspecção de quem foi gerado no ventre de uma família que honra pai e mãe, entendemos a importância da família.

A história do médico dos pobres da zona rural, atendendo em seu sitio aqueles que o procurava, me leva a pensar também nos pais do doutor Antônio Benedito. Se ele tinha esse dom misericordioso e acolhedor é porque tinha aprendido em sua formação o respeito humano. Nos muitos testemunhos de seus pacientes com mais de 40 anos de atendimento clínico em seu consultório em Sorocaba, a mesma afirmação de gratidão pelo jeito humanista de sua competência acolhedora. O doutor Antônio Benedito Nascimento foi um pai de milhares de pessoas que ajudou a viverem melhor.

O meu pai, Ernesto, partiu com 86 anos de idade. Nasceu no dia 5 de agosto. Estive ao seu lado até a noite em que se despediu deste mundo. Acompanhei a sua entrada na UTI do Hospital Santa Lucinda. Naquele olhar de despedida havia no meu pai a compaixão, a oração e o pedido, “cuide de sua mãe”. Pai de cinco filhos, três falecidos. Tenho muita saudade desde o meu tempo de criança quando via meu pai chegar do seu trabalho à nossa casa. Cuidava da família como um bem maior da sua vida. Sua descendência italiana infundiu nele a sabedoria e serenidade. Ele gostava de pássaros, plantas e de fazer pequenos reparos às necessidades dos vizinhos. Nunca cobrou um centavo de ninguém. Sua profissão na Estrada de Ferro Sorocabana o preparou para essa atividade de manutenção. A nossa casa sempre estava com visitas de amigos dos meus pais. Um testemunho que deixaram sobre simplicidade e generosidade é o que me vem à memória neste instante. Eles acolhiam com café e leite na mesa e o pão caseiro amassado pelas mãos de mamãe.

O papa Francisco escreveu um livro cujo título é “O verdadeiro poder é o serviço”. Entendo que o meu pai, Ernesto, sem ler essa obra, aprendeu na vida a exercer o seu poder paterno com o serviço à família e ao próximo. O seu desapego material marcou minha existência. O passarinho canário que mais cantava no seu viveiro atraia os “passarinheiros”. Depois de uma longa conversa saiam de casa levando de presente o filhote do amarelinho cantor. Se ele precisava exercer alguma autoridade, preferia dialogar e entrar em acordo ou até perder.

O Dia dos Pais em 2021 será diferente, como o foi em 2020. A pandemia e a Covid certamente deixaram tristezas a milhares de pais que perderam os seus filhos. Esta semana conversando com um amigo sobre sua esposa e filha de apenas 36 anos que a Covid levou, pude sentir a dor que ele passa. Sou pai da Camila. Desde o dia do seu nascimento, posso afirmar que nestes 40 anos de sua vida acompanho sua existência diariamente. Ser pai e estar pai exigem atitudes de alma, de coração. Jamais deixei de dizer eu te amo todos os dias. A frase que recebo “eu também te amo” é o melhor presente que recebo nestas décadas. Tenho dezenas de desenhos e bilhetes desde a sua infância pré-escolar que guardo com carinho. Nas viagens que fazia no meu trabalho e que exigiam estar fora de Sorocaba, sempre acompanhavam na bagagem os bilhetes de presença e de orações. Isso justifica o título do artigo que quem é pai vive o Dia dos Pais todos os dias.

Vik Muniz é o nome artístico do Vicente José de Oliveira Muniz. Como o tema é o Dia dos Pais, eu destaco o presente do pai do Vick. Sua avó o ensinou a ler. Com sete anos de vida, o Vick já lia enciclopédia. Detalhe: enciclopédia ganha pelo pai em um jogo de bilhar. Ele lembra que o pai trouxe os livros para casa em um carrinho de pedreiro. Seu pai é um ídolo que lhe deu o maior presente da sua vida. A leitura. Agora, Vick Muniz oferece ao pai e ao mundo, o presente eterno da gratidão nas imagens de suas obras. Uma delas é a obra do John Lennon, em grãos de café.

O pai da Sabrina, Juliana e Renato Soranz é o Fernando Soranz. Ele é paparicado pelos filhos e netos o ano todo. A cada dia, esse amor paterno se manifesta presencial ou virtual. Sua filha Sabrina mora nos Estados Unidos e a Juliana em São Paulo. Como presidente patronal do Sincomércio, Fernando incentiva o Dia dos Pais para prestigiar o comércio varejista de Sorocaba. Já como pai, essa data lhe traz recordações de sua infância com o pai, Romeu, o amigo que sempre estará no seu coração como um exemplo de vida.

Feliz Dia dos Pais!

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. Contato: [email protected]