Buscar no Cruzeiro

Buscar

Filmes da Netflix: ‘No vale das sombras’ (Parte 1 de 4)

Artigo escrito por Nildo Benedetti

23 de Julho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Hank (Tommy Lee Jones) e Emily (Charlize Theron) buscam o assassino de Mike.
Hank (Tommy Lee Jones) e Emily (Charlize Theron) buscam o assassino de Mike. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

“No vale das sombras” (“In the valley of Elah”, em inglês) de 2007, do diretor canadense Paul Haggis, trata das profundas mudanças de personalidade que ocorrem em homens e mulheres quando vivem os horrores da guerra, quer como participantes ativos, quer como vítimas. Esse é um tema recorrente no cinema e nesta coluna escrevemos sobre várias obras então disponíveis na Netflix como, por exemplo, “Beasts of now nation”, “Nascido em 4 de Julho”, “Soldado anônimo”. E quando se fala em filmes dessa temática, como não lembrar de “Apocalipse now”, que Francis Ford Coppola dirigiu em 1972 sobre a insanidade e a tragédia da guerra do Vietnã?

Hank, um veterano do Vietnã e que agora transporta cascalho no Tennessee, é comunicado pelo Exército de que seu filho Mike, que acabou de voltar da guerra do Iraque, corre o risco de ser denunciado como desertor porque deixou de se apresentar com seu batalhão no Fort Rudd, no Estado americano do New Mexico. Hank duvida que o filho tenha se ausentado espontaneamente e, por isso, viaja para a base militar. Empreende uma peregrinação detetivesca para saber o que ocorreu com Mike. Recorre ao exército, visita restaurantes e shows de topless; recorre também à polícia local, onde é atendido pela sobrecarregada detetive Emily.

Um cadáver carbonizado e reduzido a pedaços, que Hank identifica como sendo o corpo do filho, é encontrados em um matagal. O jovem havia sido atacado com pelo menos 42 facadas, o que mostra o ódio com que o assassinato havia sido executado. Visita o quarto do filho e furta o seu celular, que foi seriamente danificado pelo calor do Iraque. Um técnico competente consegue salvar imagens e vídeos; embora de má qualidade, o material é suficiente para mostrar os horrores da guerra. Daí para a frente, Hank continua suas buscas para localizar o responsável pelo crime através de um labirinto de pistas -- algumas falsas, outras não -- fornecidas por todos os lados que confundem a detetive Emily e Hank. Todas esses obstáculos que se opõem à investigação faz o espectador desconfiar de que ocorreu “queima de arquivo” de parte do exército, uma vez que Mike havia vivido e filmado o inferno da guerra.

A confissão do crime pelo assassino de Mike sintetiza a tese do filme: a tortura, a violência, a prática de assassinatos sem o menor escrúpulo se tornam corriqueiros para quem viveu a barbárie da guerra. Um soldado chega a afirmar que os Estados Unidos deveriam destruir o Iraque com bomba atómica e que Mike adorava o Exército, queria chegar lá para salvar os bons e matar os maus. Milhares de soldados americanos, principalmente depois de deixar as frentes de combate, tiveram a vida completamente destruída por PTSD (“Transtorno de estresse pós-traumático” em português). Vivem às custas de remédios psicotrópicos fortes, realizam visitas constantes a psiquiatras e mesmo assim sofrem de crises que não os deixam viver como anteriormente, quer emocionalmente, quer profissionalmente. Em todas as camadas da sociedade, famílias inteiras são afetadas, casamentos são destruídos.

Hank descobre que essa condição psicológica criada pela guerra levou à morte prematura do filho.

Continua na próxima semana.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.

[email protected]