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Crise hídrica é só o começo

Artigo escrito por Mário Eugênio Saturno

20 de Julho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Mário Eugênio Saturno.
Mário Eugênio Saturno. (Crédito: Divulgação)

Os senadores, deputados federais e estaduais e vereadores tiveram uma grande oportunidade de salvar o Brasil da crise hídrica grave que vivemos hoje. Novas crises virão e que serão, na média, piores a cada ano. Se já temos problemas de água para gerar energia elétrica, teremos escassez de água para beber.

Em março de 2007, eu escrevia o artigo “Verdade inconveniente e urgente”, em que aproveitava o grande sucesso do documentário do Al Gore para denunciar a participação brasileira no aumento da quantidade de gás carbônico, especialmente a queimada de biomas brasileiros. Eu ainda mostrava as consequências nefastas da devastação da floresta amazônica.

Já naquela época, os cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) deixavam muito claro que o desmatamento acelerado causaria um grande impacto para o clima de toda a América do Sul. Não somente para a própria Amazônia, mas para o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, que se tornariam um grande deserto. Não exatamente um deserto do tipo do Saara, mas do tipo savana. Isso, porque, grande parte das chuvas de São Paulo e Brasília é devida à umidade que vem da Amazônia por um processo chamado de evapotranspiração, ou seja, as árvores grandes e centenárias retiram água do subsolo amazônico através de suas raízes de até 18 metros de profundidades e umedecem o ar pela transpiração das folhas. Nem se falava em rios aéreos ainda. Sem a floresta centenária do Amazonas, sem umidade e sem chuvas no Sudeste. O mais triste é queimar árvores centenárias inutilmente, nem para gerar energia. Um crime imensurável ao patrimônio nacional.

Há exatos dez anos, eu escrevia o artigo “Deserto mineiro”, em que mostrava um estudo feito pelo Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste, que estimava que um terço de Minas Gerais viraria um deserto em 20 anos, se continuasse a agressão ao meio ambiente. Em detalhes, além do aquecimento global, o desmatamento, a monocultura e a pecuária intensiva empobreceram o solo de 142 municípios daquele Estado, impactando um quinto da população mineira.

É claro que a seca deste ano tem como causa principal o fenômeno natural La Niña, que é causado pelo resfriamento das águas superficiais do Pacífico Equatorial, na região da costa do Peru. Quando as águas estão mais frias do que o normal, geram uma alteração na circulação de ventos e umidade. Na região Centro-Sul do Brasil, a tendência é de estiagem.

Cabe lembrar que se replantarmos a floresta amazônica, ainda assim vai demorar mais de cem anos para recuperar o efeito do rio aéreo que tínhamos décadas atrás. Será que agora senadores e deputados entenderão que precisam salvar a Amazônia e os outros biomas brasileiros? Cada dia conta.

Os deputados estaduais e vereadores também precisam agir para salvar as nascentes de águas e criar leis que identifiquem e protejam essas nascentes e, ainda, que incentivem o uso das águas das chuvas, cujas enchentes mostram o quanto de água gratuita é desperdiçada e que causam destruição. É água que deveria ser coletada na propriedade e ser infiltrada no solo para reposição dos aquíferos.

Mário Eugênio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é tecnologista sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e congregado mariano.