Buscar no Cruzeiro

Buscar

A saga dos Cardoso de Mondego

Artigo escrito por Vanderlei Testa

29 de Junho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: ARTE: VT)

 

Ouvi do amigo Sérgio Antonio Cardoso o nome da sua cidade de origem: Vila Boa do Mondego, Portugal. Foi em uma conversa regada a café. Nascia aí a inspiração deste texto. A decoração da sua sala enche nossos olhos com um quadro ilustrado pelas fotos antigas de seus pais e irmãos que ilustra este artigo. Do outro lado da mesa, há uma recordação da família Cardoso em um casamento com dezenas de descendentes. Móveis tradicionais em madeira e o ar que respiramos parecem se juntar na história dos 58 anos da família Cardoso em Sorocaba.

Lá na pequena aldeia portuguesa Vila Boa do Mondego a “freguesia portuguesa de Celorico da Beira”, tem 10,96 km² de área e 107 habitantes. Dá uma média de 9,8 habitantes por quilômetro quadrado. Viajei no tempo ao folhear as fotografias do Sérgio Cardoso. Os pais, Maria Augusta Mimoso e Antônio Cardoso, com suas almas de anjos protetores, são os responsáveis pelo sucesso dos filhos. A pequena aldeia agrícola de Mondego ouviu os primeiros chorinhos da vida do primogênito Agostinho e, depois, do Sérgio, Fernando, Joaquim Antônio e da Cisália. As poucas possibilidades do comércio local e de escolas levaram os pais a matricularem os filhos em vilas e freguesias.

Sérgio relembra dos 14 anos de idade nos colégios. A educação lhe proporcionou capacitação futura no brasil. Esse foi o caminho adotado pelos pais na formação dos filhos. Apesar do sonho inicial de imigrar aos Estados Unidos, quis a providência divina, através de um amigo português que morava no Brasil, que os Cardoso aqui aportassem. O patriarca Antônio chegou primeiro. Uma imagem de Nª Sª Aparecida e a sua fé na padroeira do Brasil foi uma inspiração que conduziu a família até as nossas terras. Em São Paulo, Sérgio Cardoso teve sua experiência de trabalho em uma banca de feira no bairro Concórdia. Vi uma foto dessa barraca repleta de queijos, azeite de oliva e muitos produtos a granel. Era um verdadeiro empório montado de madrugada na rua e desmontado ao meio dia. Todos os dias a mesma rotina, como ainda hoje, vemos os feirantes trabalharem em Sorocaba.

Nas aventuras empresariais do arrojado Sérgio Cardoso chegou a vez de uma padaria e restaurante em um casarão no Brás, na capital. O curioso dessa história é que o Sérgio foi designado pelo pai para tocar o negócio. Chegou ao primeiro dia para comandar o comércio sem saber exatamente o que tinha de ser feito. O que o salvou foi um ex-funcionário do antigo dono que conhecia tudo. Foi tal de fazer pão, lanches, café e preparar o dia da casa porque em São Paulo o povo está com pressa e quer na hora o seu pedido, lembra Sérgio. Mas, no final deu certo, apesar do sufoco.

O fato marcante da vida da família Cardoso em Sorocaba começou no dia 1º de março de 1963. Há 58 anos o Pastifício Paulista era a marca dos Cardoso na cidade. Começaram na rua da Penha. O macarrão foi o produto “carro chefe”. Chegaram a desensacar 300 sacas com 50 quilos cada de farinha todos os dias. O crescimento da empresa forçou a saída do centro para a avenida São Paulo, em um prédio amplo para os novos equipamentos. Os irmãos Cardoso foram pioneiros em importar uma máquina veloz para ensacar os macarrões em pacotes. Eram cerca de 60 pacotes por minuto. Um recorde da indústria brasileira que conseguia fazer em suas máquinas apenas cinco pacotes nesse tempo. Com o aval dos empresários brasileiros, Sérgio conquistou essa proeza com seus pais e irmãos.

Em outro lance fenomenal de visão de negócios, surgia em Sorocaba o Supermercado da Paca, na rua São Bento. Mais uma iniciativa da família Cardoso. Sucesso absoluto de vendas. Conquistaram com o comércio “Paca” destaque no Estado de São Paulo por comprarem grandes cotas de produtos entre os maiores fornecedores brasileiros. Encontrei, em uma série de fotografias que olhei com muita curiosidade, um desfile realizado nas ruas da cidade com os veículos do pastifício. Um fato inédito que atraiu a população para ver uma enorme embalagem do macarrão “Mimovo”, na época, era a marca da família inspirada no nome da matriarca Maria Augusta Mimoso.

Duas mocinhas ao lado do carro alegórico e dezenas de peruas Kombi e caminhões seguiam atrás com suas buzinas e faixas alusivas. Com a venda do pastifício, a família entrava no ramo da construção civil. Entre dezenas de prédios já construídos em Sorocaba, o Edifício A. Cardoso, nome em homenagem ao pai, se destaca ainda na rua Sete de Setembro, por seu porte de salas comerciais e pioneiro na cidade.

Os 58 anos passaram e a mesma amizade e fraternidade de irmãos permanecem sob as bênçãos dos pais. Lá onde estiverem continuarão vivos na emoção, sentimentos e respeito de cada filho que valoriza, em especial, a unidade de todos os irmãos da família Cardoso. Suas salas de trabalho estão próximas e a conversa diária para animar as tardes de lazer, o sorriso, viagens e o carinho de cada um se manifesta igual aos tempos da Vila Boa do Mondego. Lá em Mondego de calças curtas, crianças sorrindo como o pai, vivendo na aldeia. Agora, sem o saudoso irmão Agostinho, Sérgio, Fernando e Joaquim Antônio transmitem o brilho e as graças de Nossa Senhora de Fátima, padroeira de Portugal, sobre a família Cardoso. Essa fé permanece viva na Igreja de Santa Rosália, em Sorocaba, com a imagem trazida de Fátima e doada pelos irmãos Cardoso.

Nas celebrações dos 58 anos de Sorocaba, a homenagem maior, a oração e a emoção dos filhos Serginho e Célia Regina ao relembrarem os passos de suas vidas, certamente se dirigirão em prece de agradecimento a Deus por ter escolhido para seus pais o casal Maria Augusta e Antônio Sergio Cardoso, cuja descendência possibilitou as suas gerações.

Vanderlei Testa é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no jornal Cruzeiro do Sul. Contato: [email protected]