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As máscaras escondem, revelam e ... protegem

Artigo escrito por Dr. Tulio Pereira Cardoso

25 de Junho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: REPRODUÇÃO / INTERNET)

Máscara, substantivo feminino do italiano maschera é objeto destinado a cobrir o rosto ou parte dele. Serve múltiplos propósitos dependendo da forma e do material. Disfarce e proteção são as funções mais usadas. Como disfarce são usadas nos bailes de carnaval e festas a fantasia. Na Veneza dos Doges, os nobres que gostavam da festa e queriam participar com a “galera”, como se diz hoje, usavam máscaras para não serem reconhecidos pelo povo*.

Como proteção são utilizadas na prática esportiva como esgrima e basebol, assim como no trabalho de soldadores, apicultores e trabalhadores da saúde. Na medicina a máscara cirúrgica protege o paciente, o médico e a enfermagem.

Na anestesia temos as máscaras para inalação de medicamentos e oxigênio. O gesto de maquiar revela uma espécie de máscara usada principalmente pelas mulheres. Máscaras cosméticas ou dermatológicas objetivam o tratamento da pele. Em rituais religiosos e festas folclóricas é comum o uso de diversos modelos de máscaras. Índios e aborígenes de diversas etnias em várias partes do planeta, usam pinturas faciais como máscaras de festa ou de guerra. Existem também as máscaras mortuárias moldadas em gesso. O palhaço usa pintura e um nariz vermelho em forma de bola.

A arte do teatro é representada simbolicamente por duas máscaras, a da comédia e a da tragédia. Na mitologia grega, Dionísio ou Baco é tido como deus do vinho e do teatro. Os atores do teatro grego do séc.V a. C. usavam máscara nas suas apresentações em homenagem a ele. Segundo Carl Jung, criador da Psicologia Analítica, essa máscara era chamada de persona que em latim significa aquilo que ressoa e amplifica a voz.

A Comédia Dell’Arte do Renascimento, no século XVI, era um teatro popular itinerante em que os personagens usavam máscaras. Talvez o Arlequim seja o mais conhecido.

O teatro Kabuki, tradição japonesa desde o século XVII, utiliza o pó-de-arroz como base do oshiroi para criar uma máscara branca com linhas faciais bem marcadas expressando a dramaticidade do enredo ou imitando animais e entes sobrenaturais. A literatura e o cinema são ricos em heróis e vilões mascarados como o Zorro, Fantasma, Batman e Robin, Coringa, Mulher-Gato, Super-Homem, Homem-Aranha e outros. Não podemos esquecer dos Irmãos Metralha.

No filme “O Máskara”, o protagonista de dupla personalidade transforma-se totalmente quando veste a máscara mágica. Sem ela aflora o lado fraco da sua personalidade. Houve tempo em que assaltantes usavam máscaras, às vezes apenas lenços sobre a face. Hoje é comum usarem capacetes.

A máscara mantém o mascarado escondido e parece que isso lhe tira a timidez e aumenta a coragem. Dessa forma, as mídias sociais podem ser vistas como uma forma de máscara. Ela esconde o tímido, eventualmente o covarde, e na verdade pode revela-lo. O eu que vira o outro, com a máscara se exterioriza.

Infelizmente a máscara esconde arruaceiros e ativistas como os “black blocs” que popularizaram a máscara com o rosto de Guy Fawkes** estilizado por Salvador Dali.

Existem sentidos figurados para o termo máscara. Algumas pessoas usam essa máscara social para manter relacionamentos, para fingir ser o que não são, para demonstrar um poder que não possuem e uma coragem que não têm. Mas, sem exceção, um dia a máscara cai. Ninguém engana todos o tempo todo por muito tempo. Na política, as falsas promessas demagógicas das campanhas eleitorais, caracterizam a triste máscara que nos leva a desacreditar no sistema e não ter esperança em soluções possíveis e justas. O culpado é o mascarado que promete o impossível.

Nos dias atuais, devido a pandemia viral que assola o mundo; mesmo que muitos não acreditem nisso e criem inúmeras teorias conspiratórias, apesar da eloquente evidência de doentes e mortos, o uso de máscaras protetivas certamente promove enorme redução do contágio e de mortes. Protege quem usa e quem está a sua volta.

Gente séria e responsável usa e dá bom exemplo de cidadania. Obedecem não só as orientações de organismos e autoridades de saúde nacionais e internacionais, como o instinto de sobrevivência e a observação dos acontecimentos.

*Carnaval e Ortopedia - www.jornalcruzeiro.com.br/opiniao/artigos/carnaval-e-ortopedia

** Soldado inglês e católico foi um dos membros da Conspiração da Pólvora que queria matar o rei protestante James I em 1605

Dr. Tulio Pereira Cardoso, com título de Especialista pela Soc. Bras. de Ortopedia e Traumatologia é Fundador do Grupo de Estudos do Joelho de Sorocaba (e-mail [email protected])