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Filmes da Netflix: 'O filho'

Artigo escrito por Nildo Benedetti

25 de Junho de 2021 às 00:01
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Sigrid (Heidi Toini) e Lorenzo (Joaquín Furriel) vivem relação insana com respeito ao filho.
Sigrid (Heidi Toini) e Lorenzo (Joaquín Furriel) vivem relação insana com respeito ao filho. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

O diretor argentino deste “O filho”, Sebastián Schindel, é o mesmo do excelente “Crimes de família”, já citado nesta coluna e ainda disponível na Netflix. Lorenzo Roy é um pintor com passado de alcoolismo e histórico familiar conturbado. Sua ex-mulher e as duas filhas vivem no Canadá. Agora tem uma nova esposa Sigrid, bióloga norueguesa que veio à Argentina fazer estudos referentes à profissão. A atual série de pinturas que Lorenzo deseja expor é inspirada em pesquisas da mulher.

Na abertura do filme vemos gráficos e fórmulas matemáticas diversas, incluindo espirais ilustrativas da proporção áurea, também conhecida por proporção divina, de larga aplicação nas artes grega e renascentista e que chegou até nossos dias. É um sinal da ordem do Universo. Mas, juntamente com a harmonia sugerida por esses recursos matemáticos, misturam-se, de forma confusa e arbitrária, micro-organismos vistos em microscópio que formam figuras abstratas. Esta superposição de ordem e desordem serve de alerta ao espectador de que assistirá a um filme que combinará determinação e indeterminação.

Sigrid engravida e, durante o período de gravidez se automedica, recusa-se a tomar qualquer medicamento indicado pelo médico e revela que dará à luz em casa. Faz a sombria parteira da família, Gudrum, vir da Noruega para assisti-la.

O filme se desenrola paralelamente em duas linhas narrativas: uma que principia com o empenho de Sigrid de ter um filho e outra em que Lorenzo está encarcerado, ferido e respondendo a um processo por violência contra Sigrid.

Depois do parto, a criança é mantida em local escuro porque Sigrid diagnostica que ela sofre de fotofobia; as visitas de Lorenzo à criança são rigorosamente controladas pela mãe e pela sinistra parteira. Seu berço é instalado no porão da casa que serve de laboratório a Sigrid e que é cuidadosamente climatizado

Em textos científicos leio que a “Síndrome de Münchhausen”, também conhecida como transtorno factício, é um transtorno psicológico em que o paciente inventa sinais psicológicos e físicos e induz ferimentos ou doenças em si mesmo. Apresenta-se para outros como doente, incapaz ou lesionado e normalmente possui conhecimento de práticas médicas. Embora os sintomas sejam fraudados pelo paciente, a origem da síndrome é inconsciente.

Sigrid parece portadora de uma variante desse transtorno chamada de “Por Procuração” (‘By Proxy‘em inglês). O paciente, ao invés de provocar os sintomas em si mesmo, causa ou simula a doença em outra pessoa, geralmente uma criança. É considerada uma forma séria de abuso infantil com altas taxas de reincidência e mortalidade. O perpetrador do abuso geralmente é a mãe. Propaga a ideia de que a criança está doente e fabrica sinais e sintomas psicológicos e físicos, chegando a infligir lesões ou gerar doenças no filho.

Por outro lado, Lorenzo é diagnosticado como portador de “Síndrome de Capgras”, um transtorno raro que se caracteriza pelo fato de o paciente crer que um conhecido, normalmente um cônjuge ou outro membro familiar próximo, foi substituído por um impostor idêntico.

Na próxima semana escreverei sobre “Um homem de sorte”

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec

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