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História

Valentine’s Day

Artigo escrito por Edgard Steffen

12 de Junho de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Dia dos Namorados
Dia dos Namorados (Crédito: Reprodução)

Não é só com beijos que se prova o amor
(Bordão publicitário de antiga loja paulistana)

O mundo inteiro, ou melhor, para os países que o celebram, o Dia dos Namorados é 14 de fevereiro. É o Dia de São Valentim (nascido em Terni, Itália), dia em que o santo foi decapitado por contrariar ordem de Cláudio II (270 d. C.). O imperador proibira que os soldados romanos se casassem, porque o casamento enfraqueceria combatentes. Valentim os casava em segredo. Na prisão, o sacerdote apaixonou-se pela filha do carcereiro. A moça era cega; a cura da amada, o primeiro milagre do santo. Àquela época, os romanos celebravam a Lupercália, festa dedicada aos deuses Juno (fertilidade) e Pan (natureza). Os rapazes escolhiam as moças com quem passariam os três dias de festejos. Costumavam surrá-las com tiras de couro de bode e, conforme a reação da eleita, tomavam-na como esposa. A Igreja acabou com a farra dos lupercais e substituiu a festa pagã pelo dia cristão dedicado aos namorados.

Antes de ser levado ao cadafalso, Valentim teria escrito bilhete à amada e assinado “De seu namorado”. Nos Estados Unidos é comum a troca de cartões alusivos ao Valentine’s Day. A precursora desse costume, Esther Howland, faturou US$ 5.000 com a venda desses cartões, em 1810.

No Brasil, o Dia dos Namorados é mais uma jabuticaba. Comemora-o em 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio. Antônio -- nascido Fernando, em Lisboa, 1195, e falecido em Pádua (Itália) aos 13 de junho de 1231 -- é um dos santos mais conhecidos do hagiológio. Numerosos são os feitos e milagres a ele atribuídos. Em nosso País é o “santo casamenteiro”, alvo de muitas folclóricas simpatias por parte das solteiras.

A origem da celebração especial aos namorados deve-se ao empreendedorismo do proprietário de duas lojas, uma para artigos masculinos (A Exposição) e outra para artigos femininos (Clipper). O nome original era Camisaria Capital, mas, temendo a veiculação de seu estabelecimento com o “O Capital” de Karl Marx, mudou o nome para Exposição Clipper S/A. Empreendedor atento, inspirou-se na Argentina para criar o Crediário Brasil, facilitador das vendas. Trouxe dos USA uma novidade -- a primeira escada rolante. Ofereceu ônibus gratuitos para transportar fregueses de uma loja para outra. Quando sentiu que junho era mês fraco em negócios, contratou publicitário para alavancar vendas no período.

O publicitário baiano João Agripino da Costa Doria Neto (1919 - 2000) ungiu a véspera de Santo Antônio como o Valentine’s Day caboclo. A campanha das lojas e o bordão promocional “Não é só com beijos que se prova o amor” estimularam a troca de presentes e o Dia dos Namorados “pegou”. Até hoje acompanha Natal e Dia das Mães, entre as campeãs em vendas. O publicitário virou político e as lojas geradoras foram ombreadas às maiores da época (Mappin Stores, Mesbla, Sears). Duraram até 1970. O político foi cassado pelo Ato Institucional nº 1 (1964). O filho dele -- João Doria -- hoje governa o Estado de São Paulo.

Os fãs de cinema talvez se lembrem do Valentine’s Day (Chicago, 1929) por causa do massacre ocorrido em um estacionamento com saldo de sete mortes. Famosos filmes retrataram o conflito entre quadrilhas.

Pensando bem, a Covid-19 vem provocando conflitos, massacres e mata muito mais gente que os mafiosos da velha Chicago. Pense nisso.

Não se aglomere. Vacine-se. Não se esqueça de tomar a segunda dose. Não saia sem máscara. Água e sabão ou alcool-gel, quando necessário, representam proteção. Para flores e presentes, use o delivery. Comemore em segurança e terá muitos dias a comemorar seu amor.

Edgard Steffen ([email protected]) é médico, escritor e membro da Academia Sorocabana de Letras (ASL).