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Filmes da Netflix: ‘A ilha do medo’

Artigo escrito por Nildo Benedetti

28 de Maio de 2021 às 00:01
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Teddy (Leonardo di Caprio) é envolvido em uma aventura de segredos assustadores.
Teddy (Leonardo di Caprio) é envolvido em uma aventura de segredos assustadores. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

De Martin Scorsese, diretor norte-americano deste filme de 2010, apresentamos nesta coluna um artigo sobre “O irlandês”, também disponível na Netflix.

Shutter Island é uma ilha remota perto de Boston, escarpada, onde um forte da época da Guerra Civil Americana (1861 - 1865) foi transformado em prisão para criminosos violentos com sérios distúrbios mentais. Os agentes federais Teddy Daniels e seu novo assistente, Chuck Aule, foram destacados para investigar o misterioso desaparecimento de uma paciente perigosa que cumpria pena por ter afogado seus três filhos. O presídio psiquiátrico abriga também um homem que incendiara a casa de Teddy, matando sua esposa Dolores.

O lugar, o clima tempestuoso, a música de grandes compositores como Penderecki, Mahler, Ligeti, Cage, a neblina que envolve o ambiente -- um céu cinzento, ameaçador, anunciando a tempestade que se aproxima -- tornam o filme carregado de mistério e antecipa os enigmáticos e estranhos acontecimentos que ocorrerão na ilha.

O filme não pode ser analisado em profundidade sem revelações que estragariam imperdoavelmente a assistência pelo espectador.

No filme estão presentes realidade concreta ao lado de flashbacks, visões, sonhos, de forma que só torna possível ordená-los depois de assistir ao filme todo. A dificuldade de dar de imediato um sentido lógico aos acontecimentos que vão sendo narrados decorre do fato de recebermos pistas que ora nos parecem falsas, ora nos parecem verdadeiras e levam o próprio Teddy a suspeitar de que nem tudo é o que parece ser. Tal dificuldade decorre do enorme número de perguntas que o filme sugere. Eis algumas: já que parece não haver maneira de alguém sair da ilha com vida, por que destacar dois agentes não familiarizados com o local para resgatar uma fugitiva? Quais os mecanismos psicológicos que fazem Teddy associar mentalmente os métodos de tratamento na prisão aos acontecimentos traumáticos ocorridos em sua vida, como o incêndio que matou Dolores, a execução dos guardas na libertação do campo de concentração nazista de Dachau, os corpos dos mortos em massa naquele campo? Por que Rachel e uma de suas três filhas estão entre esses mortos? O que estão escondendo o diretor do presídio e seu colega alemão Dr. Naehring que joga xadrez? (O ator é o sueco Max von Sydow, que no filme “O sétimo selo”, de Ingmar Bergman, joga xadrez com a morte); será ele um daqueles médicos que faziam experiências “científicas” com cobaias humanas no campo de Auschwitz? Teria Teddy encontrado um campo de experiências similares aos nazistas? Existe uma conspiração pavorosa no presídio? Os que o dirigem são loucos ou sãos? Quem é confiável? Quem são os presidiários e quem são funcionários? Por que o Dr. Naehring e o diretor não cooperam totalmente com a investigação de Teddy e Chuck. E várias outras.

Caro leitor, o que escrevemos acima pode desanimá-lo de assistir ao filme, por achar que é “muito difícil”. Mas não é assim: é um filme de suspense que mantém o espectador atento durante toda sua duração, que tem ótima direção, bons atores, boa música e, sobretudo, uma boa história.

Na próxima semana escreverei sobre “Muito amor pra dar” (também chamado “As duas vidas de Fernando”).

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.

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