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Jogos digitais: de terror dos pais a profissão em alta

Artigo escrito por Thífani Postali e Tadeu Rodrigues Iuama

28 de Maio de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Thífani Postali e Tadeu Rodrigues Iuama.
Thífani Postali e Tadeu Rodrigues Iuama. (Crédito: Divulgação)

Estudar jogos é algo que ainda levanta várias questões, sobretudo para os pais. Seus filhos gostam de jogar e pensam em fazer disso uma carreira? Como funciona esse mundo? Esperamos que nosso texto traga algumas respostas.

Em primeiro lugar: o que é uma graduação em jogos digitais? É uma formação de ensino superior na qual o estudante aprende a desenvolver jogos. Envolve disciplinas de programação, de design gráfico e de roteirização. Isso cria um profissional versátil, capaz de atuar no desenvolvimento de aplicativos em geral e na produção gráfica, além de estudar disciplinas que lhe ensinam a viabilizar mercadologicamente seus produtos. Esse campo de estudos (geralmente chamado de design de jogos, ou game design) se insere numa ciência mais ampla, a ludologia (ou game studies), que pesquisa os aspectos psicológicos, sociais, comunicacionais e filosóficos dos jogos.

É ir para a faculdade para ficar jogando? Sim e não. Assim como um escritor deve ler, um designer de jogos precisa jogar, para desenvolver repertório, olhar crítico e capacidade analítica. Mas, além disso, é preciso estudar muito - como em qualquer outra graduação.

Mas isso tem futuro? Bem, o mercado de jogos é um gigante mundial, representando uma das maiores taxas de expansão da atualidade. Somados à indústria cinematográfica e à musical, ainda não se chega no faturamento anual da indústria dos games. No Brasil, movimenta mais de 1 bilhão de dólares por ano; 73,4% dos brasileiros têm o hábito de jogar algum tipo de jogo -- um crescimento de 7,1% em relação ao ano anterior --, e a maioria considera que esta é sua principal forma de entretenimento (Dados da Pesquisa Game Brasil 2020).

E meu filho vai trabalhar onde? Existem diversas opções. As gigantes estrangeiras oferecem algumas vagas para o mercado brasileiro. No próprio Brasil, existem 375 empresas de jogos (Dados do Censo da Indústria Brasileira de Jogos Digitais 2018). Além disso, existe o aquecido mercado das produções independentes, muitas vezes realizadas por estudantes recém-formados.

Mas isso aí não é coisa de criança? Não só, e nem principalmente: 34,7% dos jogadores têm entre 25 e 34 anos. É só para menino, né? Não mais. O mercado brasileiro é composto por 53,8% de mulheres (Dados da Pesquisa Game Brasil 2020).

Ficar jogando o tempo inteiro não é ruim? Sim, como qualquer outra coisa em excesso. Mas os estudos dos jogos têm contribuído para descobrir benefícios psicológicos, sociais, cognitivos, motores e pedagógicos, para citar alguns. Estudar os jogos tem ajudado a aprender mais sobre política, sobre economia, e até a salvar nossas vidas -- a exemplo do estudo feito com um incidente ocorrido no jogo World of Warcraft, que forneceu dados importantes sobre comportamento dos indivíduos durante epidemias, modelo também usado para entender a disseminação dos vírus na pandemia que enfrentamos atualmente.

A área de jogos digitais, portanto, já é gigante. O mundo está buscando soluções para que as atividades humanas se tornem cada vez menos cansativas e a ciência dos jogos digitais também envolve a gamificação, que é o uso de elementos de jogos aplicados em atividades que não são jogos, para deixar a experiência mais significativa -- da educação ao ambiente de trabalho. A área da publicidade já há um tempo utiliza jogos para aumentar a experiência do consumidor. Inclusive, grandes marcas contratam game designers para desenvolver jogos para a promoção de suas imagens.

Se no início do século passado sentimos insegurança com o cinema, pois se problematizava a sua influência e potencialidade como mercado, hoje, o mesmo ocorre com a área de jogos digitais. No entanto, as pesquisas apresentam um exponencial crescimento, sem previsão de queda. É uma indústria recente, sabemos, mas assim como o cinema, é uma nova mídia, e mídias não desaparecem, como nos apresenta a história da comunicação.

Thífani Postali é doutora em Multimeios pela Unicamp e mestra em Comunicação e Cultura pela Uniso. É professora da Uniso no curso de Jogos Digitais. Membro do grupo de pesquisa MiLu. Contato: www.thifanipostali.com

Tadeu Rodrigues Iuama é doutor em Comunicação pela Unip e pós-doutorando pela Uniso. É professor da Belas Artes. Membro do grupo de pesquisa MiLu. Contato: [email protected]