Haia: uma capital em constante transformação
Artigo escrito por Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro
Os Países Baixos são lembrados constantemente por suas atrações turísticas em Amsterdã, suas políticas liberais adotadas ainda nos anos 70, como descriminalização da maconha e do haxixe, legalização do aborto, entre outras medidas. No entanto, a capital do país, Haia, onde se encontram as instituições políticas, as embaixadas, as organizações internacionais e os tribunais internacionais, é de fundamental importância para a política internacional.
País de Hugo Grotius (1583 - 1645), fundador do Direito Internacional, essencial na política europeia no sistema dos Estados de Westfália após 1648, e jurista da República dos Países Baixos. A sua obra “Direito da guerra e da paz” -- em neerlandês Recht van Oorlog en Vrede -- exerceu grande influência nos séculos 17 e 18. Haia é a capital sede de vários organismos internacionais, como a Corte Internacional de Justiça, o judiciário da Organização das Nações Unidas (ONU) e o Tribunal Penal Internacional, importante tribunal permanente no Direito Penal Internacional. Entre as organizações internacionais vale destacar a Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ), ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 2013.
Na condição de uma capital que per se já reúne uma série de credenciais para a visita de turistas, profissionais e estudantes, a reforma do parlamento neerlandês, conhecido como Het Binnenhof suscita novos debates. Em realidade, trata-se de uma profunda reforma que restaurará tanto o Binnenhof como o entorno, e o belo canal que o contorna. O Binnenhof é emblemático, uma verdadeira simbolização da democracia em um Estado que adota a monarquia constitucional.
A sua própria construção, além de ser em uma localização central em Haia, possibilita que os cidadãos caminhem pelo pátio do parlamento, e também pode ser um trajeto de passagem em bicicleta. Isso demonstra transparência, pois o cidadão pode acompanhar a sua classe política de perto, sendo possível acompanhar o seu dia a dia, e de certa forma, emitir um juízo de valor com base em critérios mais fidedignos. A classe política, por sua vez, assume uma maior responsabilidade com a administração pública, pois está constantemente encontrando a população. Diante do constrangimento que tanta proximidade pode gerar, as demandas dos cidadãos são avaliadas e respeitadas.
O fato de ser um costume a classe política se deslocar em bicicleta até o seu trabalho também demonstra um elevado senso de responsabilidade em economizar combustível e demais ônus ao Estado. Essa é uma maneira de os políticos neerlandeses darem um exemplo para o contribuinte de que o seu dinheiro não é desperdiçado, havendo preocupação com o meio ambiente e a saúde coletiva, porque uma população com hábitos mais saudáveis também contribui para menores gastos públicos.
A previsão da restauração é de cinco anos e meio de duração. Transformará o parlamento em um grande canteiro de obras, mas como uma capital em constante transformação na busca por modernizar e, ao mesmo tempo, preservar o seu patrimônio histórico, essa não é a primeira e nem será a última grande obra em Haia. Não obstante empresários e moradores se preocupem com as inconveniências da obra e possível queda na renda -- por ser uma importante atração turística --, o lado de fora conhecido como Hofgracht se tornará ainda mais atrativo e seguro pois é uma construção do século 19.
Mesmo durante a obra, as visitas turísticas não serão interrompidas. Há projetos para que os turistas possam visualizar a obra. Entre outros aspectos, o projeto prevê mais áreas verdes, ventilação adequada e medidas aprimoradas contra incêndio. Embora hajam discussões políticas sobre a restauração, a obra corrobora o grande projeto de capital do Direito e da paz. Os aproximadamente 200 organismos internacionais e a preocupação com o Direito e a paz no mundo digital demonstram estratégia para o futuro.
Dra. Carmela Marcuzzo do Canto Cavalheiro é professora na Universidade Federal do Pampa (Unipampa), câmpus Santana do Livramento (RS), área de Direito Internacional é doutora pela Universidade de Leiden/Países Baixos.