Os frutos do amor
Artigo escrito por Vanderlei Testa
Um dos livros que gosto de reler é o “Colhendo os frutos do amor”. Editado pela Nova Bandeira e produzido com depoimentos de casais integrantes do Movimento das Equipes de Nossa Senhora, a obra é um bálsamo de pureza. Há um provérbio hassídico (judáico) que diz “somente para os ingênuos a velhice é inverno. Para os sábios, é o tempo da colheita”. Fico imaginando quantas histórias há nas dezenas de pessoas já abrigadas com amor na Vila dos Velhinhos de Sorocaba. O jornal Cruzeiro do Sul publica em suas edições apelos à população para conhecer e colaborar com essa obra fundada em 1934. Um abrigo de idosos digno de respeito e admiração que é abençoado na sua missão maior de acolhimento humano. Há uma frase de um jornalista americano Whit Hobbs: “Sucesso é acordar de manhã -- não importa quem você seja, onde você esteja, se é velho ou se é jovem -- e sair da cama porque existem coisas importantes que você adora fazer, nas quais você acredita, e em que você é bom. Algo que é maior que você, que você quase não aguenta esperar para fazer hoje”.
Vale refletir sobre esse pensamento a cada dia, pois motiva a nossa missão humana, em especial nesta pandemia, quando o medo trava as atitudes do sair de si mesmo à busca do nosso próximo. O caso da Vila dos Velhinhos é um exemplo prático em que podemos agir de imediato, participando da campanha de fraldas G e GG. A entrega é na rua Dr. Luiz Mendes de Almeida, 380, sede da Vila. Já as histórias dos frutos do amor servem para quem está na semeadura das sementes da convivência a dois ou para aqueles que vivem na estação outono da sua vida conjugal. Diz uma passagem bíblica do livro do Eclesiástico capítulo 3, que debaixo do céu existem momentos para tudo. E tempo certo para cada coisa. O tempo de plantar, de regar e de colher.
Em 1968 conheci o casal de namorados Eleni e Ronaldo Antunes Ferreira. Há 53 anos. Ronaldo já era conhecido no bairro Além Ponte, onde os seus pais mantinham um comércio na rua Cel. Nogueira Padilha. Nas conversas diárias em nosso grupo de estudos na faculdade, pude entender o sentimento que atraia o Ronaldo até a sua eterna paixão. Quantas vezes ele se dirigia até a cidade de Salto de Pirapora para ser recebido na casa da Eleni. Com 21 anos de idade já pensava seriamente em ficar noivo e casar. Um amor à primeira vista. Descendente de pais portugueses, Ronaldo, falava que bastou conhecer a mocinha professora para sentir dentro de si que ali estava a companheira de toda a sua vida. O namoro daqueles tempos não tinha nada a ver com os atuais relacionamentos. Primeiro, precisava pedir ao pai da moça que autorizasse o namoro. Depois, se aprovado, havia dias e horários certos para o casal estar junto. E sempre com a companhia de um irmão ou irmã da pretendente. Foi interessante acompanhar esse casal até hoje, em seus mais de 50 anos de relacionamento que gerou três filhos, netos e bisnetos. Numa cerimônia deslumbrante eles se casaram no dia 14 de julho de 1973, logo após a formatura do Ronaldo. A lua de mel foi na cidade do Rio de Janeiro.
A timidez e delicadeza da noiva eram supridas pelo sorriso e alegria dos amigos, envolvendo a todos. Era irresistível esse amor, dizia o Ronaldo. Na saúde e na doença sempre seremos unidos na fidelidade do nosso compromisso conjugal. Eles iniciavam assim no esforço comum de marido e mulher a superar as barreiras de suas diferenças pessoais. Os frutos do amor vieram com os filhos Geanpaolo, Fabiano e Juliana.
Posteriormente à sua colação de grau, o Ronaldo foi trabalhar com os pais e irmãos e, a Eleni, como professora, seguiu sua nobre missão de educadora. Um apartamento no andar superior do “Armazém dos Rosas” ficou como o novo lar do casal de amigos. Ronaldo sempre teve inspiração divina para ajudar pessoas necessitadas. Através do Rotary Clube Sorocaba Leste, Ronaldo deu de si antes de pensar em si. Ele foi o meu padrinho nesse clube de serviços. Assumiu várias entidades filantrópicas em Sorocaba. Entre elas, como diretor da Vila dos Velhinhos. Ronaldo sempre teve ligação afetiva com esse trabalho social.
Na nossa turma da Faculdade de Administração de Empresas, um dos integrantes é o Rubens Fusco. Ele nasceu na Vila Hortência e foi educado no Grupo Escolar Senador Vergueiro, na minha turma do curso primário. Fusco quando jovem foi trabalhar na Indústria Votorantim, área de cimentos, em Sorocaba. Até hoje, passadas décadas de convivência, temos uma amizade que vem dos bancos escolares na infância. Rubens Fusco um dia decidiu morar em São Paulo, para trabalhar na Santa Casa de Misericórdia. O quase paulistano Fusco conheceu a sua amada Leosina (Léia) em janeiro de 1975.
Começaram a namorar e, em poucos meses, em janeiro de 1977, estavam no altar da Igreja Nossa Senhora da Pompéia, na capital. O padre Clemente presidiu a cerimônia, com a presença dos padrinhos Eleni e Ronaldo. O mesmo sacerdote, tempos depois, dava as bênçãos no batizado do primeiro filho, Carlos Roberto, apadrinhado de Sonia e João Batista Ribeiro, também da turma da faculdade. A Kelly Roberta é a segunda filha do casal Léia e Fusco. Os 46 anos de namoro e 44 anos de casados, mantidos com fé e amor são inspirados na frase de Mario Vargas Llosa “O passado é o nosso presente”. São exemplos, como Eleni e Ronaldo e Léia e Rubens que casais testemunham na esperança e sabedoria o que um amigo sacerdote redentorista Flávio Cavalca de Castro afirmou: “Feliz quem mostra e testemunha o caminho de amor para os quais Deus os chamou”.
Vanderlei Testa é jornalista e publicitário. Escreve às terças-feiras no Jornal Cruzeiro do Sul. E-mail: [email protected]