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Louise Michel nos 150 anos de um governo operário

Artigo escrito por Paulo Celso da Silva

15 de Maio de 2021 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Paulo Celso da Silva.
Paulo Celso da Silva. (Crédito: Divulgação)

 

Em março de 1871, a Comuna de Paris foi instituída para defender a cidade como resistência aos exércitos da Prússia. De maneira resumida, o processo que antecede a Comuna incluía que, após a queda de “Luís Filipe d’Orleans, quem assumiria a presidência da Segunda República Francesa seria Luis Bonaparte, que, por meio de um golpe de Estado, se autoproclama imperador da França como Napoleão III, decretando guerra à Prússia. Melhores preparados, os prussianos venceram e aprisionaram o imperador. Com isso, é decretada a terceira República Francesa, com um governo provisório presidido por Louis Adolphe Thiers.

O governo provisório de Thiers era favorável à rendição e iniciou a entrega das armas e do exército. Entretanto, os operários e alguns pequenos burgueses que formavam a Guarda Nacional se rebelaram e tomaram a prefeitura, expulsando Thiers, iniciando a independência política de Paris e a eleição e declaração da Comuna. Era o final de março de 1871.

Para formar o Governo Revolucionário, é criada a Federação de Representantes de Bairros, da qual se originou um Comitê da Federação de Representantes de Bairros. Considera-se que, na gestão da Comuna de Paris, mais reformas sociais foram implantadas do que nos governos dos duzentos anos anteriores.

Entre as reformas, citamos: instituiu-se a igualdade entre os sexos; o salário dos professores foi duplicado; a educação se tornou gratuita, laica e compulsória. Escolas noturnas foram criadas e todas de frequência mista; todos os descontos em salário foram abolidos; a jornada de trabalho foi reduzida, e chegou-se a propor a jornada de oito horas; os sindicatos foram legalizados; os artistas passaram a autogestionar os teatros e editoras.” (Wikipedia)

Das várias personagens que lutaram em defesa da cidade e instituíram a Comuna, estava Louise Michel (1830 - 1905), professora primária, a heroína da primeira democracia na Europa, como define a tradutora italiana Chiara Fortebraccio Di Domenico para a obra de Louise, “La Comune” (Edizioni Clichy, 2021, https://edizioniclichy.it/libro/la-comune). “Neste ano de mudança, olhar para trás significa, para mim, ir a 150 anos atrás, para uma mulher especial, a nove semanas de coragem, luta, sangue e liberdade, à Comuna. Louise Michel me ensinou a ficar longe de choramingar, a amar todos os companheiros na luta, do menor ao mais velho, desde que armados de coragem e de coração puro. Ele me lembrou o quanto é importante ter consciência e amor ao seu lado, como eles estão longe do poder que suja todo ideal”.

A Comuna é considera a “genitora das rebeliões”, e o livro que Louise escreve “é uma crônica ardente que narra os dias e as noites que viram a rua tomar o poder, as barricadas subirem e descerem sob os fuzis, milhares de mulheres e crianças lutando ao lado dos homens. Uma história coral de sangue, coragem e paixão, tão emocionante como um romance e tão verdadeira quanto a história. Dedicado a quem ainda não parou de lutar”, completa Chiara Fortebraccio Di Domenico.

O governo de Thiers aceita o acordo de paz com a Prússia e declara guerra à Comuna em abril, vencendo. Milhares de pessoas morreram e foram torturadas na França pela polícia e exércitos do governo. A matança parou de medo de uma epidemia pela quantidade de cadáveres. Em seu julgamento Louise declara: “Não me agrade, porque se eu recuperasse minha liberdade um dia, seria para vingar as vítimas que você sacrificou”. (Louise Michel antes do Conselho de Guerra do Governo da França, 1871).

Paulo Celso da Silva é professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Cultura da Uniso. E-mail: [email protected]