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Filmes da Netflix: ‘American son’

Artigo escrito por Nildo Benedetti

14 de Maio de 2021 às 00:01
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A vida de Kendra (Kerry Washington) gira em torno da segregação racial.
A vida de Kendra (Kerry Washington) gira em torno da segregação racial. (Crédito: DIVULGAÇÃO)

Este filme de 2019, dirigido pelo norte-americano Kenny Leon, é baseado na peça teatral do mesmo nome de Christopher Demos-Brown. Trata de vários temas, como o de relacionamento de casais, situações familiares, violência policial, perigos da adolescência etc., mas que são subsidiários de um tema central, o da segregação racial. Tudo gira em torno dessa questão sensível e atual, que é desafiadora em todos os países do mundo, em menor ou maior intensidade. No filme é abordada a segregação racial contra os negros dos Estados Unidos.

A origem e o desenvolvimento do racismo e as formas de combatê-lo ao longo da História são o resultado do entrelaçamento de aspectos éticos, sociais, econômicos, religiosos e tentativas científicas de justificá-lo. O racismo nos Estados Unidos e Brasil é tão arraigado que parece ser impossível vislumbrar uma solução plausível de curto ou médio prazo para o problema. Essa dificuldade é agravada pelo recrudescimento do nazi-fascismo das últimas três décadas, que é doutrina política de ódio por excelência. O filme abre com uma frase do ativista Ta-Nehisi Coates: “A raça é cria do racismo, e não pai.” É uma afirmação que encerra evidente sabedoria, ao afirmar que é o racismo, como doutrina de ódio, agrega às etnias características para justificar o próprio ódio.

O filme tem quatro personagens e sobre eles discorrerei a seguir.

Paul é oficial de plantão branco, inexperiente que, de maneira um tanto desajeitada, sem saber como agir, tenta ajudar a desesperada e agressiva Kendra e, ao mesmo tempo, lhe faz perguntas rotineiras decoradas que ela entende como ofensas pessoais por ser afrodescendente.

Kendra vive o drama de milhares mulheres negras que passam por situações similares nas delegacias do mundo todo em que seus parentes são submetidos à brutalidade policial. Descarrega sobre o encurralado Paul uma avalanche de insultos como forma de reação pelos preconceitos raciais que deve ter sofrido ao longo da vida. Para agravar sua agressividade, depara com dois bebedouros na delegacia, um que no passado havia sido destinado a brancos e outro destinado a negros. Fica sabendo que Paul era pai de duas crianças brancas e, por isso, ele não pode entender o que seja o racismo.

Chega Scott, o terceiro personagem, agente do FBI, marido de Kendra e pai do jovem desaparecido. Scott e a mulher estão separados e ele agora mantém uma relação com uma branca, o que agrava a fúria de Kendra. A propósito, todas as palavras e atitudes de Kendra giram em torno de racismo e os problemas pessoais do casal que vêm à tona na delegacia não são exceção. Ela vê racismo em tudo e, sem qualquer predisposição de mudar sua visão, parece que construiu e continua a construir um mundo em que tudo é determinado pela condição étnica.

O quarto personagem é o tenente Stokes, chefe de Paul. É um homem de meia idade, afrodescendente como Kendra, que afirma ter sofrido na carne o preconceito racial, mas que se adaptou a viver numa sociedade de racismo secular. Tem uma visão diferente de Kendra no que diz respeito à questão racial, o que a leva a insinuar que ele mesmo seja um racista.

Na próxima semana escreverei sobre “M8 -- quando a morte socorre a vida”.

Esta série de artigos está incluída no projeto Cine Reflexão da Fundec.

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