Crônicas sorocabanas
O caso Elisa
Artigo escrito por João Alvarenga
A sorocabana Elisa de Oliveira Flemer, de 17 anos, conseguiu um feito curioso: passou em 5º lugar em Engenharia, na USP, mas vive um impasse, está impedida, legalmente, de frequentar a almejada faculdade. Por quê? A resposta é burocrática: a jovem não frequentou o ensino médio regular, ou seja, passou longe do ensino oficial, assim, não tem um diploma que comprove a eficácia de seus conhecimentos.
Na verdade, a jovem optou por estudar em casa, sozinha, todas as matérias do ensino médio, além de treinar produção textual, pois isso conta muito na Fuvest. Mas, antes que abraçasse tal iniciativa, fui seu professor de Redação, no Politécnico (no 9º ano, o Fund2) e, já naquela época, seus textos prometiam altos voos.
Ocorre que o homeschooling ou “ensino doméstico”, ainda não foi regulamentado, no Brasil; por isso, há um impedimento jurídico que tolhe o acesso de alunos ao ensino universitário, sem que tenha passado por todas as etapas até chegar à universidade.
Enquanto a família tenta reverter tal situação, sobram ofertas de emprego e convite para estudar nos EUA. O caso repercutiu na mídia; mas, não é um fato isolado: cinco mil famílias aguardam uma deliberação do STF sobre essa matéria. Por hora, aos olhos da lei, tal prática é ilegal, pois não há legislação específica, embora essa prática seja recorrente em outros países.
Por aqui, tal iniciativa motiva discussões acaloradas, pois há quem entenda que esse modelo prejudica o desenvolvimento interpessoal das crianças; outros vislumbram uma forma de proteger seus filhos de ameaças externas, principalmente em tempos de pandemia. Porém, isso não significa que todos os alunos se adaptam, naturalmente, a tal sistema, pois exige o dobro de dedicação, além disso, cada um tem seu ritmo próprio de aprendizagem.
Para concluir, é curioso que esse fato se dê exatamente no centenário de nascimento do educador Paulo Freire, que pregava uma “pedagogia libertária”, em que os alunos pudessem caminhas com suas próprias pernas.
Foi o que Elisa fez.
João Alvarenga é professor de redação e cronista.